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Coluna Vitor Vogas

Casagrande quer apoio do PT e topa apoiar Lula para retirar Contarato

Por remoção da candidatura de Contarato ao Palácio Anchieta, governador manifestou a dirigentes petistas estar disposto a abraçar campanha de Lula (mas não só a do ex-presidente)

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Casagrande e Contarato. Foto-montagem

O governador Renato Casagrande (PSB), definitivamente, quer o apoio do PT à sua reeleição no Espírito Santo e ou a buscar esse apoio de maneira mais ostensiva. Decididamente, prefere que o PT retire a candidatura do senador Fabiano Contarato ao Palácio Anchieta e se incorpore à coligação liderada por ele. Este é o primeiro ponto (e note-se bem: não é pouco).

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O segundo ponto é que, para isso, Casagrande está disposto a pagar a compensação exigida pelo PT – ainda que ao seu modo e não de forma integral, como gostariam os petistas: se o PT desistir de lançar Contarato, ele está propenso, sim, a abraçar a candidatura de Lula à Presidência da República. Mas esse abraço é largo e generoso. Nele também cabem outros pré-candidatos a presidente, como Ciro Gomes (PDT) e até Simone Tebet (MDB).

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Em outras palavras, por um acordo com o PT (que ele parece ter concluído ser benéfico para si), Casagrande topa dividir palanque com Lula no Espírito Santo e até declarar publicamente apoio ao ex-presidente, atendendo à condição maior imposta pelos petistas. Mas, na eleição presidencial, seu apoio não será franqueado unicamente a Lula, entendendo-se para outros candidatos que disputem a Presidência por partidos também integrantes de sua extensa coligação estadual.

Os petistas serão contemplados naquilo que mais desejam: um palanque regional forte para Lula, puxado por um candidato do campo de centro-esquerda (ou progressista). Mas não poderão exigir exclusividade de Casagrande, até porque o governador tem que dar milho a muitos pintos em sua coalizão e não quer nem pode se dar ao luxo de descontentar aliados que já estão fechados com ele há muito mais tempo, como o PDT (Ciro), e outros que ele também trabalha para atrair, como o MDB e o PSDB (Tebet, no caso de ambos).

Esse foi o saldo de um importante evento ocorrido na noite da última segunda-feira (6), na Residência Oficial da Praia da Costa: a segunda grande reunião de Casagrande com uma comitiva formada por dirigentes e deputados do PT do Espírito Santo, incluindo a presidente e o vice-presidente estadual da sigla, Jackeline Rocha e João Coser, o deputado federal Helder Salomão e a deputada estadual Iriny Lopes, entre outros. Em nome do PSB, além do governador, participou o presidente estadual da legenda, Alberto Gavini.

Em relação ao primeiro encontro, realizado no mesmo local no início de abril, houve um sensível salto evolutivo na direção de um acordo entre PT e PSB.

Na primeira rodada, em abril, Casagrande havia dado aos comissários petistas garantias de que o PSB (frise-se: o partido) militará pela eleição de Lula também no Espírito Santo. Àquela altura, o PSB já decidira coligar-se com o PT na eleição nacional, e Geraldo Alckmin já estava carimbado como vice de Lula.

Porém, quanto a inclinações pessoais, Casagrande foi então bem evasivo. Não assumiu compromissos. E, basicamente, ganhou tempo, levando Jackeline Rocha a declarar, em entrevista a este espaço ainda no mês de abril, que o tempo do governador para tomar as decisões não era o tempo do PT. Dobrando a aposta, o PT saiu daquele primeiro encontro decidido a fortalecer a pré-candidatura de Contarato, que assim ganhou novo fôlego.

Na reunião da última segunda, a conversa foi outra.

O novo discurso de Casagrande

Sob condição de anonimato, participantes do encontro contaram, em primeiro lugar, que Casagrande afirmou abertamente que conta com a presença do PT em sua coligação e com a participação do partido em sua campanha. Não é pouca coisa, pois, até aqui, mesmo integrantes do núcleo duro de Casagrande tinham dúvidas quanto a ser ou não ser uma boa ter o PT incorporado ao projeto de reeleição (com aquela dose de antipetismo intrínseco a parte do eleitorado e que sempre pode contagiar quem está associado ao PT).

Ao que tudo indica, Casagrande e estrategistas fizeram as contas e concluíram que vale a pena pagar o apoio do PT a ele com o apoio dele a Lula. O saldo eleitoral é positivo; o ganho é maior que a perda. Como argumentei aqui dia desses, o que o socialista precisava sopesar era em qual destes dois cenários ele mais teria a perder: tendo Contarato contra ele ou tendo Lula ao lado dele?

Ora, quais foram os fatos novos entre as duas reuniões? Na verdade, dados novos. Números. Pesquisas.

Além daquelas de consumo interno que o PSB na certa possui, dois grandes veículos de comunicação capixabas (A Gazeta e Folha Vitória) publicaram, no mês de maio, levantamentos eleitorais que trouxeram importantes conclusões:

1) Contarato, mesmo sem fazer campanha, larga em 2º lugar, com dois dígitos nas intenções estimuladas de voto, empatado com o bolsonarista Manato (PL);

2) Mesmo assim, se a eleição fosse hoje, Casagrande teria boas chances de liquidar o pleito já no 1º turno;

3) Se as chances de o governador vencer em 1º turno com Contarato na cédula já são reais com base em tais levantamentos, que dirá eliminando o petista antes da largada, tendo em vista a natural migração da maior parte dos votos do senador para ele (e, mais ainda, se ele estiver com Lula)…

Mas e quanto ao antipetismo? Aí vêm as pesquisas de abrangência nacional: quase todas neste momento mostram Lula com boa vantagem sobre Bolsonaro. A última do Datafolha inclusive mostrou ele crescendo em segmentos onde antes enfrentava resistência: a região Sul do país, os evangélicos… Sim, o antipetismo no Espírito Santo não é nada desprezível, mas, para Casagrande, a preços de hoje, o custo-benefício em abraçar o PT e Lula parece ser mais positivo do que se arriscar a perder votos para Contarato e ir parar no 2º turno contra um candidato da direita bolsonarista…

Em entrevista à coluna no dia 14 de março, Casagrande disse que ainda não sabia responder, àquela altura, se a divisão das forças de esquerda, com mais de um candidato no mesmo páreo, seria ruim para ele. Era preciso deixar o processo se decantar um pouco. Agora ele parece ter encontrado essa resposta.

Apoiar, sim, mas “do jeito dele”

Talvez por isso, dessa vez, Casagrande tenha sido mais enfático na reunião com os petistas. Falou que vai se empenhar na eleição de Lula e ajudar a construir a candidatura do petista no Espírito Santo.

Só que fez aquela ressalva de que tem outros aliados com pré-candidatos a presidente no campo democrático. Para o PT não é o fim do mundo, já que não são candidatos do campo bolsonarista – e, em eventual 2º turno de Lula contra Bolsonaro, é possível que Ciro e Tebet se unam ao petista.

Porém, segundo relatos, Casagrande teria dito mais de uma vez que fará campanha para Lula “do jeito dele”. “Ele vai declarar voto no Lula, vai pedir voto, vai colocar gente pra ajudar… mas do jeito dele. Foi o que ele falou”, conta um dos participantes do colóquio.

Prazo fatal: dia 15

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, quer ver todas as arestas na relação com o PSB Brasil afora aparadas até o dia 15 (próxima quarta-feira).

Na maioria dos estados, reproduzindo a aliança nacional, PT e PSB já decidiram estar juntos na disputa para governador. Em alguns outros, por questões locais incontornáveis, os dois partidos já decidiram que não estarão juntos. E restam quatro estados onde persistem imes: São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo.

Em todos eles, o esforço das direções nacionais de PT e PSB é no sentido de que haja uma aliança, mas ainda não se bateu o martelo.

Reunião da Executiva Estadual

Nesta quarta-feira (8), às 19h, o Diretório Estadual do PT vai se reunir, sem Contarato (em missão oficial no Uruguai), para deliberar sobre a conversa com Casagrande.

Quem decidirá são os capas pretas

Em última instância, quem dará a palavra final não é a Executiva estadual, muito menos a militância capixaba. Será a cúpula nacional do PT. Representantes da direção estadual e da nacional se falariam de ontem (7) para hoje (8). E, nos próximos dias, deve haver nova rodada de negociações, quiçá definitivas, entre a cúpula nacional do PT e a do PSB, talvez com a presença de Lula e de Alckmin.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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