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Coluna Vitor Vogas

Rigoni perdeu ganhando na janela para trocas de partidos

Numericamente, o União Brasil foi a sigla que mais perdeu mandatários no ES. Mas essa “perda” conveio a Rigoni, que assim “reinicia” o partido do jeito que ele queria: com suas próprias feições políticas e aliados escolhidos a dedo

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Deputado Federal Felipe Rigoni deixa o PSB. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Deputado Federal Felipe Rigoni. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Às vezes, para alcançar uma vitória sofrida, o sacrifício exigido é tão maiúsculo que no fim das contas a vitória não compensa. Acaba gerando um prejuízo posterior bem maior que o triunfo momentâneo e, assim, converte-se em derrota. É a chamada “vitória de Pirro”. Mas existe também o caso contrário: uma evidente derrota momentânea que, mais adiante, pode revelar-se uma vitória ditada pelo cálculo político.

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Pode ser o caso de Felipe Rigoni. Com perdão pelo trocadilho infame, em vez de uma “vitória de Pirro”, o deputado pode estar diante de uma “derrota de espirro”: seu partido, o União Brasil, sai da promíscua temporada de trocas partidárias entre os deputados e de filiação de pré-candidatos como o maior perdedor no Espírito Santo. Do ponto de vista matemático, a conclusão é objetiva e incontestável. Mas, sob a perspectiva política, Rigoni não está nada chateado.

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O período da janela partidária, cuja abertura coincidiu com sua chegada à presidência estadual do União Brasil, proporcionou-lhe a oportunidade de “espirrar” para fora do partido deputados que no fundo, em sua maioria, ele já não fazia mesmo questão de reter, por serem pouco identificados com sua ideologia liberal, com sua proposta de renovação dos quadros políticos capixabas… e com seu projeto de eleger-se governador já neste ano.

Se nos ativermos à frieza dos números, não cabe a menor dúvida nem relativização: o União Brasil foi o partido que mais perdeu no Espírito Santo, ponto.

Antes do início da janela (no dia 3 de março) e da confirmação de Rigoni na presidência estadual, o União possuía uma bancada de quatro deputados na Assembleia Legislativa: Alexandre Quintino, José Esmeraldo, Torino Marques e Theodorico Ferraço. Apoiadores da reeleição de Renato Casagrande (PSB), os dois primeiros foram para o PDT. Já Torino, aliado de Manato (PL), foi para o PTB, enquanto Ferraço ou para o PP. A sigla de Rigoni ficou sem representante no Legislativo estadual. De quatro, caiu para zero.

Quando começou o período do troca-troca, o União somava três parlamentares na bancada capixaba na Câmara Federal: Soraya Manato e Norma Ayub, além do próprio Rigoni. A mulher de Manato foi para o PTB, enquanto a de Ferraço acompanhou a migração do marido para o PP. Restou Rigoni. E só.

Ao mesmo tempo, o União Brasil não atraiu nem filiou nem sequer um deputado com mandato para compensar tais baixas, ao menos parcialmente, no Espírito Santo.

Péssimo para ele, né? Nem tanto.

A bem da verdade, a janela não poderia ter vindo em melhor hora para Rigoni, pois lhe deu a chance perfeita de já entrar no comando do partido “desfazendo-se”, ou despedindo-se, dos deputados que lá já se encontravam, para começar a emprestar à legenda suas próprias feições políticas em solo capixaba. A coluna sabe, de fonte segura, que o único mandatário que Rigoni realmente se empenhou em “segurar” e cuja decisão de sair o entristeceu foi Alexandre Quintino. Quanto aos demais, boa sorte e vida que segue.

A aposta do jovem deputado é num recomeço do União sobre novas bases, cujo primeiro momento decisivo serão as eleições de outubro. Sim, se nos fixarmos no quadro político atual, este não poderia ser pior para o partido de Rigoni, hoje sem nenhum remanescente na Assembleia e na Câmara dos Deputados, afora ele mesmo. Mas o investimento de Rigoni é para a frente.

Sua chegada ao comando estadual e o lançamento de sua pré-candidatura ao governo geraram, sim, uma debandada de parlamentares em fim de mandato. Mas semelhante debandada já era esperada e já estava precificada no cálculo político do deputado.

E foi graças a esse esvaziamento que ele pôde montar as chapas proporcionais do União Brasil sem nenhum parlamentar com mandato e candidatura à reeleição, priorizando o lançamento de rostos novos (ou seminovos) e muito mais alinhados com suas ideias e com sua campanha ao governo estadual nas eleições de outubro.

“Por mais que tenham saído os deputados, nós saímos fortalecidos para as eleições, e não enfraquecidos”, argumenta Rigoni. “É óbvio que você perder parlamentares é ruim, se você for analisar o fato em si. Mas, se você analisar o processo como um todo, acho que no final saímos fortalecidos, com chapas proporcionais competitivas e uma chapa majoritária cada vez mais consolidada.”

Então, sim, considerando o número de mandatários, o União Brasil virou o “Partido de Rigoni” no Estado, pois não restou ninguém além dele. Mas não, isso não preocupa Rigoni, na verdade até lhe convém e foi até certo ponto planejado por ele, que espera compensar as muitas baixas e colher os frutos de sua aposta nas urnas daqui a seis meses.

Dar um “reset total” e transformar o União Brasil no “Partido de Rigoni” era justamente o que ele pretendia.

Pinga-fogo com Felipe Rigoni

O União Brasil sofreu uma evasão quase total de parlamentares do partido que tinham mandato. Restou só o senhor. Em primeira análise, o partido sai enfraquecido no ES, considerado o tabuleiro atual. Concorda?

De jeito nenhum. Primeiro que, em relação aos estaduais em especial, foi uma escolha nossa não ter nenhum mandatário na chapa. Na de federais também. Percebemos que se tornaria muito mais difícil montar a chapa se tivéssemos mandatários disputando a reeleição. Então foi uma escolha que fizemos. Por mais que tenham saído os deputados, nós saímos fortalecidos para as eleições, e não enfraquecidos. Quando eu estava tentando montar a chapa de estaduais com só dois deputados, o Torino e o Zé Esmeraldo, encontrei uma dificuldade absurda. Uma vez que eles saíram, consegui montar a chapa quase de um dia para o outro, porque eles eram vistos como uma ameaça. Quem tem mandato gera receio nos outros pré-candidatos, porque estes partem de uma desvantagem. E, como estamos formando um partido novo, com novas lideranças e novas ideias, achamos melhor não termos deputados eleitos. Acreditamos que faremos de três a quatro deputados estaduais e de um a dois federais.

Como o senhor analisa essa “limpa”? É ruim ou no fundo foi algo bom para o senhor, tendo em vista um projeto de recomeço da estaca zero?

Tendo em vista um projeto novo que estamos fazendo, é natural que isso aconteça. Nós tínhamos pessoas que estão na base do Renato [Casagrande], como o Quintino e o Esmeraldo, e pessoas que estão na base do Manato, como a Soraya e o Torino. Como temos um projeto de governo e queremos fazer um partido que seja alinhado com esse projeto, mais do que comigo, é natural que isso tenha acontecido.

Foi perda ou ganho? Debandada ou “depuração”?

O processo como um todo foi bom. É óbvio que você perder parlamentares é ruim, se você for analisar o fato em si. Mas, se você analisar o processo como um todo, acho que no final saímos fortalecidos, com chapas proporcionais competitivas e uma chapa majoritária cada vez mais consolidada. Então falar em “debandada” ou em “depuração” não é o caso. Temos que pensar no nosso projeto e trazer pessoas alinhadas com esse projeto.

Foi esvaziamento ou assepsia?

[Risos] Nem uma coisa nem outra. É natural que haja mudanças num ano eleitoral. E no União mais ainda, pois houve uma mudança de projeto, então naturalmente houve uma mudança das pessoas ao redor desse projeto.

Como ficaram as chapas do União

Entre outros integrantes, a chapa de deputados federais do União conta com o médico Gustavo Peixoto, o jornalista Wesley Sathler, o ex-presidente do Crea-ES Helder Carnielli, a ex-deputada estadual Cláudia Lemos, a ex-secretária de Saúde de Guarapari Maria Helena Netto e o vice-prefeito da Serra Thiago Carreiro (que também fez parte do movimento RenovaBR, em turma posterior à de Rigoni).

Já a chapa de deputados estaduais tem o vereador de Vitória Denninho Silva, o oficial de Justiça de Linhares Gustavo Paraíso, a advogada de Cariacica Edilamara Rangel e a jornalista Sandra Freitas. As duas últimas foram do RenovaBR (Sandra, inclusive, na turma de Rigoni, em 2018).

Doutor Nilton tá aí

A chapa de estaduais do União também tem o veterano Nilton Baiano. Com todo o respeito à história do médico e ex-deputado, não é bem o que vem à mente quando se fala em renovação política…

Câmara de Cariacica “dominada”

Incrivelmente, a chapa de estaduais montada por Rigoni ainda inclui cinco dos atuais vereadores de Cariacica: Lelo Couto, Edgar do Esporte, Lei, Sérgio Camilo e Renato Machado. Só os três primeiros já estavam no União Brasil. Bom lembrar que a janela partidária deste ano não contemplava vereadores. Segundo Rigoni, todos tiveram a liberação dos antigos partidos para ir para o União.

O tamanho das perdas do União no ES

Se atribuirmos uma pontuação, com peso 1 para cada deputado estadual e peso 3 para cada federal, o União Brasil entrou nesse período de trocas com 13 pontos no Espírito Santo:

(3 federais) + (4 estaduais) = (3 x 3) + (4 x 1) = 9 + 4 = 13

Mas saiu da janela com apenas 3 pontos: Rigoni. Saldo negativo de 10 pontos.

Para efeito de comparação, o PP, partido que mais cresceu no Estado durante a janela, saltou de dois mandatários (um deputado estadual e um federal) para oito (quatro estaduais e quatro federais), ando de 4 pontos para 16:

(4 federais) + (4 estaduais) = (4 x 3) + (4 x 1) = 12 + 4 = 16 pontos. Saldo positivo de 12 pontos.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: vitor.vogas@es360.com.br

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