Coluna Vitor Vogas
Ricardo é lançado por Euclério e polemiza com assessor de Arnaldinho
Vice rebate post de Robinho Leite e, perante milhares de pessoas em casa de shows de Cariacica, prega continuidade do ES “no mesmo rumo e mesmo ritmo”

Ricardo Ferraço e Euclério Sampaio em evento pré-eleitoral em Cariacica. Foto: Divulgação
O ano de 2026, definitivamente, já começou no Espírito Santo. Na noite de segunda-feira (9), diante de milhares de pessoas, em uma grande casa de shows no bairro Rio Branco, Cariacica, o prefeito Euclério Sampaio (MDB) foi o anfitrião de um evento que, na prática, correspondeu ao lançamento da pré-candidatura de Ricardo Ferraço (MDB) a governador do Espírito Santo. Na atmosfera festiva, o vice-governador foi quase só sorrisos. A fisionomia alegre só deu lugar a semblante fechado quando lhe perguntamos, após os discursos, ainda no palco, sobre recente manifestação do secretário de Relações Parlamentares da Prefeitura de Vila Velha, Robson Leite Nascimento.
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Mais conhecido como Robinho Leite, o assessor é um dos principais articuladores políticos do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), que, assim como Ricardo, é aliado do governador Renato Casagrande (PSB) e também quer ser candidato a governador do Estado. Experiente e conhecido no meio, Robinho já foi colaborador do ex-governador Paulo Hartung (PSD), de Casagrande e do próprio Ricardo, como seu assessor parlamentar, na reta final de seu mandato no Senado, entre 2017 e 2018. Desde 2023, faz parte do núcleo político de Arnaldinho Borgo, ocupando cargo comissionado na Secretaria Municipal de Governo.
No último dia 1º, Robinho fez o seguinte post no Instagram, elencando características que, na sua avaliação, o eleitorado capixaba buscará ao escolher seu candidato na sucessão de Casagrande em 2026:
“Aqui no ES estamos definitivamente num momento de mudança geracional com o final do ciclo das duas lideranças do século XXI que governaram o Estado por 24 anos [Casagrande e Hartung]. A população deseja para o futuro um governador jovem, moderno e que dialoga com a população pelas redes sociais. Deseja também que já tenha sua liderança testada na gestão pública e com capacidade de montar equipe. Conservador nos costumes, mas com preocupações sociais. E neste momento só tem dois políticos em condições de fazer a disputa: Arnaldinho e Pazolini. Falo isso com todo [o] respeito ao Ricardo Ferraço.”
No dia 4 de junho, argumentamos aqui que o texto publicado por Robinho, de certo modo, explicitou algo já largamente sabido nos bastidores: a concorrência de Arnaldinho com Ricardo pela posição de candidato da situação ao Palácio Anchieta em 2026 (pelo grupo político de Casagrande e com o apoio do governador).
Na entrevista com Ricardo após o evento em Cariacica, resgatando o post de Robinho, perguntamos a ele se gostaria de comentar. O pré-candidato fechou a cara e abriu o verbo:
“Olha, eu acho que ele está sendo pago para falar isso. E, à medida que ele está sendo pago para falar isso, ele não tem independência para fazer uma avaliação ampla. Acho que ele está cumprindo ordens. Então eu acho isso, acho que está sendo pago para falar o que falou.”
“Falta, naturalmente, independência, soberania, liberdade, autonomia para uma reflexão sem considerar que ele está sendo pago para falar isso. Então, me perdoe, mas é uma manifestação muito pouco relevante”, completou Ricardo, elevando o tom.
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Disparou contra o assessor de Arnaldinho, mas poupou o próprio prefeito. Questionado um pouco antes pela coluna sobre a intensificação dos esforços do alcaide de Vila Velha para viabilizar candidatura a governador, Ricardo reiterou o respeito, a parceria e a amizade entre os dois.
“Arnaldinho Borgo não é apenas uma liderança política a quem respeito muito. É um amigo querido com quem tenho uma relação muito boa. Eu tenho muita confiança que, na hora certa, nós vamos estar juntos.”
Procurado pela coluna, o próprio Robinho Leite preferiu não se manifestar sobre as declarações de Ricardo.

Ricardo Ferraço (no centro, de branco) e apoiadores no palanque do evento em Cariacica. Foto: Divulgação
Poupou sem ter poupado…
Por outro lado, “poupou sem ter poupado”… Ao atingir o assessor, Ricardo também não deixa de mirar no prefeito, sobretudo ao reiterar que Robinho estaria “sendo pago” (por quem?) e “cumprindo ordens” (de quem?) para dizer o que disse.
Dada a proximidade que os une no momento, Robinho e Arnaldinho são hoje indissociáveis no mercado político capixaba. Binho, nesse caso, é igual a Dinho.
É difícil, para não dizer impossível, tomar um pensamento estratégico como o exposto por Robinho sem o vincular ao próprio Arnaldinho, isto é, sem tomar o assessor por porta-voz do chefe. Robinho “pensou alto”, externou um raciocínio conceitual para um público mais amplo em uma rede social. Mas, naturalmente, não é outra a visão que o conselheiro tem transmitido ao aconselhado “no privado”.
É natural a conclusão de que o prefeito compartilha desse pensamento sobre o encerramento de um ciclo e a suposta “mudança geracional”. Do mesmo modo, é inevitável concluir que também o prefeito acredita que o eleitor capixaba priorizará um perfil como aquele exposto pelo assessor e de que é essa mesma convicção que o tem impulsionado e guiado seus movimentos. Imbuído da mesma crença, Arnaldinho segue em frente e acelera em sua “marcha da viabilização”, confiante em sua competitividade e nas chances de prevalecer no fim.
Fica a torcida para que seja uma disputa saudável, uma concorrência leal, travada com fair play… Mas, como costuma ocorrer, algumas “caneladas” devem sobrar no meio do caminho. E já começam a aparecer.
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Euclério: “Estou fazendo a minha parte”
Anfitrião da noite, Euclério disse à coluna acreditar piamente que Ricardo se viabilizará: “Tenho certeza absoluta, e as pesquisas mostram isso. Isso depende de nós que queremos que o Espírito Santo continue avançando, que façamos a nossa parte. Eu estou fazendo a minha.”
Sem citar nomes, o prefeito alertou para o risco de “o Espírito Santo cair em mãos erradas”.
“Eu penso na minha cidade e penso no Espírito Santo. O projeto de Renato Casagrande não pode parar. Ele faz uma istração estadual incluindo todos os prefeitos e gestores, independentemente de partido. Nós não podemos trocar o que está dando certo por aquilo que pode gerar conflito e exceção de pessoas. Você pode ver que nossa gestão aqui trabalha com todos: esquerda, direita, católico, evangélico, espírita… Fomos eleitos para cuidar de todos os cidadãos, e Renato faz isso no Estado. Ricardo vai ser assim também, eu tenho certeza. O meu medo é o Espírito Santo cair em mãos erradas, e o desenvolvimento dos 78 municípios capixabas parar por briga de ideologia política.”

Ricardo Ferraço e Euclério Sampaio (no centro, de costas) no palanque do evento em Cariacica. Foto: Divulgação
Ricardo: “No mesmo rumo e no mesmo ritmo”
Na prática, com evidente natureza pré-eleitoral, o evento em Cariacica foi quase um comício extemporâneo. Ricardo só não se apresentou como candidato nem obviamente pediu votos – que é, basicamente, o que a Justiça Eleitoral tem vedado e punido nos últimos processos eleitorais. O evento foi, antes de tudo, a maior prova da prematuridade das eleições estaduais no Espírito Santo no ciclo 2023/2026, refletindo o cenário nacional – na mesma noite, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), pré-candidato a presidente da República, foi sabatinado no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Ricardo definiu a relevância do encontro em Cariacica para ele: “Foi uma das maiores reuniões que já presenciei no estado do Espírito Santo, fruto da liderança do governador Renato Casagrande e do governador [sic] Euclério Sampaio”. Explorando também o discurso religioso, ele classificou o evento como uma “chuva de bênçãos”.
Tanto em seu discurso como na entrevista que se seguiu, Ricardo estreou uma mistura de mantra, lema e slogan: “Manter o Espírito Santo no mesmo rumo e no mesmo ritmo”.
“O nosso foco no governo continua sendo as entregas e os resultados. Eu continua afirmando que sou parte de um time liderado pelo governador Renato Casagrande. E tudo que nós desejamos é que o Espírito Santo possa continuar nesse mesmo rumo e nesse mesmo ritmo”, disse ele.
“Sou parte de um time. Um time que junto é muito forte e tem realizado muito pelo estado do Espírito Santo. Não se trata de qualificação pessoal, mas de uma reflexão que os capixabas têm de que o nosso estado está no caminho certo. E, com o nosso estado no caminho certo, o que nós precisamos é de continuidade. Então vamos continuar trabalhando com muita humildade, agregando valores e pessoas que possam estar juntas nesse processo de manutenção daquilo que está dando certo.”
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Ricardo também repetiu o discurso de que o governo Casagrande, representado por ele, concilia responsabilidade fiscal (poupar dinheiro) com responsabilidade social (fazer investimentos), contrariamente a governos ados que, ou “gastavam muito e gastavam mal”, ou “só pensavam em fazer poupança e não dialogavam com as lideranças”. No segundo caso, o alvo da indireta é Paulo Hartung. “Os primeiros mergulharam o Estado numa profunda desorganização. Os segundos produziram, entre outras coisas, uma crise muito profunda na segurança pública”, disse o vice-governador, em alusão ao motim da PMES em fevereiro de 2017.

Ricardo Ferraço (no centro, de branco) e apoiadores no palanque do evento em Cariacica. Foto: Divulgação
Os apoiadores presentes
Não há um número oficial quanto ao público presente ao evento. O local, Matrix Music Hall, tem capacidade para cerca de 6 mil pessoas. Convidado a dar uma estimativa, Euclério falou em 7,5 mil pessoas. “Ficou muita gente do lado de fora.” O número pode estar superestimado. Mas, de fato, a casa ficou bastante cheia.
Entre as autoridades presentes, além de Euclério, compareceu o prefeito de Viana, Wanderson Bueno (Podemos), o de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos (PSB), o de Nova Venécia, Lubiana Barrigueira (PSB), e a de Montanha, Iracy Baltar (Podemos); a vice-prefeita de Cariacica, Shymenne de Castro (PSB), a vice prefeita da Serra, Gracimeri Gaviorno (MDB), e o vice-prefeito de Cachoeiro, Juninho Corrêa (Novo), representando o prefeito Theodorico Ferraço (PP), pai de Ricardo. Juninho disse apoiar Ricardo para governador.
Dois deputados federais se fizeram presentes: Gilson Daniel (Podemos) e Messias Donato (Republicanos). Este é correligionário do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), pré-candidato de oposição a governador e potencial adversário de Ricardo. Mas é, acima de tudo, aliado de Euclério.
Entre os deputados estaduais, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União), Janete de Sá (PSB), Mazinho dos Anjos (PSDB), Marcos Madureira (PP), José Esmeraldo (PDT) e Denninho Silva (União). Este último chamou a atenção por ser aliado de Pazolini. Mas é sobrinho e grande aliado de Euclério. Já declarou que sua lealdade ao prefeito de Cariacica está acima de tudo.
Entre os secretários de Estado, o da Casa Civil, Juninho Abreu (PDT), a das Mulheres, Jacqueline Moraes (PSB), a de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Grillo, o de Meio Ambiente, Felipe Rigoni (União), o de Recuperação do Rio Doce, Guerino Balestrassi (MDB), e o diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira (PSB).
Isso além de muitos vereadores, principalmente de Cariacica.
Casagrande: ausente, mas em destaque
Em destaque, tanto no telão no fundo do palco como num imenso cartaz na entrada do recinto, Ricardo, Euclério e Casagrande. O governador não compareceu pessoalmente.

Foto: Vitor Vogas
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