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Grupos Band, Folha e Globo deixam de cobrir presidente no Alvorada
A decisão surgiu ontem à noite: os grupos Band, Folha e Globo não vão mais cobrir as paradas do presidente Jair Bolsonaro diante de seus apoiadores em frente ao Alvorada. A escalada de ofensas aos jornalistas chegou a um nível inável. E essa escalada é puxada e estimulada pelo presidente. Houve uma mudança no “cercadinho” destinado aos apoiadores. Foi criada uma nova área, e os jornalistas ficaram entre dois grupos de manifestantes. Para separar os repórteres dos bolsonaristas foi instalada apenas uma grade e uma fita de proteção. Quem não quer respeitar regra democrática não vai respeitar fita plástica. Os ataques ficaram mais graves e pessoais. Os grupos decidiram retirar seus repórteres do local até haver garantia de maior segurança para eles trabalharem.
Na prática, os grupos de comunicação vão deixar de noticiar as mensagens todas emitidas por Bolsonaro em frente ao Alvorada. O presidente vai, publicamente, menosprezar a medida. Mas é ele quem mais vai sentir. Apesar de declarar menosprezo pela “mídia”, Bolsonaro é fascinado por ela. Há anos, desde a época dos programas de Luciana Gimenez, busca repercussão nos veículos tradicionais para suas ideias. As provas vão desde o hábito, incomum para os presidentes brasileiros, de falar com jornalistas todos os dias até a busca incessante de espaços nos programas de Datena, Ratinho, Silvio Santos e, mais recentemente, da CNN.
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De qualquer forma, é de se lamentar o fato de a imprensa deixar de fazer seu trabalho por conta da pressão exercida por grupelhos políticos. É mais uma pequena pancada na nossa combalida democracia.
Sem testes, estamos perdidos nas curvas da covid-19
Acontece aqui, no Espírito Santo, em São Paulo, no Rio, em vários estados: governadores e autoridades de saúde dão entrevistas pendendo entre sinais de flexibilização do isolamento e adoção de medidas mais rígidas, com a possibilidade de adoção do fechamento total de atividades, o chamado lockdown. Fazem isso por um motivo muito simples: nós não temos a mínima noção da dimensão da pandemia no estado, no país. E isso acontece porque o Brasil testa pouco, muito pouco.
Levantamento do Worldometers, site de referência para dados da covid-19, mostra o Brasil com 735 mil testes para uma população de 212,5 milhões de habitantes. Os Estados Unidos, líder mundial no número de casos e mortes, fez 15 milhões de exames para uma população de 331 milhões de habitantes. A Rússia, com 146 milhões de habitantes, já fez 9 milhões de testes, só para ficar em exemplos de países com dimensões territoriais parecidas com as do Brasil. Pesquisa do Ibope, baseada em estudos da Universidade Federal de Pelotas (RS), indica um número de casos sete vezes superior ao registrado oficialmente.
Quando questionado, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, afirma: “O Espírito Santo está entre os estados com mais testes no país”. É verdade, mas não é uma grande vantagem. Funciona mais ou menos como as boas notas tirada pelo estado nas provas nacionais de educação. É bom, mas o nível atingido pelo país está abaixo da média aceitável.
Sem noção clara da dimensão da pandemia, as declarações das autoridades de Saúde não nos permitem saber se estamos subindo ou descendo a curva de casos e mortes. Porque eles parecem também não saber. E por conta disso acabam balançando entre medidas de flexibilização e de mais restrição do isolamento. É como se estivéssemos dirigindo numa estrada tomada por uma forte neblina. Sem visão suficiente, o motorista não sabe se para ou acelera, por receio de derrapar na curva. Está perdido, como, muitas vezes, parecem estar autoridades sanitárias em seus mais vários níveis…
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