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Corte de sonhos: estudantes lamentam o bloqueio das bolsas

Em todo o país, foram suspensas mais de 5,6 mil bolsas da Capes para a pós-graduação. A medida deve impactar a Ufes

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“Sem pesquisa, a gente não avança, o país não avança. Minha esperança depositada no ensino público, hoje, é muito pequena”, diz a estudante Ana Carolina. Foto: Chico Guedes

“Pesquisar era a minha profissão, e bolsa não é regalia, era o meu salário”. É com esse desabafo que a estudante do 8º período de Letras-Português da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), Ana Carolina Luz da Silva, 22 anos, descreve o impacto dos cortes de bolsas anunciado pela Ufes na última segunda-feira. Ao todo, 1,1 mil bolsas do PIB (Programa Integrado de Bolsas) foram suspensas pela instituição por falta de recursos. Alunos que perderam o benefício falam dos prejuízos para o desenvolvimento acadêmico e a importância do apoio financeiro.

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Ana Carolina conta que desde 2014, quando ainda era estudante do ensino médio integrado do Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo), pôde se dedicar à iniciação científica como bolsista. Na Ufes, pesquisava desde 2017, com bolsa de R$ 400 por mês. Seu último projeto analisava como a língua portuguesa muda, a ponto de surgirem novas palavras. No mês ado, ela teve o benefício para o período 2019-2020 renovado, mas agora, o recurso acabou.

“Estou no último período do curso e penso em fazer mestrado, mas sem nenhuma esperança de conseguir bolsa. Vai ser difícil seguir com esse plano, porque o Mestrado tem aulas à tarde, e é quase impossível conciliar um trabalho. Minha perspectiva com minha futura profissão hoje é zero”, lamenta.

Auxílio para estudar

Aluno do curso de Cinema e Audiovisual, Ygor Henrique Escobar Araújo, 23, recebia bolsa de R$ 400 vinculada ao Paepe I (Projetos Especiais de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão) para atuar no Laufes (Laboratório de Aprendizagem da Ufes), mas o edital para o período 2019-2020 foi suspenso. “Tive a oportunidade de aprender edição e filmagem de eventos”, conta.

Ygor é de Guarapari e também recebe auxílio-moradia e gratuidade no Restaurante Universitário. “Mesmo sendo pouco, o dinheiro me permitiu mudar para Vitória. Tinha tudo o que precisava para focar só na graduação”, diz. Agora, ele vai procurar estágios para conseguir terminar o curso morando na capital.

Perspectivas

A estudante Vitória Bordon, 21, veio do interior de São Paulo para cursar Publicidade na Ufes. Está no 6º período e, neste semestre, iniciava o segundo ano de iniciação científica com bolsa. Na pesquisa, analisava as novas configurações da publicidade infantil.

“Tive o projeto aprovado e, no primeiro pagamento, recebi a notícia de que a bolsa não seria mais paga. É triste para a pesquisa e desesperador para mim, porque essa bolsa, junto do meu estágio, era o que ajudava a me manter aqui. Agora, preciso pensar em como recuperar a perda financeira, mas não quero desistir da pesquisa. Penso que é o momento em que a universidade mais precisa dos alunos”, defende.

As bolsas do PIB incluíam o Paepe I e II (Projetos Especiais de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão), o PIAA (Programa Institucional de Apoio Acadêmico), o Pró-Ensino (Programa de Aprimoramento e Desenvolvimento do Ensino), o Pibid-Ufes (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência da Ufes); o PIBEx (Programa de Extensão) e o PIIC (Programa Institucional de Iniciação Científica).

Em todo o país, também foram suspensas mais de 5,6 mil bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior) para a pós-graduação. A medida deve impactar a Ufes, mas o montante de bolsas afetadas ainda não foi informado.

PESQUISAS PELO MUNDO

China

Desde 1990, o investimento da China em pesquisa e desenvolvimento vem aumentando em percentuais acima do crescimento econômico.
O país ou a ser referência em inovação nos últimos anos.

Um estudo da NSF (National Science Foundation) dos Estados Unidos apontou que a China, em 2016, era o país que mais produzia artigos científicos.

Em 10 anos, ou de 190 mil para 426 mil artigos publicados ao ano (125% a mais), enquanto o Brasil, em 2016, tinha apenas 53 mil artigos publicados (88% a mais que em 2006) e ocupava o 12º lugar.

Estados Unidos

Os Estados Unidos têm os maiores aportes em pesquisa e desenvolvimento do mundo, seguido da China. Ranking do Fórum Econômico Mundial, divulgado em 2018, aponta que os EUA investem.

US$ 476,5 bilhões anuais, enquanto a China investe US$ 370,6 bilhões.

Israel

Dados de 2013, publicados em 2016 pela Battelle, apontavam Israel como o país que mais investia em pesquisa e desenvolvimento proporcionalmente ao PIB (Produto Interno Bruto): 4,2% do total.

Coreia do Sul

O mesmo levantamento destaca a Coreia do Sul, que investia 3,6% do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, o país é uma das maiores economias do mundo e alcançou alguns dos melhores resultados internacionais em rankings educacionais.