Coluna Vitor Vogas
Por que Rose é a melhor candidata ao Senado para Casagrande?
E mais: o deslocamento do pastor Nelson Junior e do seu partido (Avante) para fora do governo Casagrande, e o flerte do candidato ao Senado com adversários eleitorais do governador

Legenda fake: Casagrande e Rose exibem a certidão de casamento. Legenda real: Casagrande e Rose durante ato de transferência simbólica da capital do ES para Domingos Martins (12/06/2022). Foto: Hélio Filho/Secom
Rose de Freitas (MDB), Alexandre Ramalho (Podemos), Josias da Vitória (PP), mais o possível candidato do PT e o possível candidato do PSDB: só um deles terá o apoio declarado do governador Renato Casagrande (PSB) na eleição ao Senado. Ao contrário do título daquela comédia romântica popular nos anos 1990, teremos “Quatro Funerais e um Casamento”. Só um dos cinco dará match com Casagrande. E, ao menos com o apoio do governador, as candidaturas dos outros quatro ao Senado será enterrada. Nessa concorrência interna, a noiva ideal e pretendida por Casagrande, embora os dois ainda não tenham trocado alianças em público, é a senadora Rose de Freitas, determinada a disputar a reeleição.
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Por que Rosilda é a preferida de José Renato?
Em primeiro lugar, por pragmatismo político (uma das características mais reconhecíveis no atual governador). Rose não é, necessariamente, a melhor candidata para Casagrande (no sentido de ser a mais qualificada e preparada); mas é, sem dúvida alguma, a melhor candidata para Casagrande (ou seja, a mais útil para ele, em sua própria campanha à reeleição).
No Palácio Anchieta, Rose é considerada o melhor cabo eleitoral para o governador. Por sua veia municipalista – materializada, desde os tempos de deputada federal, sob a forma de emendas e outras verbas tiradas a fórceps das entranhas de Brasília –, a senadora mantém excelente entrada com prefeitos e vereadores do interior. Com esse ótimo trânsito, vai percorrer o Estado inteiro, de cabo a rabo, pedindo votos para si mesma, é claro, mas também para Casagrande, em um movimento eleitoral casado.
Prefeitos e vereadores são importantes “influenciadores” locais. Se forem contagiados por Rose, podem ficar muito mais propensos a engrossar o exército de cabos eleitorais de Casagrande pelo interior, onde vive metade do eleitorado capixaba.
Assim como Rose, Da Vitória tem “visão municipalista”. Mas nesse aspecto, há de pensar o prefeitinho da cidade de 20 mil habitantes, qual é a diferença dele para “a senadora”? Nenhuma. “Então, fiquemos com ela mesma, que já está lá e já nos acompanha.”
Ao mesmo tempo, “segurando” Rose ao seu lado no mesmo movimento, Casagrande evita que ela se desloque para o palanque de outro candidato ao governo. Para o governador e seu grupo, isso seria muito ruim porque, além dos votos, Rose levaria embora, para uma chapa adversária, os recursos e o tempo de TV e rádio do MDB.
Espertamente – e com a experiência de quem habita o Congresso há quase 40 anos –, a senadora já fez aqui mesmo uma ameaça sutil, endereçada a Casagrande, nessa direção: “A minha determinação de apoiá-lo é porque acredito nele. Se ele não acreditar em mim, aí eu posso pensar na vida, não posso?”
Além disso, nesta análise, não se pode perder de vista um fator que muitas vezes se esquece – tamanha a proximidade destes dois com Casagrande –, mas que o Palácio Anchieta com certeza não está ignorando: tanto Da Vitória quanto Ramalho são bolsonaristas e assim se apresentam. Rose, não; transita bem em governos tanto de esquerda (Lula e Dilma) como de direita (Temer, auge dela no Congresso).
Seja pelas votações, pelas décadas de Congresso ou pelo estilo meio imprevisível, o fato é que Rose é respeitada em Brasília. Entra governo, sai governo, ela não sofre retaliações. E, mesmo longe de poder ser tida hoje como uma “senadora de esquerda”, tem independência o suficiente para criticar publicamente o governo Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, como fez, por exemplo, diante de Casagrande e de estupefatos empresários do setor de exportações, ao receber uma homenagem do Sindiex, em maio.
Já Da Vitória e Ramalho, no plano local, são aliados leais a Casagrande, mas parceiros sobre os quais sempre pesa aquele “porém” na hora dos cálculos políticos exercitados no Palácio Anchieta: são muito bolsonaristas. Levando em conta todos os embates do governo Bolsonaro com os governadores em geral (ICMS, pandemia etc.), especialmente com os que não são de direita, não interessa em nada ao governo Casagrande ajudar a levar para o Senado mais um bolsonarista.
É óbvio que, para Casagrande, preventivamente, convém não permitir que se amplie a base de apoio de Bolsonaro no Congresso, fazendo o que estiver a seu alcance para barrar seu crescimento. E o que está a seu alcance, neste caso, é agir agora, politicamente, para influenciar a escolha do(a) representante do Espírito Santo no Senado e dos dez deputados federais que serão eleitos pelos capixabas no dia 2 de outubro.
A questão aqui é ideológica. E o movimento de Casagrande na linha “quanto menos bolsonaristas, melhor” será ainda mais importante para ele, a partir de 2023, caso ele mesmo se reeleja governador e Bolsonaro, presidente: mais quatro anos de um difícil convívio político e institucional.
A mudança de movimento de Nelson Junior
Nesta conta de concorrentes ao posto de candidato(a) ao Senado “abençoado(a)” por Casagrande, até alguns dias atrás, poderia ser incluída a pré-candidatura do pastor, escritor e palestrante Nelson Junior (Avante), fundador do movimento “Eu Escolhi Esperar” – o qual incentiva, grosso modo, a abstinência sexual dos jovens até o matrimônio. Mas, de acordo com nossas apurações, o Palácio Anchieta já considera Nelson e o Avante oficialmente fora do movimento eleitoral do governo, isto é, desgarrado do projeto de reeleição de Casagrande.
Prova cabal disso foi fornecida pela edição desta segunda-feira (20) do Diário Oficial do Estado, com a publicação do ato de exoneração do presidente estadual do Avante, Marcel Carone, do cargo comissionado de assessor especial que ele ocupava na Secretaria da Casa Civil – espécie de central político-partidária do governo. O desligamento do dirigente partidário simboliza o deslocamento político do Avante para fora do governo Casagrande.
A saída, porém, foi amistosa e muito respeitosa. Nada pessoal, mas, se Casagrande é pragmático, o Avante também precisou ser.
Inicialmente, o presidente do Avante se empenhou para que Nelson fosse candidato ao Senado pela coligação de Casagrande e com o apoio do governador. Não houve, porém, nenhum sinal do Palácio Anchieta nesse sentido. Em entrevistas de março para cá, o governador nem sequer citava Nelson entre os possíveis candidatos da sua base.
Apostando tudo na candidatura do pastor ao Senado e acreditando em sua competitividade, o Avante escolheu não esperar mais por um gesto de Casagrande que não veio (nem viria). Com perdão pelo trocadilho, se “vias de fato” mesmo só depois do casamento, o partido se viu forçado a procurar outro parceiro, pois, como dito acima, o match de Casagrande é com Rose.
Então Nelson começou a ensaiar um movimento diferente, ao largo do Palácio Anchieta. ou a buscar viabilizar sua candidatura por outros grupos políticos, flertando com adversários eleitorais de Casagrande. No último dia 12, ele foi convidado e compareceu à festa-surpresa de aniversário de Felipe Rigoni, no clube Álvares Cabral, em Vitória. Mas foi na semana ada que seu movimento ficou mais ostensivo, a partir do cataclismo que se abateu sobre a pré-candidatura de um nome muito competitivo ao Senado: Sérgio Meneguelli (Republicanos).
Para muitos, a candidatura do ex-prefeito de Colatina já está condenada, principalmente depois que publicamos aqui as declarações do presidente nacional do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira (SP). No Palácio Anchieta mesmo, há a percepção de que já era para ele.
O caixão de Meneguelli ainda nem tinha sido fechado em mais esse funeral político, e Nelson Junior ou a ser visto em uma série de eventos públicos ao lado de ninguém menos que Erick Musso, o candidato a governador do Republicanos – possivelmente interessado em substituir Meneguelli por um candidato ao Senado mais à feição de seu eleitorado: enquanto o ex-prefeito de Colatina disse em entrevista à coluna “não ter nada de conservador”, Erick é evangélico e se declara conservador nos costumes, como Nelson.
Precisamente, os dois foram vistos juntos três vezes num intervalo de dois dias, até o feriado de Corpus Christi (16). Na segunda-feira (13) ada, em um evento no gabinete do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e em um culto da Igreja Maranata. Na quarta-feira (15), durante sessão solene em homenagem à Associação dos Pastores Evangélicos da Serra (Apes). Da tribuna, Erick chegou a brincar que está encontrando muito o Nelson Junior: “Uma verdadeira Cristocidência”, disse o presidente da Assembleia.
De “Cristocidência” não entendo. Mas em coincidências políticas não creio.
Em tempo: Rigoni e Erick, os dois concorrentes ao governo com quem Nelson esteve recentemente, também estão ensaiando algum tipo de parceria eleitoral. E pode ser que esse trio também dê match.
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