Dia a dia
Sociedade de Infectologia recomenda abandonar uso da cloroquina do tratamento da covid-19
A manifestação da entidade ocorreu depois que mais dois estudos foram publicados nesta semana atestando que o medicamento não tem eficácia nos primeiros dias de sintoma

Ministério da Saúde orienta Fiocruz a recomendar a cloroquina. Foto: ES360
A Sociedade Brasileira de Infectologia emitiu um informativo nesta sexta-feira (17) recomendando que o uso da hidroxicloroquina seja abandonado em todas as etapas do tratamento contra a covid-19.
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A manifestação da entidade médica, assinada pelo presidente da entidade, Clóvis Arns da Cunha, ocorreu depois que mais dois estudos foram publicados nesta semana atestando que o medicamento não tem eficácia nos primeiros dias de sintoma. Como em outras fases da doença outros estudos já haviam mostrado que o remédio não tinha efeito, a Sociedade de Infectologia pediu para que municípios, estados e o Ministério da Saúde reavaliem suas orientações de tratamento, “não gastando dinheiro público em tratamentos que são comprovadamente ineficazes e que podem causar efeitos colaterais”.
Além disso, solicitaram que o recurso público seja usado em medicamentos que comprovadamente eficazes e seguros para pacientes com covid-19 e que estão em falta, tais como anestésicos para intubação orotraqueal de pacientes que precisam ser submetidos à ventilação mecânica, bloqueadores neuromusculares para pacientes que estão em ventilação mecânica, aparelhos, testes e leitos de UTI.
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No Espírito Santo, muitas prefeituras incluíram a hidroxicloroquina no protocolo de tratamento precoce da doença. Em Vitória, o medicamento estava sendo receitado por consultas por telefone. Outros municípios incluíam um medicamento num kit contra a covid, incluindo ivermectina e outros. O presidente Jair Bolsonaro que teve a doença confirmada no início do mês também disse estar usando o medicamento de forma precoce, mesmo que não tenha comprovação científica.
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Estudos
Segundo a Sociedade de Infectologia, os dois estudos que avaliaram o tratamento precoce da doença foram publicados na quinta-feira (16). Um deles avaliou pacientes com covid-19 em 40 estados americanos e 3 províncias do Canadá. O grupo que recebeu hidroxicloroquina, em comparação aos pacientes que receberam placebo (preparação neutra sem efeitos farmacológicos), não teve nenhum benefício clínico: não houve redução na duração dos sintomas, nem de hospitalização, nem impacto na mortalidade. Mais da metade dos pacientes receberam cloroquina em 1 dia do início dos sintomas. Em 43% dos pacientes que receberam o medicamento, eventos adversos foram observados, destacando-se efeitos gastrointestinais como dor abdominal, diarreia e vômitos.
O outro estudo foi conduzido na Espanha e avaliou a eficácia virológica (redução da carga viral na nasofaringe) e clínica (redução da duração dos sintomas e hospitalização). Nenhum benefício virológico, nem clínico foi observado nos pacientes que receberam a hidroxicloroquina, em comparação ao grupo que não recebeu nenhum tratamento farmacológico (grupo placebo).
