Coluna Vitor Vogas
Lula explica desistência de Contarato e apoio do PT a Casagrande
Em vídeo enviado para a militância do PT no Espírito Santo, líder maior do partido ite que a candidatura do senador foi removida para honrar compromissos do PT com o PSB de Casagrande. E enche Contarato de elogios

Contarato com Lula. Foto: Twitter
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gravou uma declaração, dirigida a militantes do PT no Espírito Santo, para prestigiar o senador Fabiano Contarato, do mesmo partido, e explicar a decisão tomada pela direção nacional do PT de desistir da candidatura própria ao Palácio Anchieta para apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB). Na última quarta-feira (13), o Diretório Estadual do PT homologou essa decisão, seguindo a orientação dos caciques nacionais.
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No vídeo, Lula enche Contarato de elogios e confirma aquilo que já se sabia e que foi amplamente analisado aqui: a prioridade da cúpula do PT sempre foi a aliança com o PSB, incluindo o Espírito Santo. Segundo Lula, “Contarato aceitou não ser candidato para que o PT pudesse cumprir seus compromissos com o PSB”. De acordo com o ex-presidente, o PT tinha “o compromisso de privilegiar essa aliança com o PSB”.
Como fica subentendido, um dos “compromissos” do PT com o PSB era o apoio a Casagrande no Espírito Santo, como uma das compensações pelo apoio do PSB a Fernando Haddad (PT) na disputa pelo governo de São Paulo, após a desistência de Márcio França (PSB).
“Meus amigos e minhas amigas do Espírito Santo”, começa Lula, “eu tenho mais de 50 anos de vida política, entre a política e o sindicato. E poucas vezes na vida eu vi um ser humano com o caráter, com o comportamento ético e com a coragem democrática do companheiro Contarato. Todo mundo sabe que o companheiro Contarato queria ser candidato a governador pelo Espírito Santo. Mas também todo mundo sabe que o PT fez uma aliança nacional com o PSB e, portanto, nós tínhamos o compromisso de privilegiar essa aliança com o PSB. E, por isso, a nossa presidente Gleisi [Hoffmann] fez um apelo ao companheiro Contarato, [para] que deixasse de ser candidato a governador do estado do Espírito Santo, para que a gente pudesse apoiar o governador do estado, o nosso companheiro Casagrande.”
O ex-presidente destaca a “lealdade” e a “grandeza política” de Contarato ao partido, por ter aceitado de bom grado desistir da pré-candidatura ao governo em função dos acordos nacionais:
“Muita gente achava que o Contarato ia ficar nervoso e irritado. Contarato deu uma demonstração de muita competência, de muita lealdade e de espírito democrático. Ele aceitou não ser candidato para que o PT pudesse cumprir os seus compromissos com o PSB. É de gente com o caráter de Contarato, é de gente com o comportamento ético de Contarato, é de gente da grandeza política de Contarato que o Brasil precisa, para que a gente possa sonhar em fazer as transformações que o Espírito Santo precisa, que o Brasil precisa e que quem sabe até o mundo está precisando de muitas transformações.”
Ainda endereçando-se aos “companheiros do Espírito Santo”, Lula manifesta o orgulho que tem de Contarato:
“Por isso, companheiros do Espírito Santo, quero dizer para vocês que, se eu já tinha orgulho do Contarato ter entrado no PT, se eu já tinha orgulho do Contarato ser candidato a governador, eu tenho muito mais orgulho de saber que o PT tem um senador altamente democrático, altamente civilizado, altamente comprometido com os direitos humanos e com as causas mais nobres deste país.”
Finalmente, dirigindo-se ao próprio Contarato, Lula faz-lhe um último afago (“um abraço no coração”) e deixa aberta a possibilidade de o senador concorrer de fato ao governo do Espírito Santo em uma eleição futura (segundo ele, “logo logo”):
“A você, meu companheiro Contarato, um abraço no coração. Quero te dizer que, aos meus 76 anos, eu quero afirmar que tenho muito orgulho de tê-lo no meu partido e tenho muito orgulho de ter a sua amizade. Que Deus te acompanhe por toda a vida e quem sabe, logo logo, logo logo, você poderá voltar e ser candidato a governador do Espírito Santo. Um abraço, querido! Você fez o correto.”
No início da tarde desta quarta-feira (20), Contarato registrou sua emoção com o vídeo que Lula lhe dedicou: “O presidente Lula é uma liderança inspiradora e me deixa emocionado com este vídeo em que fala da nossa pré-candidatura ao governo do Estado. Digo e repito: sou um soldado do Partido dos Trabalhadores”.
Em outra tuitada, escreveu: “Nossa aliança democrática e ampla é para devolver ao povo capixaba e de todo o país a esperança, o emprego, o salário digno, a comida na mesa, a saúde, a educação, os sonhos. Vamos juntos pelo Brasil e pelo Espírito Santo!”
Interpretação
Antes de tudo, a mensagem de Lula pode ser interpretada como um gesto visando abrandar eventuais insatisfações de grande parte da militância do PT no Espírito Santo que gostaria de ver Contarato realmente disputar o governo estadual e que não engoliu bem o apoio do partido a Casagrande, costurado pelos dirigentes locais e nacionais.
Porém, mais que uma justificativa do líder máximo do PT para uma militância frustrada, a fala de Lula é um “afago político” em Contarato, um gesto carinhoso do ex-presidente no próprio senador petista, a fim de prestigiá-lo.
O objetivo é elevar o moral de Contarato num momento em que predomina a sensação de que o senador foi rifado do processo eleitoral pela direção do próprio partido: por esse ângulo de análise, ele pode ter sido “usado” pelos dirigentes como um trunfo para aumentar o poder de barganha do PT na mesa de negociação com Casagrande e com o PSB. Por isso, politicamente, teria saído dessa novela menor do que entrou.
Mas Lula faz questão de esclarecer, em primeiro lugar, que Contarato queria mesmo ser candidato e que não teve nada a ver com a decisão de retirar sua pré-candidatura; que, ao contrário, como um bom e leal soldado do partido, Contarato provou o seu valor ao aceitar ir para o sacrifício; e que por isso, na verdade, ao invés de desprestígio, o senador subiu no conceito de Lula e dos capas-pretas do PT. “Nunca antes na história” esteve mais prestigiado pela cúpula petista.
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