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Serviço essencial para quem?
Nas últimas semanas, diversos países europeus como França, Alemanha, Espanha e Portugal anunciaram novas medidas restritivas com o intuito de combater a propagação de uma nova onda de infecção da covid-19. Para tal, divulgaram que os serviços ditos essenciais para a vida da população continuarão autorizados a funcionar durante o novo período de confinamento forçado, restringindo os demais.
É dessa forma que os governantes desses países buscam garantir ao máximo o distanciamento entre as pessoas, medida essa que tem se apresentado desde o início da pandemia como a opção mais óbvia de enfrentamento ao coronavírus, visto que esse vírus ataca a sociedade diretamente na sua principal característica, a socialização entre seus membros.
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Durante todo o ano de 2020, grande parte dos governantes brasileiros também estabeleceram políticas públicas visando, ao menos no discurso, proteger o povo e fizeram pesados investimentos nos sistemas de saúde que se demonstraram insuficientes para impedir o colapso desses frágeis sistemas. Somado a isso, aram a adotar medidas amplamente restritivas, buscando evitar o contágio da doença pelo contato social, definindo quais seriam os serviços essenciais e proibindo o funcionamento dos serviços que julgaram não essenciais, como a abertura de restaurantes, a realização de eventos de entretenimento e até mesmo o funcionamento de instituições de ensino.
A cada nova restrição anunciada, eu me perguntava com base em quais critérios esses governantes concluíram que os serviços s não são essenciais para as pessoas. Será que ao proibir a abertura de hotéis e pousadas do litoral nordestino, perguntaram ao povo daquela região se de fato esses serviços não eram essenciais para eles? Ou aos vendedores ambulantes, quando da proibição de eventos esportivos com público?
Apesar de enfatizarem em suas falas o propósito de proteção da população, a verdade é que, seja na Europa ou no Brasil, os governantes estão apenas mantendo em funcionamento os serviços necessários para a sustentação da sua estrutura de governo, da satisfação dos seus aliados e, em muitas vezes, da sua popularidade.
Acredito verdadeiramente que não há ninguém melhor para decidir o que é essencial para si senão o próprio indivíduo. Portanto, a cada novo anúncio de um governo enquadrando um serviço como essencial e restringindo outros como não essenciais, pergunte-se “Essencial para quem?”.
Sobre o Autor

Marcel Damásio. Foto: Arquivo Pessoal
Marcel Damásio é graduado em Ciências da Computação pela UFES, pós-graduado em Gerenciamento de Projetos pela FGV/MMurad e atualmente é Coordenador de Inovação em Meios de Pagamento no Banestes.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
