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Estudo indica que minério se incorporou ao rio Doce após ruptura de barragem

Desenvolvida por professores da Ufes, a pesquisa comparou a concentração de traços de metais nos sedimentos do rio antes e após o desastre

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Rompimento de barragem no distrito de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana, em Minas Gerais. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

Rompimento de barragem em Mariana, no ano de 2015. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

 

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Um estudo publicado por professores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em parceria com pesquisadores de outras instituições, apontou que uma parte dos resíduos liberados na água após o rompimento da barragem de Fundão da Samarco, em Mariana (MG), há cinco anos, incorporou-se à areia do rio Doce. O estudo comparou a concentração de traços de metais nos sedimentos do rio antes e após o desastre.

O artigo foi publicado na revista Chemosphere e tem como autores vinculados à Ufes os pesquisadores Eduardo Duarte, Fabricia Benda, Marx Martins e Mirna Neves, do Departamento de Geologia, Diego Burak, do Departamento de Agronomia, e Marcos Orlando, do Departamento de Física.

Os dados obtidos no estudo indicaram que os rejeitos de minério de ferro provenientes da barragem introduziram cádmio nos sedimentos do rio e aumentaram a concentração do arsênico já existente, em função do movimento causado pela lama. “O intenso fluxo gerado pelo derramamento foi capaz de revolver os sedimentos que estavam alocados em camadas do fundo do rio, trazendo à superfície contaminantes anteriormente ‘enterrados’”, explica Mirna Neves. Essas toxinas podem se acumular em animais (como peixes) e afetar a cadeia alimentar, inclusive afetando humanos.

Sedimentos foram encontrados no rio Doce por pesquisadores da Ufes. Foto: Reprodução

Além disso, os rejeitos depositados ao longo do rio afetaram parâmetros físicos, pois podem formar crostas impermeáveis e, gradualmente, liberar metais tóxicos em razão de eventos climáticos ou de outras perturbações que alterem a dinâmica fluvial.

Segundo o mestrando Eduardo Duarte, a pesquisa é uma das primeiras a avaliar os impactos do rompimento na região capixaba. “Ela vem preencher essa lacuna, com informações a respeito dos teores de metais potencialmente perigosos, que são aqueles cuja concentração no ambiente possui um valor acima do permitido pela normativa ambiental brasileira”, explica.

O estudo também busca mostrar a comparação entre a concentração de metais que havia nos sedimentos do rio antes e após o desastre. “Começamos a estudar o rio Doce em 2013, coletando amostras. Quando houve o rompimento da barragem, decidimos coletar novamente nos mesmos pontos anteriores, para comparação”, explica a professora Fabrícia.

O rompimento da Barragem de Fundão é considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil, após ter liberado 50 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério de ferro no rio Doce. Esse volume é suficiente para cobrir uma área equivalente à ilha de Vitória com uma camada de aproximadamente 1,70 metro de lama.

Resposta

Procurada pela reportagem, a Fundação Renova, que é responsável pela recuperação dos danos do desastre, afirmou que irá analisar os resultados obtidos pela pesquisa, assim que tiver o aos dados. “A Fundação esclarece que realiza monitoramento sistemático da biodiversidade, do sedimento e da água e estão em andamento estudos específicos do pescado. Análises recentes têm apontado para a progressiva melhora das condições ambientais na região costeira após o rompimento”, disse em nota.

“O rejeito não é tóxico, contendo essencialmente elementos do solo (rico em ferro, manganês e alumínio), sílica (areia) e água. O sedimento foi caracterizado como não perigoso em todas as amostras, segundo critérios da Norma Brasileira de Classificação de Resíduos Sólidos”, afirmou.

No comunicado, a fundação também defendeu que os “metais decorrentes do rompimento da barragem de Fundação não representam risco à saúde humana”. “É o que constatou o Relatório de Consolidação dos Estudos de Avaliação de Riscos à Saúde Humana, conduzido em áreas rurais de Mariana e Barra Longa (MG) por empresas especializadas. Nas áreas pesquisadas, os metais presentes no rejeito não apresentam concentrações acima de valores de referência”.