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Coluna André Andrès

Um #tbt com a história de três grandes rótulos

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Grandes vinhos sempre são acompanhados de belos rótulos. E por trás desses rótulos temos, quase sempre, grandes histórias. Dias atrás me deparei com a necessidade de revisitar uma dessas histórias e me dei conta da possibilidade de elas irem se perdendo no tempo. Vinho vale por seus sabores, por seus aromas, mas também vale para conhecermos sua região, a cultura local e sua trajetória. Por isso hoje vamos (re)visitar as histórias de três ícones do mundo dos tintos. Vamos lá?

Vinho Almaviva

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ALMAVIVA– Olhe para esse rótulo acima. Note como o nome do vinho está escrito. A caligrafia é de Pierre de Beaumarchais. Dito assim, talvez fique um pouco complicado ligar a pessoa à sua obra, porque ela acabou mais conhecida quando se transformou em ópera. Beaumarchais é autor do Barbeiro de Sevilha e das Bodas de Fígaro. Nas duas obras brilha o Conde de Almaviva. Os produtores do vinho não dão mais detalhes. Mas é possível relacionar o rótulo ao Conde de Almaviva do Barbeiro de Sevilha. Nesta obra, ele é um romântico por excelência, apaixonado por Rosina. Quer se aproximar e convencê-la do seu amor, mas não quer usar seu título para isso. O conde quer ser amado pelo que é e não pelo título. Talvez isso guarde relação com o vinho. O Almaviva é resultado de dois gigantes do mundo do vinho: o Château Mouton Rothschild, uma das mais respeitadas vinícolas sas, e a Viña Concha y Toro, portentosa casa chilena. O rótulo também traz desenhos indígenas da era anterior à presença da Espanha na América, numa referência à visão da Terra e do céu. Ou seja, Almaviva não mostra de maneira exagerada sua verdadeira face, não expõe de forma ostensiva as marcas Mouton Rotshchild e Concha y Toro (elas aparecem discretamente). Prefere conquistar os apreciadores por suas qualidades, não pelos seus títulos. Assim como fez o conde com sua amada Rosina no romance transformado em ópera célebre por Gioacchino Rossini.

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Como é o vinho – Trata-se de uma mescla. A proporção se altera em cada safra. Vamos pegar como exemplo a de 2012. Foi produzida com 65% de Cabernet Sauvignon, 24% de Carménère, 8% de Cabernet Franc, 2% de Petit Verdot e 1% de Merlot. É um mais importantes e conceituados tintos do Chile. Robusto, macio, longevo, ricamente aromático, fartamente saboroso. Um ícone. E pronto.

Quanto custa – Varia conforme a safra. Preço médio (entre safras novas e antigas) é de R$ 2 mil

VINHO JUDAS

JUDAS – Quando foi lançado aqui, em Vitória, há uns 10, 12 anos, os responsáveis pela apresentação desse tinto, da vinícola Sottano, contaram a seguinte história… Eles mantinham em Mendoza uma produção honesta, mas sem arriscar a fazer rótulos mais elaborados. A vinícola é muito bem localizada (hoje, ao seu lado, está a Cobos, produtora de alguns dos vinhos mais caros e raros da Argentina) e já tinha potencial para fazer vinhos melhores. Isso era constatado pelos próprios integrantes da família: para consumo reservado era produzido um tinto especial, feito com Malbec, a principal casta da região. Mas havia o compromisso de ele ser provado apenas entre os Sottano e jamais ser vendido. Um dos filhos mais novos, quebrou a regra. Num dia, levou uma garrafa para uma pequena festa. Um jornalista, seu amigo, ficou impressionado com o vinho. E ao saber de onde tinha vindo, pediu para comprar uma garrafa. Inicialmente, o pedido foi negado. Mas logo depois, o jornalista conseguiu comprar uma garrafa, duas, até chegar a uma caixa e, pior, começar a revendê-las, obviamente lucrando com isso. Quando a família descobriu, foi uma confusão! Afinal, eles haviam sido traídos, havia um “Judas” entre eles. Bem, após o atrito inicial, a família foi convencida pelo traidor: havia ali a possibilidade de colocar no mercado um vinho de nível mais alto, elevando os ganhos da casa. A ideia foi aceita. E o rótulo acabou por lembrar a “traição”. Há pouco tempo, a vinícola Sottano lançou um novo rótulo: Barrabás. Mas essa é uma outra história…

Como é o vinho? Malbec típico de Mendoza. Carnudo, robusto. Excepcional.

Quanto custa? A partir de R$ 500.

Vinho Quinta da Bacalhoa

QUINTA DA BACALHÔA – Ah, os portugueses e sua lógica peculiar… A Quinta da Bacalhôa é uma propriedade de mais de 500 anos, construída na região vinícola de Lisboa. O Palácio da Bacalhôa é, hoje, considerado um dos mais belos de Portugal. Os proprietários da vinícola são também apaixonados por arte. E essa junção entre história e cultura já serviu de palco para ensaios fotográficos das mais sofisticadas revistas de moda da Europa. Bem… mas a origem do rótulo é menos nobre. Ao longo dos anos, a propriedade ou de mão em mão. Até pertencer a um comerciante de bacalhau, no século XVI. Era então chamada de Quinta do Bacalhau. Num certo dia, o comerciante sumiu. Alguns disseram ter ele naufragado durante uma pescaria no norte da Europa. Mas ele poderia também ter simplesmente desistido de seu casamento e ter se engraçado com alguma portuguesa ou mesmo uma moradora das colônias portuguesas da época. Mas o fato é: o “Seu” Bacalhau, sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Sua mulher assumiu os negócios. E ou a vender seu peixe. Como os portugueses resolvem tudo de maneira muito prática, a Quinta do Bacalhau ou a se chamar Quinta da Bacalhôa. E ali, hoje, se produz um dos melhores tintos de Portugal.

Como é o vinho? É uma combinação incomum para vinhos portugueses: Cabernet Sauvignon e Merlot, com predomínio bem maior da Cabernet. É um vinho de muita estrutura, potente, elegante como os bons ses. E com imensa capacidade de envelhecimento. Excelente!

Quanto custa? Pode ser encontrado a partir de R$ 220, conforme a safra.

André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.