Dia a dia
Por que a chuva não é a única culpada pelas enchentes
Para especialista, população que vive à beira de córregos, rios e canais deveria ser retirada definitivamente desses locais

Com a chuva intensa, casa em Eldorado, na Serra, desabou. Foto: Chico Guedes/Metro es
Quatro mortes, mais de 1,8 mil pessoas fora de suas casas, bairros alagados e trechos de rodovias interditados. Esses foram alguns dos impactos causados pela chuva que atingiu o estado nos últimos dias. Novembro foi considerado pelos meteorologistas como o mês mais chuvoso, desde dezembro de 2013. E a expectativa é de que, em dezembro, novas frentes frias em pelo Espírito Santo trazendo mais chuva forte e volumosa sobre várias regiões.
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E apesar das previsões não serem animadoras, já que não teremos longos períodos de seca no estado nas próximas três semanas, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a chuva pode não ser a única culpada pelos alagamentos e prejuízos. A ocupação desordenada do solo, o descarte irregular de lixo, a falta de obras estruturais, a geografia de algumas cidades e a redução das áreas verdes também influenciam diretamente os estragos causados pelas condições do tempo.
Segundo o especialista ouvido pelo Metro Jornal, os problemas podem e devem ser evitados. “A chuva é um dos fatores, mas não é o único que gera alagamentos. As cidades precisam estar preparadas pois, periodicamente, é normal ter episódios de chuvas fortes”, explica Antônio Sérgio Ferreira Mendonça, professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Ufes.
De acordo com Mendonça, que é pós-doutor em Engenharia de Recursos Hídricos, a solução não inclui apenas ações imediatas, como a limpeza de córregos e galerias na época das chuvas, mas de medidas mais rígidas, como a retirada da população que vive à beira de córregos, rios e canais.
“Outra medida importante é a manutenção constante das estações de bombeamento da água da chuva”, explica.
Obras em andamento
O governo do estado planeja destinar, até o próximo ano, R$ 345 milhões para obras de macrodrenagem em Vila Velha, Viana, Cariacica e Colatina.
De acordo com a Sedurb (Secretaria de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano), as intervenções já começaram em Vila Velha, com a limpeza do canal da Cesan e do rio Marinho, que estão sendo executadas pelo DER.
A previsão é de que os recursos, reados em parceria com a União, sejam usados para a construção de 10 estações de bombeamento, um dique para separar o canal do Rio Marinho e o canal Marilândia, além de ações de limpeza e desassoreamento dos valões do município.
Ainda de acordo com a Sedurb, a previsão é de que todos os trabalhos sejam concluídos até dezembro de 2020.
Fatores que contribuem para os alagamentos:
• Ocupação irregular. A ocupação irregular das áreas urbanas, gerada pela construção de casas e prédios sem sistemas adequados de drenagem da água da chuva, somada à impermeabilização do solo, faz com que a água da chuva não tenha para onde escoar. Assim, quando o volume de chuva é alto, as estações de bombeamento não dão conta de escoar toda a água.
• Descarte de lixo. O descarte de lixo e resíduos sólidos em locais inadequados, a ausência de coleta regular de lixo e a falta de limpeza de valões e córregos, também contribuem para os alagamentos. Esses resíduos entopem bueiros, tornam as galerias de águas pluviais mais estreitas e pioram a situação de rios, córregos e canais.
• Falta de obra estrutural. Nem todos os municípios contam com estrutura para drenagem das águas da chuva. Muitas ruas não contam com drenagem e pavimentação, e vários bairros não têm macrodrenagem. As estações de bombeamento não são suficientes, canais e rios estão assoreados, e galerias sem manutenção.
• Geografia das cidades. Muitos bairros da Grande Vitória estão localizados no mesmo nível do mar. Isso ocorre em cidades como Vila Velha, Vitória e Serra. Por conta dessa localização geográfica, a água da chuva tem dificuldade de escoar, principalmente em épocas de maré alta.
• Erosão. O desmatamento das áreas de morros e encostas contribui para a erosão e aumenta o risco de deslizamentos de terra. A pavimentação de jardins, pátios, quintais e calçadas também geram alagamentos.
