Coluna André Andrès
Especial Dia dos Namorados – O mais romântico dos rótulos
Fala-se muito sobre a relação entre vinho e cultura e entre vinho e romance. Pois é difícil achar um rótulo tão rico de cultura e romance quanto o tinto Pedro e Inês, produzido no Dão pelo grande enólogo Carlos Lucas, um visitante constante de Vitória em períodos pré-pandemia.
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O vinho relembra uma das mais conhecidas e trágicas histórias de amor de Portugal. No século XIV, o príncipe D. Pedro estava para se casar com a princesa espanhola Constança. Casamento arrumado pelo rei de Portugal, D. Afonso IV, com a concordância de D. João Manuel, da casa de Castela. Constança tinha entre suas damas de companhia a filha de um poderoso senhor de Espanha, chamada Inês de Castro. A paixão entre Pedro e Inês foi avassaladora. Mas o romance ia contra os interesses políticos e os padrões morais da época…
Pressionado, o rei D. Afonso condenou Inês ao exílio. Pouco tempo depois, Constança morreu, ao dar à luz D. Fernando, herdeiro do trono. Pedro, então, trouxe sua amada de volta a Portugal. Tiveram três filhos. Mas o romance teria um final terrível: influenciado por três conselheiros, D. Afonso ou a acreditar num complô dos parentes espanhóis de Inês e mandou decapitá-la enquanto o filho, Pedro, estava ausente.
Ao saber do assassinato, Pedro jurou vingança. Ela viria dois anos depois, quando ele assumiu o trono, após a morte do pai. Mandou matar os conselheiros, arrancando-lhes o coração. E declarou ter se casado com Inês em segredo. E isso a tornava, portanto, rainha mesmo após estar morta.
Há muitas lendas em torno desse romance. Uma delas trata da coroação de Inês: após ter sido exumada, ela teria sido coroada por Pedro. Ele, então, exigiu dos nobres um cumprimento final, um beijo na mão de quem eles haviam desprezado.
Os corpos dos dois estão enterrados lado a lado no mosteiro Real de Alcobaça, onde hoje podem ser visitados. No túmulo de Pedro, uma frase estampa o seu desejo de permanecer junto de sua amada “até o fim dos tempos”. Esse desejo é citado no rótulo do vinho produzido por Carlos Lucas.
O romance originou um frase ainda hoje muito usada, “Agora Inês é morta”, referindo-se ao fato de ela ter sido coroada rainha, mas quando já era tarde demais. E também inspirou Camões a escrever os versos: “As filhas do Mondego a morte escura / Longo tempo chorando memoraram / E por memória eterna em fonte pura / As lágrimas choradas transformaram”. É uma citação à versão segundo a qual Inês chorou ao ver seus assassinos, e suas lágrimas se transformaram numa fonte da quinta onde ela se encontrava com Pedro. Hoje o local é chamado de Quinta das Lágrimas.
Como? E o vinho? Ah, sim! O vinho Pedro e Inês nasce da união, sem maiores dramas, das castas Baga e Alfrocheiro. Elas são fermentadas e amadurecem juntas em barricas de carvalho francês. Transformam-se em um tinto equilibrado, sedoso, elegante, poderoso e com muita vida pela frente. Excelente rótulo. Uma prova da união entre história, amor, aromas e sabores poucas vezes alcançada.
Quanto custa? Em torno de R$ 700. Acho o preço acima do normal? Bem, trata-se de um vinho especial, com uma história especial e, neste caso, para ser aberto para uma pessoa especial.
Onde? Wine4friends.com.br
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