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Coluna Vitor Vogas

Especial: miséria, miséria… a verdadeira protagonista desta eleição

Os números reais sobre o tema que dominou o debate eleitoral para o governo do ES, duas leituras possíveis (uma boa e uma ruim para Casagrande) e as verdadeiras causas do flagelo que voltou a assombrar o estado e o país

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Fome; miséria; pobreza. Foto: FreePik

Fome; miséria; pobreza. Foto: FreePik

Nos debates, nas entrevistas dos candidatos, na propaganda eleitoral e principalmente nas críticas de adversários eleitorais ao governador e candidato à reeleição Renato Casagrande (PSB), ele sempre estava presente. A esta altura do processo, podemos afirmar sem medo: o verdadeiro protagonista desta campanha ao governo do Espírito Santo é o fantasma do aumento da pobreza – com suas acompanhantes mais perversas: a fome e outras formas de insegurança alimentar.

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O tema dominou o debate eleitoral entre Casagrande, Manato (PL), Guerino Zanon (PSD), Audifax (Rede) e Aridelmo (Novo). Como costuma ocorrer nestes casos, foi grande a guerra de narrativas. Por isso e pela importância da questão, apresentamos aqui, nesta sexta (30), os números reais do problema no Espírito Santo e oferecemos alguns ângulos de interpretação (positivos ou negativos para o atual governo).

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Os dados foram extraídos de estudo publicado em julho pelo Instituto Jones dos Santos Neves, a partir de informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O intervalo considerado é o mais recente: de 2020 para 2021.

Para podermos fazer uma avaliação justa, honesta e ponderada sobre o agravamento da situação no Estado, para sabermos o quanto estamos melhor ou pior que o resto do Brasil nesta matéria, também apresentamos os números do aumento da pobreza e da miséria no país inteiro no período.

O que é “pobreza”? E “miséria”?

Antes de tudo, é preciso precisar os conceitos. Do que estamos falando exatamente? Pelo critério do Instituto Jones:

Linha da pobreza: famílias com renda per capita mensal de até R$ 486,70;

Linha da extrema pobreza (doravante, miséria): renda domiciliar per capita de até R$ 168,13 por mês.

Outro esclarecimento importante, pois vejo até candidatos confundindo isso:

“Miséria” é um subconjunto que está dentro de um conjunto maior denominado “pobreza”. Ou seja, pessoas consideradas miseráveis fazem parte do universo das pessoas pobres. Não são um grupo à parte.

Pessoas na miséria são necessariamente pobres. Mas pessoas pobres não necessariamente são miseráveis.

emos aos números assustadores.

OS NÚMEROS GERAIS DO ESPÍRITO SANTO

O aumento da pobreza

Em 2020, 18,7% da população capixaba vivia abaixo da linha da pobreza. Em 2021, o percentual de pobres subiu para 26,3%.

Em termos absolutos, o número de pobres aumentou de cerca de 770 mil em 2020 para 1.079.124 em 2021. Portanto, de 2020 para 2021, cerca de 300 mil pessoas entraram na zona da pobreza no Espírito Santo.

O aumento da miséria

De 2020 para 2021, o percentual de miseráveis vivendo no Espírito Santo ou de 3,8% para 6,7%. Em números absolutos, a quantidade de pessoas abaixo da linha da miséria subiu de cerca de 155 mil em 2020 para 274.605 em 2021. Portanto, cerca de 120 mil pessoas adensaram a massa de miseráveis vivendo no Estado.

Esse é o quadro específico do Espírito Santo, tomado isoladamente. Por evidente, é um quadro muito grave.

Mas não se pode avaliar o Espírito Santo como um país à parte, destacado do contexto nacional. Por isso, vamos aos números gerais do Brasil:

OS NÚMEROS GERAIS DO BRASIL

O aumento da pobreza

Em 2020, 24,1% da população brasileira vivia abaixo da linha da pobreza. Em 2021, o percentual de pobres subiu para 29,4%, o que corresponde a 62,5 milhões de brasileiros vivendo nessa condição.

O aumento da miséria

De 2020 para 2021, o percentual de miseráveis vivendo no Brasil ou de 5,7% para 8,4% da população, o equivalente a 17,8 milhões de habitantes.

Cabe acrescentar que esses indicadores foram os piores da série histórica desde 2012; que, em 2021, o Brasil voltou a figurar no Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU); e que, de acordo com relatório da Rede Penssan, 125,2 milhões de brasileiros (mais da metade da população do país) estavam em situação de insegurança alimentar e mais de 33 milhões de pessoas avam fome no Brasil em 2021.

O quão grave é a situação do Espírito Santo se cotejada com o quadro nacional?

Quando colocamos em perspectiva a situação do nosso estado, há duas maneiras de se ler os números: a positiva e a negativa. Cada um escolherá a que preferir.

A LEITURA POSITIVA

Sim, é verdade: de 2020 para 2021, a pobreza e a miséria aumentaram no Espírito Santo, mas é muito fácil perceber que ambas já estavam abaixo da média nacional e assim permanecem.

Em 2020, os pobres no Brasil inteiro eram 24,1% da população. No Espírito Santo, eram 18,7%. Os miseráveis no Brasil eram 5,7%; no Espírito Santo, 3,8%.

Em 2021, a pobreza ou a atingir 29,4% da população brasileira. No Espírito Santo, os pobres aram a ser 26,3% da população. Já a miséria ou a afligir 8,4% dos brasileiros e 6,7% dos capixabas.

Além disso, se dividirmos o ranking dos estados brasileiros em duas metades (a pior e a “menos ruim”), o Espírito Santo figurava e continua figurando na “menos ruim”.

O Espírito Santo é o 11° estado com a menor taxa de pobreza do país e o 10° estado com o menor índice de miséria.

A LEITURA NEGATIVA

Sim, é verdade que as taxas de pobreza e de miséria do Espírito Santo já estavam abaixo da média nacional e assim continuam.

Mas, de 2020 para 2021, a pobreza e a miséria no Espírito Santo cresceram em uma proporção superior à média nacional. Vale dizer: cresceram em ritmo mais acelerado, acima da velocidade nacional.

Se a pobreza no Brasil aumentou de 24,1% para 29,4% da população total, isso significa um crescimento de 22% em um ano.

No mesmo intervalo, com um aumento de 18,7% para 26,3%, a população pobre no Espírito Santo teve um crescimento de 40%.

Da mesma forma, se a miséria no Brasil subiu de 5,7% para 8,4% da população total, isso representa um crescimento de 47% em um ano.

No mesmo período, com um aumento de 3,8% para 6,7%, a população miserável no Espírito Santo registrou crescimento de 76,3%.

AS VERDADEIRAS CAUSAS

O grave recrudescimento da pobreza e da miséria nos últimos anos é um flagelo de amplitude nacional, não circunscrito ao Espírito Santo, mas também tem profundo impacto sobre a população capixaba.

Foi consequência de uma “tempestade perfeita”: a combinação de fatores como a pandemia do novo coronavírus (desde março de 2020), a instabilidade política e econômica, o aumento do desemprego, a volta do fantasma da inflação que corroeu o poder de compra sobretudo dos mais vulneráveis.

No período em questão, também teve peso considerável a interrupção do pagamento do Auxílio Emergencial em 2021, o que atirou enorme contingente de famílias economicamente vulneráveis de volta para baixo das linhas da pobreza e da miséria. Note-se que, no ano anterior (de 2019 para 2020), apesar da pandemia, a pobreza no Brasil tinha sofrido leve redução justamente por conta do pagamento do benefício às famílias mais vulneráveis.

Acima de tudo (e de todos), o flagelo foi agravado pela desastrosa condução da pandemia por parte do governo federal, sob a égide do negacionismo ditado por um presidente omisso e irresponsável que lavou as mãos diante da “gripezinha”, debochou da doença e de suas vítimas e se queixou do “mimimi” de um “país de maricas”, entre inúmeros outros disparates produzidos em série por ele.

A negligência, a indiferença e a ausência de coordenação nacional só prolongaram a tragédia humanitária, atrasando em meses o início da vacinação em massa no país, onde morreram 11% de todas as vítimas da Covid-19 em todo o planeta, muito embora o Brasil só responda por 3% da população mundial.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: vitor.vogas@es360.com.br

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