Dia a dia
Caminhoneiros ‘estacionam’ em 14 pontos do ES; mobilização deve ter fim nesta 5ª
Ministério da Infraestrutura quer garantir o livre fluxo nas rodovias, com a tendência de fim das mobilizações, até à zero hora desta quinta-feira

Ponto de interdição no km 414 da BR-101 em Itapemirim. Foto: Leticia Orlandi
De acordo com o Ministério de Infraestrutura, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) atuou nesta quarta-feira (8), para desmobilizar bloqueios de estradas realizados por caminhoneiros em oito estados. A previsão, segundo nota da pasta, é garantir o livre fluxo nas rodovias, com a tendência de fim das mobilizações, até à zero hora desta quinta-feira (9). Os bloqueios começaram nesta quarta, 7, durante as manifestações do 7 de Setembro, convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
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Segundo o ministério, em nenhum ponto é registrado bloqueio total da pista. “A PRF encontra-se em todos os locais identificados e trabalha pela garantia do livre fluxo com a tendência de fim das mobilizações até a 0h do dia 09/09.”
No ES, 14 pontos de concentração
No Espírito Santo, os caminhoneiros se concentram em 14 pontos de parada ao longo das rodovias federais. Pela manhã eram 8 os trechos em que os caminhoneiros estavam parados ao lado das pistas.
Só na BR-101 são 10 os pontos dos manifestações, nos kms 137 (Linhares), km 181 (Aracruz), km 204 (João Neiva), km 214 (Ibiraçu), km 247 (Serra), km 306 (Viana), km 371 (Iconha), km 414 (Itapemirim), km 451 (Mimoso do Sul), segundo informações da Polícia Rodoviária Federal, às 18h.
Já na BR-262 são dois pontos: km 17 (Viana) e km 157 (Ibatiba). Caminhoneiros também estão parados na BR-447 em Capuaba, km 12, em Vila Velha e na BR-482, no km 75 em Alegre. Ainda resta confirmar um ponto na BR-482 no km 104 em Guaçuí.
Os caminhoneiros estão concentrados nas laterais das pistas e segundo a PRF não há interdições no fluxo de veículos.
Falta gasolina em postos no interior
A paralisação dos caminhoneiros em diversos pontos do Espírito Santo interferiu no abastecimento de postos de gasolina no interior. Segundo o Sindipostos, já há falta em alguns postos de cidade do interior. A entidade diz que tem conhecimento sobre as barreiras nas estradas mas não consegue dimensionar o impacto sobre o reabastecimento dos postos de combustíveis.
“Em situações normais de demanda, os estoques dos postos duram de dois a três dias. Caso os bloqueios permaneçam por mais dias, é possível que a falta de produtos se generalize. O Sindipostos conta com o bom senso dos manifestantes e com a ação do poder público para buscar uma solução”, diz o Sindipostos, por nota.
— PRF_ES (@PRF191ES) September 8, 2021
Protestos em outros sete estados
Além do Espírito Santo, são registrados pontos de concentração em rodovias federais com abordagem a veículos de cargas nos seguintes Estados: Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná, Maranhão e Rio Grande do Sul. O ministério informou ainda que os atos não são organizados por qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas e que a composição das mobilizações é heterogênea, “não se limitando a demandas ligadas à categoria”. A pasta disse ainda que não há previsão, no momento, de que os bloqueios nas rodovias afetem o abastecimento de produtos no país.
Risco de desabastecimento
No entanto, os bloqueios realizados pelos caminhoneiros já preocupa distribuidoras de combustíveis que temem o desabastecimento dos mercados. As empresas temem que faltem produtos como gasolina e óleo diesel nas próximas 12 horas desta quarta-feira. A situação mais crítica é em Santa Catarina e Mato Grosso, mas algumas cidades de outros estados já estão com fornecimento comprometido.
Esse medo também foi manifestado pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). Em nota de repúdio aos bloqueios, a entidade que representa transportadoras afirmou que as paralisações poderão causar sérios transtornos à atividade de transporte realizada pelas empresas, com graves consequências para o abastecimento de estabelecimentos de produção e comércio. A entidade reforçou que tais bloqueios e suas eventuais consequências para o abastecimento poderão atingir diretamente o consumidor final e o comércio de produtos de todas as naturezas, incluindo alimentos, medicamentos e combustíveis.
A NTC&Logística, que diz congregar cerca de 4.000 empresas de transporte associadas direta e indiretamente e mais de 50 entidades patronais, afirmou que a movimentação é de natureza política e está dissociada das bandeiras e reivindicações da categoria de caminhoneiros autônomos.
Um dos líderes do movimento intitulado de caminhoneiros patriotas, Francisco Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro, diz que entregará hoje um documento ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pedindo a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “O povo brasileiro não aguenta mais esse momento que País está atravessando através da forma impositiva que STF vem se posicionando. O povo brasileiro está aqui (Esplanada dos Ministérios) buscando solução e só vamos sair daqui com solução na mão”, disse Chicão, que preside União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), em vídeo que circula pelas redes sociais. Segundo ele, o documento também será entregue ao presidente Jair Bolsonaro. Em outro vídeo, Burgardt fala em um prazo de 24 horas para a resposta das autoridades ao pedido do movimento. Até o momento desta publicação, a reportagem não conseguiu contato com Burgardt.
A paralisação, contudo, não é uma decisão unânime da categoria. Entidades que representam caminhoneiros autônomos e que chamam mobilizações a favor de demandas específicas da categoria não aderiram aos atos. Na semana ada, representantes da categoria já consideravam que poderia haver a presença pontual de transportadores nos movimentos, mas de forma isolada, sem organização associativa.
A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens-SP), o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam-SP) e o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam) informaram que não apoiam a paralisação e não estão participando dos atos, assim como a NTC&Logística.
O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, avalia que o movimento é de cunho político com participação de empresários de transporte e seus funcionários celetistas, e não de transportadores autônomos. “Os caminhoneiros estão sendo usados como massa de manobra. Existe um movimento com interesse de empresas e do agronegócio atrás do financiamento desses atos. Está claro que a pauta não é da categoria”, disse Chorão. De acordo com ele, uma greve geral neste momento seria prejudicial às atividades dos autônomos. “Uma paralisação nesse momento tiraria vários transportadores do ramo e ainda em uma pauta política seria prejudicial à categoria. Muitos motoristas não conseguiriam parar 10 a 15 dias”, afirmou Chorão, que foi um dos principais líderes da categoria na greve de 2018.
O diretor da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, relatou ter visto alguns pontos de manifestações de caminhoneiros, “conforme era esperado” diante de manifestações do presidente Jair Bolsonaro. “Vimos veículos do agronegócio, como tratores e máquinas agrícolas, e a ala de patriotas apoiadores do presidente Bolsonaro. O transportador autônomo vai continuar tentando trabalhar”, disse Litti à reportagem. A CNTTL enviou recentemente um ofício ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, repudiando os atos “extremistas”, as declarações do cantor Sérgio Reis e de “pseudo lideranças” de caminhoneiros, dizendo que não compactua com nenhuma manifestação antidemocrática.
Com Estadão Conteúdo
