Coluna Vitor Vogas
Estreante e aliado de Pazolini, ele quer ser prefeito de Vitória
Segundo vereador mais votado em Vitória em 2024 e maior surpresa das últimas eleições na Capital, novato na Câmara conta como se tornou um “fenômeno nas urnas” e o que projeta para seu futuro na política (quiçá já em 2028)

Aylton Dadalto é vereador de Vitória. Foto: assessoria do vereador
Na eleição para vereadores de Vitória em 2024, na lista de 21 eleitos, o jovem Aylton Trancoso Dadalto foi, com sobras, a maior surpresa. Em sua primeira candidatura, o advogado, então com 30 anos, foi simplesmente o segundo mais votado, com a inimaginável marca de 5.218 votos. Tirando seus eleitores e muitos moradores da Regional 5 (Praia do Canto e adjacências), muita gente jamais tinha nem mesmo ouvido falar dele. O segredo do “fenômeno eleitoral”? Ele mesmo responde: preparação.
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“Pouca gente sabe disso, mas um dos segredos do sucesso da minha primeira eleição foi que ‘esse menino sempre se preparou’”, resume.
É com esse mesmo espírito que o vereador, agora com 31, começa a se preparar a atingir a segunda meta literalmente traçada por ele em um caderno da faculdade, quando cursava Direito na FDV: ser prefeito de Vitória, projeto que ele mesmo ite. (Na verdade, ele sonha em chegar a governador, mas vamos por partes: uma coisa de cada vez…)
Mas quem é Aylton Dadalto? Há poucos dias, estive em seu gabinete e conversei um pouco com o novato parlamentar para conhecer e relatar a sua história… a qual começa por uma paixão, despertada e expressada já na adolescência, que difere muito dos interesses da maioria dos jovens nessa idade.
“Sempre quis ser político. Sempre gostei! Acompanhava a política. Adorava ver debate. Na época, era o Lula contra o Alckmin. Eu tinha 12 anos e participava de tudo, de tudo que você imaginar. Quatro anos antes, me lembro: foi o Lula contra o Serra”, conta Aylton. O ano era 2002 (ano do penta). Mas ele nasceu, vejam só, em maio de 1994, justamente entre a morte de Ayrton Senna (o nome é só coincidência) e a conquista do tetracampeonato mundial de futebol pela Seleção Brasileira. O esporte de fato o acompanharia na vida, como veremos a seguir.
Aylton nasceu em Vitória. Sua mãe, capixaba da ilha, é do bairro Santo Antônio. Seu pai, engenheiro agrônomo de carreira do Incaper, do município de Marilândia. Estudou com bolsa em uma boa escola particular, porque sua mãe era coordenadora pedagógica. Até os 18 anos, viveu no bairro Tabuazeiro, na Grande Maruípe. Aos 13, já sabia que queria cursar Direito. Seu pai lhe perguntava por quê. Ele respondia que era para se preparar para ser político.
Aos 18, Aylton se mudou para a Praia do Canto. Logo entrou para a Associação de Moradores, ajudando voluntariamente. Em paralelo, praticava tênis no Clube Álvares Cabral. Baixo na estatura, começara no futsal, como goleiro, mas foi no esporte de Guga, cujo auge coincidiu com sua infância, que ele se firmou. Aos 23, tornou-se presidente da Federação Espírito-Santense de Tênis – segundo ele, o mais novo presidente de uma federação estadual da modalidade em todos os tempos nos país. Ainda joga alguns torneios amadores, dentro do que o mandato lhe permite. É, há mais de dez anos, diretor do Álvares Cabral (por seis anos foi o diretor jurídico; hoje é o de Relações Institucionais).
Como queria desde muito novo, fez Direito, na FDV. Depois, acumulou três pós-graduações: em
Gestão Pública (FDV), em Direito Público (Complexo de Ensino Renato Saraiva) e em Segurança Pública e Investigação Criminal (Gran Concursos).
No 1º período do curso, disputou com uma amiga para ser líder de turma. Foi sua primeira “candidatura”, sua primeira derrota e, com ela, uma lição de vida. “Os colegas me perguntaram por que eu queria representar a turma junto à coordenação. Eu disse: ‘Quero aprender a lidar com gestão de pessoas, ajudar a turma a evoluir, porque um dia eu quero ser político e quero me preparar aqui também para ser candidato’. Perdi para uma amiga (risos), mas hoje a galera da minha turma vem me falar: ‘Cara, você sempre falou isso’.”
Formado em 2017, hoje Aylton é professor da mesma faculdade. Dá aula em duas disciplinas eletivas (não obrigatórias), em cursos de curta duração, com cerca de 12 aulas: Oratória e Oficina de Elaboração de Projetos de Lei. É remunerado por hora-aula.
Após ele se formar, o então vereador Serjão Magalhães o levou para a política. Sua primeira experiência foi como estagiário no gabinete do parlamentar, mas ele conta que só ficou por cerca de duas semanas. Por essa época, ou no concurso para estagiário conciliador e foi atuar num juizado de Vitória. Enquanto isso, ou a pegar algumas causas, em parceria com colegas e como advogado dativo. Mas o que queria mesmo era ser delegado de polícia. ou dois anos estudando arduamente para ser aprovado em concursos. Chegou a ar em um deles.
Mas aí, em 2020, veio o evento que chacoalhou de várias formas a vida de todo o mundo. Com a pandemia do novo coronavírus, o concurso em que ou foi cancelado. “Ao mesmo tempo, começou a pré-campanha de 2020. Foi essa a virada de chave para eu entrar de fato para a política”, revela.
Aylton era, e ainda é, muito próximo do presidente da Associação Comercial da Praia do Canto, César Saad, que dirige a entidade há muitos anos. Na associação, ele estava muito envolvido em questões ligadas à segurança pública. “Eles me perguntaram se eu queria ser candidato a vereador. Mas eu respondi que não me sentia preparado ainda.”
Foi então que o jovem advogado assumiu uma outra missão, que redirecionaria sua vida: coordenar a campanha do delegado Leandro Piquet, então titular da Delegacia da Polícia Civil no bairro. Em sua primeira (e única) campanha, coordenada por Aylton, Piquet se elegeu com 2.360 votos. Foi o 5º mais votado para a Câmara de Vitória em 2020, atrás de Denninho Silva, Camila Valadão, Davi Esmael e Luiz Emanuel. “E a gente achava que era voto pra caramba…”, lembra Aylton, que teria mais que o dobro quatro anos depois.
Os votos de Piquet ficaram concentrados na Praia do Canto e imediações, onde eles fizeram uma campanha muito forte. “Fiz com paixão, foi um sucesso, deu certo. O combinado era que, depois da eleição, eu chefiaria o gabinete dele, mas eu vi que não era o meu perfil.”
Nesse ponto, surgiu-lhe o segundo convite que mudaria sua vida. Outro delegado nesta história, Pazolini, acabara de se eleger para o primeiro mandato como prefeito de Vitória. Chamou, então, Aylton para colaborar em sua nova equipe. O advogado ou por três cargos na istração municipal, em três pastas diferentes.
Primeiramente, ele foi ser assessor-adjunto da Central de Serviços, sob a chefia do até hoje secretário Léo Formigão. Cuidava da parte mais jurídica, de contratos e concessões
(sua monografia na FDV foi sobre concessões públicas e PPPs). Em 2021, porém, primeiro ano do governo entrante, a pandemia piorou. Vivendo sob a nova ordem do necessário isolamento social, as pessoas não estavam nas ruas. Não havia muito o que fazer numa “Central de Serviços”. “Não tinha rua! A gente não podia fazer nada”.
Foi aí que o então secretário de Governo de Pazolini, Roberto Carneiro, hoje presidente do partido Republicanos em São Paulo, chamou-o para ser gerente de Parcerias Público-Privadas na Secretaria da Fazenda, sob o comando de Aridelmo Teixeira (Novo). Ele ficou por cerca de um ano lá, ajudando no desenvolvimento de projetos de PPPs.
“Vitória até hoje não tem uma PPP de fato. Ajudei a montar um núcleo e elaborei três PMIs [Procedimento de Manifestação de Interesse]: um de gestão istrativa de escolas públicas, um de parques e praças e um de cidades inteligentes. Estão na incubadora lá.”
Na Secretaria da Fazenda, perceberam nele um traquejo política e de lá o mandaram para a Secretaria de Governo (centro nervosos das articulações e negociações políticas da prefeitura). Ele então se tornou assessor-adjunto da pasta, sob a chefia de Aridelmo, e começou a exercitar a política na veia, no dia a dia. Atendia a demandas, desenvolvia projetos, levava-os ao secretário e, de vez em quando, ao prefeito.
A experiência diversificada, ando por vários setores, ajuda-o muito hoje, no exercício da vereança. Por conhecer os atalhos internos, ele já bate à porta certa. “Hoje eu conheço a prefeitura de cabo a rabo. Sei aonde preciso ir pra cada coisa. Então minha prestação de serviço para o munícipe é muito célere.”
Enquanto acumulava experiências na Prefeitura de Vitória, Aylton se envolvia cada vez mais nas atividades da Associação de Moradores da Praia do Canto. Em 2021, foi eleito pelos moradores (com baixa adesão) para representar a Regional 5 no Conselho Municipal de Segurança. No mesmo ano, virou presidente do Conselho, por votação interna, entre os conselheiros. Em 2023, foi reeleito para seguir representando a Regional 5, desta vez com votação recorde e ampla participação popular. “Foi a maior votação da história de um conselho não remunerado em Vitória”, conta.
Aí vieram as eleições municipais de 2024. E aí, sim, ele sentiu que era chegada a sua hora. Sentia-se, enfim, preparado. Havia feito às três pós-graduações, ado pelos cargos na prefeitura, acumulado a experiência como membro do Conselho de Segurança… além de ter vivido na pele uma campanha, como coordenador da de Piquet quatro anos antes. “Sempre falei que eu só seria candidato se estivesse preparado tecnicamente, emocionalmente e espiritualmente.”
Em março do ano ado, filiou-se ao Republicanos – primeira filiação partidária da sua vida. Foi eleito com os 5.218 votos que surpreenderam meio mundo. Desse total, mais de 2,2 mil votos foram obtidos na Regional 5 – aproximadamente 22% de todos os votos dados por eleitores dessa parte da cidade. Foi o candidato mais votado da história da Praia do Canto. Só na Regional 5, teve mais votos do que tiveram, em toda a cidade, alguns colegas eleitos.
Suas principais bandeiras de campanha foram a segurança pública, esportes e a atração de parcerias com a iniciativa privada. No exercício do mandato, tem priorizado essas pautas, além de outras. Está pondo em evidência a pauta da reforma tributária, cujos efeitos, prevê, para Vitória, serão “catastróficos”. Também ganhou destaque ao entrar no tema da segurança viária, com o projeto “Bike Legal”. É o presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, além de membro da Comissão de Justiça, da de Políticas Urbanas e da de Cultura, Esporte e Lazer.
Logo depois da vitória eleitoral, chegou a colocar o nome à disposição para ser, logo na chegada, presidente da Mesa Diretora da Câmara. Mas essa aí não deu nem para o cheiro. Deu Anderson Goggi (PP) na cabeça, sem adversários.
Além do próprio Pazolini, Aylton diz ter relação política muito forte com o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União Brasil), com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, e com o deputado federal Evair de Melo (PP). “Eles me ajudam muito. Marcaram um apoio forte na minha campanha.” Os três são prováveis candidatos a deputado federal em 2026, sendo que Evair quer tentar ser senador. O vereador diz que certamente os apoiará.
Advogado, Aylton diz também ter uma parceria muito boa com a atual presidente da OAB-ES, Érica Neves. “Sou muito parceiro dela. Adora ela. Acho uma pessoa disruptiva. Fui o único vereador eleito de Vitória que deu apoio declarado para ela na campanha à presidência da Ordem, no ano ado.”
Católico, ele diz fazer tudo com muita fé e com senso de “propósito”. “Acho que Deus botou esse caminho para mim. Acredito muito nisso. Então faço com muito amor.”
Do ponto de vista ideológico, Aylton se declara de centro-direita, ou direita moderada.
“Tenho o projeto de ser prefeito”
Daqui em diante, seguimos no formato “pingue-pongue”, aliás, tênis de mesa, já que o entrevistado é um tenista.
Bem, está lá no seu caderno da faculdade: “Serei prefeito de Vitória”. Aqui na nossa conversa, um dos motes foi “preparação”. O senhor está se preparando para ser candidato a prefeito? Confirma que realmente gostaria de ser prefeito um dia? Nutre mesmo esse sonho de se candidatar, quiçá já na eleição municipal de 2028?
Aylton Dadalto: Eu sei esperar minha hora. Em 2020 eu poderia ser candidato a vereador e não fui. Eu tenho, sim, o sonho de ser prefeito. Isso eu nunca escondi de ninguém. Está nesse caderno meu da faculdade que eu sempre falei que um dia eu seria vereador, prefeito e governador. Sempre falei isso, que eu tenho esse projeto de visão, de futuro, de propósito. Acredito que estou me preparando para um dia, sim, ser candidato a prefeito. Mas hoje não tenho essa ansiedade de ser em 2028, até porque estou construindo o meu mandato e tenho a consciência de que preciso entregar um bom mandato. Preciso realmente trazer a credibilidade que apostaram em mim. Além disso, eu tenho um grupo. Eu respeito muito o grupo. A Cris [Samorini] vai ser prefeita provavelmente, se o Lorenzo sair no ano que vem. Então ela é a pessoa do momento. E eu respeito muito isso, assim como respeitei não ser candidato em 2020 porque talvez tinha alguém na minha frente. Então, não escondo esse sonho, esse meu desejo, porque eu trabalho em prol disso. Mas não boto prazo de fato. Não tenho ansiedade nisso. Mas estou trabalhando para estar bem posicionado, para entregar um bom mandato, e em 2028 vai ser o grupo que vai decidir. Não tenho problema quanto a isso. Acredito que a Cris vai conseguir fazer um bom trabalho e caminhar bem. Se não for em 2028, talvez em 2032, talvez em 2036… Mas eu tenho esse projeto.
O senhor acredita que Cris terá a preferência para ser a candidata do grupo em 2028, por ser ela a vice-prefeita e assumir a prefeitura no lugar de Pazolini no ano que vem, para ele ser candidato a governador? Nesse caso, em 2028, será uma reeleição para ela…
Aylton: Na política, às vezes as pessoas não enxergam muito o óbvio, mas isso é o óbvio. Agora, acredito muito que ela vai mostrar um bom trabalho e se consolidar como um nome preparado. Então, isso sendo o caminho natural, estamos juntos. Agora, quero dizer também que me dou bem com todos os grupos políticos do Espírito Santo… Acredito que você ter um grupo não significa que precisa ser inimigo dos outros.
Inclusive com o do governador Casagrande?
Aylton: Sim.
Mas e se houver a possibilidade, “se o cavalo ear arreado”, o senhor se sente pronto, preparado e disposto para ser candidato a prefeito já em 2028?
Aylton: Só se o grupo falar: é você. Não quero ar por cima de ninguém. Respeito a fila. Só se todo mundo falar “vamos no seu projeto porque vai ser o nosso projeto”. Sempre falei que prefiro não ser nada a ar por cima de alguém. Você tem um sonho e todo mundo tem o seu.
O senhor não pretende ser candidato a deputado estadual em 2026?
Aylton: Não.
Então, se não for candidato a prefeito em 2028, irá para a reeleição?
Aylton: Exato.
