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É preciso cobrar a redução de gastos do Legislativo e do Judiciário
Já virou até meme: são cada vez mais comuns as acusações contra governadores defensores do isolamento social; eles estariam interessados na manutenção do estado de emergência para meter a mão no dinheiro público por meio de compras superfaturadas. Há exageros e há realidades na acusação. O exagero reside na generalização e na teoria conspiratória, segundo a qual a pandemia seria uma grande armação para propiciar mais uma roubalheira no país. Mas é necessário reconhecer a existência dos aproveitadores de sempre, capazes de elevar os preços de equipamento em 10, 15, 20 vezes, como revelou a operação deflagrada na semana ada no Rio de Janeiro. Suspeito de participação na fraude, o secretário de Saúde, Edmar Santos, foi demitido.
As suspeitas sobre o Executivo têm, enfim, seus motivos, embora seja necessário evitar os excessos.
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Mas… Falta alguém nessa história. Porque se os governos devem ser cobrados na retidão de seus atos, o mesmo deve ser feito em relação ao Legislativo e Judiciário. Deputados federais continuam a receber suas verbas de gabinete e a reposição de gastos injustificáveis. Deputados estaduais não aceitam nem mesmo debater a redução de seus salários e gastos. O mesmo ocorre com os senadores. Nem é necessário falar de juízes, desembargadores e ministros, sempre intocados em seus benefícios.
Um exemplo da manutenção dos gastos dos parlamentares foi trazido nesta segunda-feira, dia 18, pela Folha de São Paulo. A reportagem é extensa, mas basta um exemplo: uma deputada chamada Shéridan (PSDB-RR) gastou R$ 87 mil, incluindo hospedagem em hotel em Fortaleza, em um fim de semana de março, quando a pandemia já estava entre nós e o trabalho no Congresso já tinha sido reduzido. Os relatos são vários e vão todos na linha da festa com o dinheiro público enquanto estão todos preocupados com a covid-19.
Uma festa, aliás, constante, perene e sempre surpreendente. O Tribunal de Contas do Estado anunciou, solenemente, seu esforço para colaborar com o governo Renato Casagrande na tentativa de reduzir os gastos neste ano. No meio das medidas anunciadas pelo TCE, órgão de questionável existência, está “a suspensão das férias indenizadas para conselheiros aposentados até dezembro de 2021”. Pois é, ficamos sabendo, por conta do corte de gastos, da existência de pagamentos como esse… A pandemia tem diversos efeitos colaterais. Um deles é de nos revelar gastos muito estranhos.
De qualquer forma, o TCE, órgão de questionável existência, fez lá seu “sacrifício”. Enquanto isso, outros agentes públicos, de outros poderes, ficam quietinhos, como se nada tivessem a ver com a crise. Projetos de redução de salários de parlamentares dormem em berço esplêndido nas gavetas da Assembleia e do Congresso. Ninguém no Judiciário se move para rever seus recebimentos e seus gastos. Até mesmo a proposta de congelamento (congelamento, não redução) de salários de servidores proposta pelo governo ainda não foi sancionada.
Os integrantes desses poderes agem como vivessem num mundo paralelo, onde não há crise, não há vírus, não há pandemia. Mas há quem sustente seus salários e mordomias: somos nós, moradores de um outro mundo, real, onde a crise nos consome, o vírus nos assusta e a pandemia nos entristece.
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