Dia a dia
Problemas familiares lideram o perfil dos cidadãos em situação de rua da Grande Vitória
Pesquisa do Instituto Jones Santos Neves ouviu mais de 380 pessoas. Mais de 50% estão há mais de dois anos longe de casa

Desemprego e problemas familiares têm levado cada vez mais pessoas a viver em situação de rua. Foto: Chico Guedes
Há 18 anos, os problemas familiares e a falta de emprego levaram o ajudante de pedreiro Levi Luciano da Silva, 32 anos, para as ruas de Vitória, onde vive até hoje. As refeições diárias são feitas graças às doações de moradores e comerciantes. “Perdi meu trabalho, perdi tudo. Quando consigo, faço uns ‘bicos’ para ganhar um dinheiro”, conta Levi, que há dois anos e meio tem como companheira uma vira-lata que adotou nas ruas, chamada carinhosamente de Belinha.
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Os personagens mudam, mas a história se repete. O novo perfil de moradores em situação de rua na Grande Vitória foi constatado em pesquisa feita pelo IJSN (Instituto Jones Santos Neves). Dos 385 entrevistados, o levantamento aponta que 29,6% foram viver nas ruas após problemas familiares, outros 17,3% pelo uso de drogas ilícitas e em terceira posição estão aqueles que foram levados por não conseguirem se recolocar no mercado de trabalho após a demissão.
Outro cenário que volta a ser percebido nas ruas é o aumento do número de crianças pedintes, segundo um dos apoiadores do Movimento de Moradores em Situação de Rua Wesley Zinek, conhecido como Mindu. “Sem renda, muitas vezes, famílias inteiras se veem obrigadas a deixarem suas casas e viverem em situação de rua. Pedir é a única saída”.
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Em meio ao trabalho de distribuição de alimentos para essas pessoas, o voluntário Kelvin Amaral, 25, afirma que não faltam relatos surpreendentes. “São vários fatores que levam à essa situação. Em uma abordagem que fizemos, encontramos um homem que havia tido uma decepção no casamento por causa de uma traição e acabou indo viver nas ruas”, lembra ele, que distribui café da manhã, junto com outros voluntários, aos domingos no Centro de Vitória.
Serviços auxiliam população
Para auxiliar os moradores em situação de rua, municípios e voluntários oferecem alguns serviços. Os voluntários do GAP (Grupo Ajude o Próximo) servem café da manhã para cerca de 150 pessoas em frente a Catedral de Vitória aos domingos.
Além da refeição semanal oferecida aos sábados, a Pastoral do Povo de Rua da Igreja São Francisco, na capital, realiza oficinas profissionalizantes para essas pessoas. Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha informaram que possuem serviços especializado em abordagem social e possuem estruturas para acolher pessoas em situação de rua. Atualmente, segundo as prefeituras, há 290 moradores em situação de rua em Vitória, 129 em Cariacica, 120 na Serra e 130 em Vila Velha.
E não é apenas o poder público que busca ajudar essas pessoas. Uma rede de solidariedade tenta aquecer, alimentar e ouvir as histórias de quem vive nas ruas da Grande Vitória. Em uma bicicleta cargueira, o voluntário Luiz Felipe Xavier, 22, distribui cerca de 100 refeições de duas a três vezes por semana na capital.
“Dei início a esse trabalho em 2015. De lá pra cá notei o aumento no número de moradores nesta situação. Nesses últimos anos, ouvi muitas histórias. Muitos deles já conheço pelo nome. E nessas andanças, ainda vejo muitos rostos diferentes, o que me faz acreditar que essa situação só cresce. O ão de comida que carrego comigo sai cheio e volta vazio. Atualmente está faltando comida e sobrando pessoas”.
Esse também é o cenário percebido pelo coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Igreja São Francisco, Erly Vieira, 67, que afirma que a cada almoço servido aos sábados, rostos novos são vistos e histórias comoventes são contadas.
