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Os números (assustadores) do Brasil. E o sumiço de um certo ministro…

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Há algo de diferente ocorrendo com a curva de óbitos provocados pela covid-19 no Brasil. Quando comparamos os registros de mortes ocorridos no país com os de Estados Unidos, Itália e Espanha, só para ficarmos em três exemplos, verificamos um intervalo de tempo muito maior entre o primeiro caso e possível pico da mortalidade aqui. Com um agravante: não temos a mínima ideia sobre em qual ponto da curva de casos e mortes nós estamos.

A primeira morte provocada pela covid-19 na Itália ocorreu em 21 de fevereiro. O mundo acompanhou, assombrado, a evolução dos casos e óbitos entre os italianos. O pico de mortes ocorreu em 27 de março: 919 vidas perdidas em um só dia. Ou seja, entre a primeira morte e o número máximo de óbitos se aram 35 dias. A partir de então, os registros vêm caindo. Hoje a Itália tem média de 70 mortos por dia (ainda não é pouco…). Na quarta-feira, dia 3, contava 33.601 mortos e 233.836 casos.

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A Espanha tem um intervalo ainda menor: a primeira morte aconteceu em 3 de março e o ponto máximo da curva em 2 de abril, ou seja, 29 dias. No dia 2, morreram 961 pessoas na Espanha. O país tem 27.128 mortes e 287.406 casos.

O intervalo entre a primeira morte e o pico nos Estados Unidos foi um pouco maior: 52 dias. A primeira morte ocorreu em 29 de fevereiro e o pico, em 21 de março, com terríveis 2.805 óbitos em 24 horas. Na quarta-feira, foram 1.088 mortos, mas esse número já esteve girando em torno de 730 por alguns dias. No total, o vírus já vitimou fatalmente 109.783 moradores dos EUA.

E chegamos ao Brasil. O país teve sua primeira morte provocada pela covid-19 em 17 de março, quando contava 345 casos. E na quarta-feira, dia 3 de junho, anunciou o terrível dado de 1.349 mortos. Isso dá um intervalo de 78 dias. O pior desse número é o fato de não sabermos se já atingimos ou não o pico de casos e de óbitos. Visto de uma maneira mórbida, poderíamos falar em um contador ainda em alta velocidade: superamos 32 mil mortos e não há sinal de redução nessa velocidade. Alguém poderá argumentar o seguinte: se a curva tiver sido achatada no Brasil, a tendência é mesmo termos intervalos maiores. Mas a curva de casos mostrada pelo Ministério da Saúde não dá a sensação de achatamento, ao contrário. Veja o gráfico abaixo:

Casos acumulados de covid-19 por data de notificação. Foto: Reprodução/Ministério da Saúde

Casos acumulados de covid-19 por data de notificação. Foto: Reprodução/Ministério da Saúde

De qualquer forma, o nosso problema está na falta de clareza sobre o comportamento da doença no Brasil. Não sabemos se estamos na subida da curva ou em um platô. Não sabemos, efetivamente, onde e quando o contador vai começar a desacelerar, com todas as consequência sanitárias, econômicas e humanitárias embutidas nessa afirmação. E entre os motivos dessa incerteza absoluta está a ausência total do ministro da Saúde. Desde sua posse no cargo, Eduardo Pazuello não deu uma mísera entrevista coletiva. Não há mais nenhum esclarecimento por parte das autoridades federais. Não há leituras de números, não há orientação para a população, não há nada.

O Brasil atinge, até agora, o maior número de mortes pela covid-19, é o novo epicentro mundial da doença, é a nação com maior número de óbitos diários no planeta… e não tem ministro da Saúde.

É como se tivéssemos sido deixados largados à nossa própria sorte. Ou à nossa própria morte. Afinal, como disse o presidente, este é o destino de todos…

Antonio Carlos Leite

Antonio Carlos tem 32 anos de jornalismo. E um tempo bem maior no acompanhamento das notícias. Já viu muitos acontecimentos espantosos. Mas sempre se sente surpreendido por novos fatos, porque o inesperado é a maior qualidade das coberturas jornalísticas. E também da vida...

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