Coluna Vitor Vogas
Jackeline Rocha: “Governo Casagrande deve muito nas políticas sociais”
Em entrevista à coluna, presidente estadual do PT endossa candidatura de Contarato, critica o atual governo, sinaliza distanciamento com Casagrande e indica que aliança com o PSB no Espírito Santo não está nos planos do PT-ES

Jackeline Rocha. Foto: Facebook
O governo de Renato Casagrande (PSB) está devendo muito em matéria de políticas sociais. A conclusão não é minha, mas de Jackeline Rocha, a presidente do PT no Espírito Santo.
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Em entrevista à coluna, Jackeline relata o teor da conversa que ela e outros dirigentes petistas tiveram, no último dia 12, com o próprio governador e com o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini. Algumas das críticas feitas pessoalmente pelos petistas ao governador podem ser lidas abaixo.
Na mesma entrevista, Jackeline endossa a candidatura ao governo do senador Fabiano Contarato (PT). Afirma que, no que depender dela, a candidatura dele é irreversível. Só será removida em caso de determinação expressa da direção nacional do PT – hipótese que, no entanto, ela considera hoje bem pouco provável.
Além de fazer muitas ressalvas ao atual governo Casagrande, a presidente sinaliza distanciamento em relação ao governador. E indica que, no Espírito Santo, a reprodução da aliança nacional com o PSB é muito pouco provável. Aliás, nem está nos planos do PT capixaba.
Confira a primeira parte do nosso bate-bola com Jackeline.
Na reunião com Casagrande na Residência Oficial no último dia 12, o governador garantiu a vocês que o PSB fará campanha para o Lula também no Espírito Santo?
Não só o governador, mas o próprio presidente do PSB, Alberto Gavini. Eles têm uma compreensão de que fazer a campanha do Lula é importante, até porque eles têm o vice indicado nessa chapa, o Geraldo Alckimin. Então, uma coisa é que o PSB fará o movimento pró-Lula, de somar na construção da pré-campanha, mas do modo que eles veem a campanha: não é a campanha do Lula, é a campanha do Alckmin. Essa é que é a relação.
E quanto ao posicionamento pessoal do próprio governador? Ele chegou a manifestar a vocês?
A conversa com o governador foi uma conversa tranquila, serena e teve um bom ambiente para a gente refletir sobre a conjuntura nacional e também sobre alguns desafios relacionados ao Espírito Santo. E demonstrou que nós podemos nos sentar mais algumas vezes, mas para conversar neste momento sobre Lula e Alckmin e como a gente pode construir essa relação de aproximação a partir de um cenário nacional. Nós do PT reafirmamos o tempo todo que nós temos a nossa candidatura, que é a candidatura do Contarato. Para nós, do Espírito Santo, é uma candidatura para valer, porque nos ajuda no palanque eletrônico, porque nos ajuda no fortalecimento das candidaturas proporcionais, porque tem um alinhamento com a nossa base social, que não se enxerga fazendo um movimento de virada para outro setor ou para outra candidatura neste momento.
Vocês chegaram, porém, a falar sobre uma possível aliança com o governador? Fizeram algum exercício de cenário nesse sentido?
Não. O que fizemos foi colocar as nossas críticas, de uma maneira muito fraterna e respeitosa. Pontos do programa de governo que ele tem adotado e que para nós, principalmente, que representamos os movimentos sociais e a classe trabalhadora, têm gerado muita dificuldade.
Então vocês aproveitaram a oportunidade para cobrar pessoalmente de Casagrande mais atenção às pautas do desenvolvimento social?
Sim. Pautas, por exemplo, como a maneira como o governo vem tratando o serviço público no Estado. A maneira de não receber as lideranças dos movimentos sociais. Coisas que são grandes para uma parcela da população, como a falta de uma política habitacional.
Vocês avaliam que, nesse campo das políticas públicas, das pautas sociais, o governo Casagrande está devendo?
Muito. Muito. E por que eu acredito que está devendo? Não adianta um governo falar que tem dinheiro em caixa, enquanto a população está ando fome. Não adianta falar que tem um fundo de milhões de cooperados por conta de um crime ambiental da Samarco e da Vale como aconteceu, se a gente tem toda a bacia das cidades atingidas, por exemplo, sem solução até hoje. E isso é algo muito ruim. A gente percebe que o objetivo muitas vezes é criar fundos, fundos e fundos, Fundo Cidades, Fundo Soberano… mas não está sendo “soberano” para a população que mais precisa e não está tocando naquilo que mais precisa dentro das cidades. O governo do Estado tem um material excelente feito por pesquisadores, que é o Desenvolvimento Regional Sustentável, e não conseguiu colocar em prática algumas ações que são simples, que é olhar para o desenvolvimento regional, para as potencialidades de cada região. Então tem muitos diagnósticos e poucas ações. Vemos até, mais uma vez, a tentativa de privatização do Banestes, colocando a própria seguradora do Banestes à venda. Então precisamos entender o que é o patrimônio capixaba.
Vocês chegaram a dizer isso tudo para o governador?
Nós falamos. Falamos sobre todos os pontos que acreditamos que seja algo crítico no governo dele. Até porque, como cidadãos, queremos que as coisas deem certo.
O Casagrande chegou a pedir a vocês, em algum momento, para avaliarem retirar a candidatura de Contarato e compor uma aliança com ele?
Não, em nenhum momento.
A conversa não ou por isso?
Não.
Mas o PT-ES considera a candidatura de Contarato irreversível ou está aberto a avaliar um recuo por algum motivo?
Para nós do Espírito Santo, a candidatura do Contarato é, hoje, irreversível. Entretanto, ela está atrelada a uma estratégia de política nacional. Então somente o Diretório Nacional do PT é que poderá fazer algum movimento para remover a candidatura do Contarato.
E se for necessário remover o Contarato da disputa em favor do PSB e da reeleição de Casagrande, desde que atendidas determinadas condições, que condições serão essas?
No momento a gente não tem “condições”. A gente não considera esse cenário.
Mas o governador teria que apoiar explicitamente o Lula, por exemplo?
O tempo do PT e de nós que tocamos essa pré-campanha, e a gente quer que Lula ganhe no Espírito Santo, não é o tempo do governador. É o tempo do PT. Talvez será tarde demais quando ele resolver fazer isso.
Existe alguma conversa no sentido de que João Coser possa ser candidato a vice-governador na chapa de Casagrande? Isso chegou a ser ventilado internamente?
Não. Não só o nome do João, mas nenhum outro nome.
A senhora é candidata a deputada federal?
Sim. Sou candidata a deputada federal.
E como é que está a chapa do PT para a Câmara Federal?
Agora temos que nos sentar para conversar, porque, com a federação com o PV e o PCdoB, a distribuição das vagas é conversada com os demais partidos. Inclusive, esse será um exercício muito importante para formalizarmos entre nós. O PCdoB teve um movimento interessante nas eleições adas [em 2018]. O PV também. Então a soma dos votos dessas duas legendas com os do PT permitiria que essa federação elegesse dois deputados federais e em torno de quatro deputados estaduais no Espírito Santo.
É a estimativa da federação para essa eleição proporcional?
Se nós olharmos os números de 2018, sim. Mas esse é um exercício que ainda estamos fazendo.
E para deputados estaduais? Quais as principais apostas do PT?
Ah, o PT tem muitas apostas. Nós teríamos chapa completa se fôssemos sozinhos. E agora temos a federação. Mas temos, por exemplo, a busca da reeleição da Iriny. E buscamos a ampliação da bancada, com nomes muito importantes. O PT tem, por exemplo, as candidaturas do filósofo e professor Maurício Abdalla, do presidente da Fetaes Julio Mendel, do ex-prefeito João Coser, do ex-deputado estadual Roberto Carlos… Então, se eu for falar com você todos os nomes aqui…
E para o Senado? Quantos são, afinal, os pré-candidatos do PT?
São seis. Tem o ex-deputado estadual Genivaldo Lievore, o vereador André Lopes, a ex-secretária de Educação de Cariacica Célia Tavares, o ex-reitor da Ufes Reinaldo Centoducatte, o presidente do Conselho Municipal de Cultura de Vitória Waldir Castiglioni Filho e agora tem também o empresário Alexandre Ambrosio.
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