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Você tem menos de 60 anos? Sua vacina vai demorar…

Ministério da Saúde bateu martelo: a vacinação dos grupos prioritários só deve terminar entre agosto e setembro; e quem tem menos de 60 anos só começará a ser vacinado depois disso

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O acompanhamento da fila da vacinação baseada nas faixas etárias (de 70 a 74 anos, de 65 a 69 anos…) provocou uma contagem regressiva e a expectativa, em quem tem menos de 60 anos, de estar chegando o momento de receber sua dose de Coronavac ou de Astrazeneca. Bem, as notícias surgidas nessa quarta-feira, dia 21, não são nada animadoras. A vacinação das próximas faixas etárias vai demorar. E é bom esperar sentado pela vacina, porque ela só chegará em cinco meses, no mínimo…

Esse quadro, triste, foi pintado pela mistura infeliz da falta de vacinas com o inchaço do chamado “grupo prioritário”. Esse grupo foi inicialmente encabeçado pelos idosos, e profissionais da Saúde. Não havia e não há nenhuma dúvida da necessidade de se vacinar essas pessoas, mas uma outra discussão, sobre a formação do restante desses grupos, se desenrolou sem grande atenção da opinião pública. Por conta disso, o Plano Nacional de Imunização acabou acomodando um problema enorme: deu prioridade para cerca de 70 milhões de brasileiros.

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A dimensão desse problema foi dada ontem: o Ministério da Saúde anunciou o adiamento da conclusão da vacinação desses grupos, de maio para setembro. Como a retomada da fila formada pelas faixas etárias só começará após o governo concluir a vacinação dos tais grupos prioritários, é possível prever apenas para setembro/outubro o início do atendimento de quem tem menos de 60 anos de idade. Isso se os laboratórios cumprirem seus compromissos de entrega, e eles não conseguiram fazer isso até agora. As vacinas sempre atrasam, os lotes entregues sempre são inferiores ao esperado.

As doenças específicas
Os problemas não param por aí. A relação de grupos prioritários começa com os portadores de doenças, as chamadas comorbidades. Pois bem, a lista prevê o atendimento de 22 doenças com especificações extremamente pontuais. O plano estabelece o atendimento de quem tem pressão alta, por exemplo, mas não é qualquer pressão alta: é necessário obedecer vários pontos. Em um dos casos, a pessoa terá o direito de ser vacinada se sua pressão arterial permanece “acima das metas recomendadas com o uso de três ou mais anti-hipertensivos de diferentes classes, em doses máximas preconizadas e toleradas, istradas com frequência, dosagem apropriada e comprovada adesão ou PA controlada em uso de quatro ou mais fármacos anti-hipertensivos”. Pode até ser simples para os médicos, mas certamente vai ser complicado para boa parte da população. E como nós estamos no Brasil, é fácil prever o surgimento do “esquema dos laudos médicos falsos”, colocado a serviço de quem quiser furar a fila.

Detentos estão no grupo prioritário
Em relação às categorias sociais e profissionais a serem atendidas, temos ao menos dois pontos capazes de causar muita polêmica. O primeiro deles se refere aos detentos. Sim, os presos entraram na lista das prioridades. O argumento? Se tivermos um surto numa penitenciária, eles acabarão lotando as unidades de atendimento para covid e pressionando fortemente o sistema de saúde. Mas, novamente, como estamos no Brasil, não faltarão campanhas nas redes sociais a favor do extermínio dos presos pela covid, para abrir mais rapidamente as vagas para a vacinação das “pessoas de bem”.

O segundo ponto polêmico está ligado à falta de precisão. O Plano de Imunização incluiu no grupo prioritário “os trabalhadores industriais”. De quais setores? Ninguém sabe. Ou seja, por essa (in)definição, qualquer trabalhador, de qualquer indústria poderá se sentir no direito de entrar na fila de prioridades.

Uma possível saída
Por conta de tudo isso, é de se prever muita discussão e muitos erros nas próximas semanas. Eles poderão ser evitados ou reduzidos se o governo federal fizer uma revisão nessa etapa do plano de vacinação, O secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, quer levar ao ministro Marcelo Queiroga a proposta de fazer uma vacinação “paralela”, ou seja, vacinar quem está no grupo prioritário e, ao mesmo tempo, avançar nas faixas etárias.

Se a proposta de Nésio e de seus colegas secretários estaduais não for aceita, só restará uma saída para quem tem menos de 60 anos: esperar. E, enquanto espera, rezar para não ser tocado pela covid-19. Para quem não for religioso, restará a opção de contar com o destino. Ou seja, as pessoas ficarão entre a fé e a sorte. Convenhamos, não é nada confortável ficar nessa dependência quando se trata de algo tão precioso quanto a vida.

Antonio Carlos Leite

Antonio Carlos tem 32 anos de jornalismo. E um tempo bem maior no acompanhamento das notícias. Já viu muitos acontecimentos espantosos. Mas sempre se sente surpreendido por novos fatos, porque o inesperado é a maior qualidade das coberturas jornalísticas. E também da vida...

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