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Coluna Vitor Vogas

“Invasão militar”: policiais e bombeiros batem recorde de candidaturas no ES

Veja quem são os candidatos oriundos dessas tropas, os números da “invasão” e entenda por que eles decidiram disputar as eleições em quantidade nunca vista

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União dos Policiais do Brasil (UPB). Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Policiais militares. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 Possivelmente estimulados pela vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, capitão da reserva do Exército, na disputa presidencial de 2018 – tendo como vice-presidente o general Hamilton Mourão –, militares decidiram participar das eleições como nunca antes no Brasil desde a redemocratização, em um fenômeno político replicado em menor escala no Espírito Santo.

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“A invasão militar” no processo eleitoral deste ano é comprovada pelas estatísticas oficiais das candidaturas, disponíveis no site oficial do TSE (obrigado, Justiça Eleitoral), com base na ocupação declarada por cada candidato ao solicitar o registro.

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Em 2018, a título de comparação, um total de 21 candidatos de origem militar disputaram as eleições gerais no Espírito Santo (levando em conta todos os cargos em disputa). Foram 17 policiais militares, dois bombeiros militares e dois militares reformados. O número correspondeu a 2,52% dos 784 candidatos inscritos naquele processo em território capixaba.

Já em 2022, a quantidade de candidatos militares no Espírito Santo chega a 32, número que inclui 21 PMs, sete bombeiros militares e quatro militares reformados. O total corresponde a 4,06% dos 768 candidatos que pediram registro à Justiça Eleitoral.

A lista completa de candidatos oriundos da caserna você pode conferir no fim desta coluna. Um detalhe se destaca de plano: quase todos são filiados a partidos de direita, a maioria dos quais sob o raio de influência de Bolsonaro.

Em âmbito nacional, o aumento também se verifica:

Em 2018, foram 923 os militares que se candidataram no Brasil inteiro, de deputado estadual a presidente da República, o equivalente a 3,17% do total de candidaturas no país. Neste ano, a quantidade geral chega a 1.202 postulantes, ou 4,17% da totalidade.

Um parêntese que julgo pertinente: maior número de candidaturas não significa, necessariamente, maior número de candidatos eleitos. Um exemplo bem-acabado é encontrado no meio do caminho, na última eleição municipal no Espírito Santo. Em 2020, essa “invasão militar” já se notou nas eleições para prefeito em nosso estado.

Quase todos os maiores municípios capixabas tiveram candidatos oriundos do meio militar (alguns deles, mais de um), incluindo Vitória, Vila Velha, Cariacica, Viana, Guarapari e Cachoeiro. Nenhum desses candidatos, absolutamente nenhum, conseguiu tornar-se prefeito.

> Análise: como foi a estreia dos candidatos a governador na TV?

De todo modo, o fenômeno é um fato, requer atenção e precisa ser compreendido. A pedido da coluna, o cientista político João Gualberto analisou as possíveis explicações para essa busca cada vez maior dos militares por chegar a cargos eletivos e exercer o poder político pela via democrática.

Para Gualberto, esse crescimento das candidaturas de militares está inserido num fenômeno maior. É o que ele chama de formação da “nova direita brasileira”:

ANÁLISE (JOÃO GUALBERTO)

Até as eleições de 2018, os brasileiros confundiam a política tradicional com direita. Hoje existe uma direita, um pensamento conservador que tem forte base no cristianismo evangélico e em um certo militarismo, saudosista dos governos militares, simplificando bem a análise. Ou seja, existe um fato novo a ser levado em conta na política: um coletivo que se reconhece em princípios e que se identifica com eles. Podemos chamar esse novo elemento de Identidade Coletiva de Direita.

Na verdade, a direita brasileira acredita muito que ela trouxe a essência da democracia para o jogo da política, pois criou o contraditório, a disputa no campo das ideias.  

Na direita, há uma valorização da atividade política, ao contrário do distanciamento mais comum no restante da população. Daí uma sensação de estar contribuindo para o jogo de evolução da sociedade. O papel do militar nesse novo jogo da política é dar o sentido da ordem, das coisas que funcionam. É uma contribuição dada com vigor e sinceridade.

Daí a inserção das corporações militares no jogo da política. Um jogo denso e sério. O futuro da política brasileira tem que levar em conta a construção da nova direita, na qual os militares e suas candidaturas vieram para ficar.

OS NÚMEROS DO CRESCIMENTO

 2018 (ES)

Bombeiro Militar: 2 (0,24%)

Militar reformado: 2 (0,24%)

Policial militar: 17 (2,04%)

Total: 21 (2,52%)

 

2022 (ES)

Bombeiro Militar: 7 (0,91%)

Militar reformado: 4 (0,52%)

Policial militar: 21 (2,73%)

Total: 32 (4,06%)

 

2018 (BRA)

Bombeiro Militar: 105 (0,36%)

Militar reformado: 215 (0,74%)

Policial militar: 603 (2,07%)

Total: 923 (3,17%)

 

2022 (BRA)

Bombeiro Militar: 124 (0,43%)

Militar reformado:  247 (0,86%)

Policial militar: 831 (2,88%)

Total: 1.202 (4,17%)

 

A LISTA DE CANDIDATOS MILITARES NO ES

 

Deputado estadual

1. Soldado Olmir Castiglioni (Solidariedade) – policial militar
2. Cabo Fonseca (União Brasil) – policial militar
3. Sargento do Carmo (Podemos) – policial militar
4. Sargento Evandro Greggio (DC) – policial militar
5. Sargento Kelly (DC) – policial militar
6. Sargento Rafaela (Republicanos) – bombeiro militar
7. Sargento Vicente (Podemos) – policial militar
8. Tenente Urubatan Rabello (PSD) – policial militar
9. Capitão Assumção (PL) – policial militar
10. Capitão Handerson Braga (PL) – bombeiro militar
11. Capitão Natanel Lima (DC) – policial militar
12. Major Miranda (Patriota) – bombeiro militar
13. Coronel Foresti (PP) – policial militar
14. Coronel Rogério (União Brasil) – policial militar
15. Coronel Weliton (PTB) – militar reformado
16. Farina (PP) – policial militar
17. José Henrique Zezito (Solidariedade) – policial militar
18. Professor Capitão Stein (Rede) – policial militar
19. Serginho Farrarini (União Brasil) – policial militar

Deputado federal

20. Soldado Hinte (PSC) – policial militar
21. Cabo Bonadiman (PL) – policial militar
22. Tenente Assis (PTB) – bombeiro militar
23. Capitã Estéfane (Patriota) – policial militar
24. Coronel Ramalho (Podemos) – militar reformado
25. Coronel Risperi (Patriota) – policial militar
26. Coronel Wagner (Republicanos) – bombeiro militar
27. Perozini (Avante) – policial militar
28. Romano (PRTB) – militar reformado

Senador

29. Coronel Lugato (DC) – militar reformado

2º Suplente de senador

30. Tenente Emerson (PL) – bombeiro militar

Vice-governadora

31. Tenente Andresa (Solidariedade) – bombeiro militar

Governador

32. Capitão Vinicius Sousa (PSTU) – policial militar

 

ADENDO

Na realidade, há mais candidatos de origem militar do que consta na estatística oficial do TSE. Isso porque a estatística leva em conta, especificamente, a ocupação declarada pelos candidatos ao pedir o registro de candidatura. Alguns dos militares, incluindo alguns que usam a patente no nome de urna, declararam outras ocupações. É o caso do Cabo Eugênio, candidato a deputado estadual pelo PTB, que se declarou servidor público estadual (o que de fato é, como policial militar). Já o deputado federal Josias da Vitória, candidato à reeleição pelo PP, declarou ser , mas também é cabo da reserva da PMES.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: vitor.vogas@es360.com.br

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