Coluna Vitor Vogas
Casagrande se lança à reeleição sob o lema da “coragem” e do “equilíbrio”
Governador calibrou o discurso de campanha e deu boas pistas sobre os motes que deverão ditar sua propaganda eleitoral
Ao dar, como chamou, “o primeiro o” da sua pré-candidatura à reeleição, o governador Renato Casagrande (PSB) forneceu uma boa amostra daqueles que deverão ser os principais motes do seu discurso oficial de campanha. Na tarde desta segunda-feira (11), Casagrande confirmou publicamente que concorrerá a mais um mandato no governo estadual. Ao fazer o anúncio, traçou um balanço dos feitos da atual istração, dando a ver alguns dos prováveis eixos da sua propaganda eleitoral.
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Primeiro: apresentar o Espírito Santo como o estado responsável pela melhor gestão da pandemia no país.
Segundo: destacar a combinação de “coragem”, “equilíbrio” e “serenidade” com que o Estado conseguiu superar os momentos mais adversos da pior crise sanitária do mundo em cerca de cem anos, sob a sua liderança e graças à sua capacidade de diálogo e de articulação.
Terceiro: mostrar que, graças ao volume de investimentos realizados pelo atual governo e à boa organização fiscal do Estado, o Espírito Santo “está preparado para o futuro” (expressão usada por ele mais de uma vez, revelando um possível slogan de campanha), daí a importância de que não haja descontinuidade das políticas públicas implementadas por ele e sua equipe.
É basicamente com essas armas que Casagrande entra oficialmente no combate.
“Fizemos o Estado voltar a crescer”
O governador iniciou a sua fala resgatando o principal compromisso de campanha assumido por ele na eleição ada (segundo ele, cumprido): “Em 2018, assumimos o compromisso de fazer o Estado voltar a crescer. Nestes três anos e meio de governo, avançamos com esse objetivo de tirar o Estado de uma posição de poucos investimentos e poucas ações. Criamos um ambiente de muito mais oportunidades para muitos capixabas.”
“Intensas dificuldades”
Casagrande destacou que governou num período de “intensas dificuldades” (nas entrelinhas, quis dizer que não só fez muito como fez muito num período especialmente difícil). Primeiramente, lembrou as fortes chuvas de 2020 “que exigiram a reconstrução de 25 municípios no Espírito Santo”, entre os quais Castelo e Iconha.
“Desafio totalmente desconhecido”
Em seguida, o governador se deteve no acontecimento mais desafiador de todos – não só para ele como para todos os gestores públicos do planeta –, que tomou boa parte de sua exposição: a pandemia do novo coronavírus. “amos a enfrentar um outro desafio, esse totalmente desconhecido, que exigiu que a gente tivesse muita capacidade de integração para dentro do governo e muita capacidade de articulação para fora do governo.”
Nesse ponto, Casagrande ou a enaltecer a coragem e o equilíbrio dele mesmo e de seus auxiliares (substantivos reiterados por ele) para fazer “aquilo que era certo” quando a “situação de guerra” o exigiu, tomando muitas vezes medidas impopulares, mas imprescindíveis para evitar mais mortes pelo novo coronavírus.
“Isso exigiu de nós coragem para tomar medidas duras, difíceis e às vezes antipáticas. A situação de guerra que vivemos exigiu que a gente sempre tomasse as decisões na direção daquilo que era o certo, não do caminho mais fácil. Junto com outras lideranças, conseguimos tornar esse Estado uma referência na gestão da pandemia, com um objetivo claro: aquilo que é nossa tarefa do governo, que é cuidar das pessoas.”
“País dividido”
Casagrande ressaltou que as medidas necessárias foram tomadas por seu governo sob muita pressão e em meio a um ambiente marcado por polarização política, negacionismo por parte de alguns líderes e “produção permanente de fake news”.
“Fizemos esse trabalho de gestão da pandemia com o país dividido. Essa divisão ficou mais visível no momento mais grave da pandemia. Vejam o debate que se estabeleceu entre a negação da ciência e as medidas orientadas pela ciência e pelos profissionais da saúde. No período mais grave da pandemia, enfrentamos uma produção permanente de fake news. Algumas pessoas acabaram brincando com a vida da maioria dos brasileiros e dos capixabas. Ou davam importância a medicamentos que não tinham importância nenhuma, ou não davam importância à vacinação, ao uso de máscaras, ao afastamento entre as pessoas.”
“Serenidade, coragem e equilíbrio”
O governador ressaltou que foi preciso enfrentar com equilíbrio “pessoas desequilibradas”:
“Então enfrentamos esse momento de turbulência no comportamento de algumas pessoas, enfrentamos esse momento de instabilidade e de narrativas falsas com muito equilíbrio. Foi um momento que exigiu de nós coragem nas decisões, mas também equilíbrio para enfrentar algumas pessoas desequilibradas, paciência para enfrentar algumas pessoas impacientes e muita eficiência para também responder às pessoas que também estavam com um nível de exigência grande, porque tinham medo de fato daquilo que poderia acontecer na gestão da pandemia.”
Casagrande mencionou que, em alguns momentos, ele tomou decisões com as quais a maioria das pessoas então parecia não concordar, como a preferência por ampliar a rede própria de leitos hospitalares, quando a maioria das pessoas defendia a instalação de hospitais de campanha – em boa-fé em muitos casos, por medo de não encontrar atendimento. “A gente que estava no governo precisava enxergar um pouco mais adiante, para depois as pessoas de fato entenderem que a decisão que estávamos tomando era a decisão correta”, disse ele.
“A serenidade, a coragem e o equilíbrio fizeram parte desse momento difícil que a gente ou”, resumiu Casagrande, sublinhando, como observado acima, três prováveis motes de sua propaganda eleitoral.
“O melhor está por vir”
Repetindo que “o melhor está por vir” e que “este Estado está preparado para o futuro”, Casagrande enumerou alguns indicadores positivos obtidos pela atual istração, começando pelo “processo crescente de retomada dos investimentos públicos, sobretudo em infraestrutura” (mais investimentos em 2019 que em 2018, mais em 2020 que em 2019, e assim sucessivamente).
Ele salientou, ainda, que o Espírito Santo é o estado que tem a menor mortalidade infantil do país, o que tem a melhor gestão fiscal, o que tem os melhores índices de transparência pública e o único que possui um Fundo Soberano (criado em 2019, por projeto de lei enviado por ele à Assembleia Legislativa).
Na educação, segundo Casagrande, o Espírito Santo ou de 32 para 132 escolas em tempo integral desde que ele reassumiu o governo, em 2019. Na segurança, ele assinalou a área como “um desafio permanente”, mas sublinhou que o número de homicídios vem caindo e que, nesse quesito, o primeiro semestre deste ano foi o melhor da série histórica.
Na economia, ele ressaltou que o Espírito Santo criou 30 mil empregos de janeiro a maio deste ano (“um número recorde”) e que, só em maio, foi o estado que mais gerou novas vagas de trabalho formal no país, proporcionalmente ao tamanho da população. No ano ado, foram 54 mil. “As medidas tomadas lá atrás na pandemia repercutem positivamente agora, mostrando que lá atrás estávamos na direção correta e que estamos na direção correta”, reamarrou ele.
“Estamos hoje mais fortes do que estávamos antes da pandemia em termos de união da população capixaba. […] O Estado está mais sólido e mais unido em torno de desafios em comum que temos no Espírito Santo. […] Fizemos ações nestes três anos e meio que até surpreendem algumas pessoas quando a gente relata”, enalteceu. E ainda fez um prognóstico ousado: “Mais alguns anos e estaremos entre as três primeiras colocações em todas as áreas da istração pública.”
Repisando que “o melhor está por vir” e que “este estado está preparado para o futuro”, Casagrande argumentou que, se reeleito, dará “continuidade e muita velocidade nas políticas públicas”. “Aquilo que a gente fez é base para a gente fazer cada vez mais no futuro”, concluiu, explicitando outro mote de campanha.
Metas e marcas
Instado a especificar quais são as marcas que pretende dar a eventual novo governo e quais serão os principais pontos de sua plataforma de campanha, Casagrande relacionou três. Anotem aí as promessas:
1. Tornar a educação pública estadual a melhor do país;
2. Ampliar a rede de proteção social para combater a pobreza e a fome (flagelos que recrudesceram, nos últimos anos, no Espírito Santo e no resto do país);
3. Deixar o Espírito Santo entre os cinco estados menos violentos do Brasil (hoje, segundo ele, ocupamos o 13º lugar em número de homicídios).
Combate à pobreza
Um dos calos eleitorais de Casagrande, bem como de qualquer governante que postule a reeleição em outubro, a extrema pobreza (ou miséria) realmente voltou a crescer no Espírito Santo e em todo o país, acompanhada de sua parceira mais íntima: a fome.
Citando a distribuição de 265.200 cestas básicas previstas para este e outros programas mantidos pelo governo do Estado para transferir renda diretamente a pessoas em extrema pobreza (renda domiciliar de até R$ 164,00 per capita), Casagrande contra-argumentou que “não dá para transferir para os estados essa responsabilidade”: “Estamos buscando compensar, amenizar o impacto com políticas públicas. Mas a solução está na política nacional, na política econômica, na política de transferência de renda”.
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