Casagrande e o caminho aberto por Witzel e Eduardo Leite

Primeiro, foi o governador do Rio, Wilson Witzel. Agora, quem avançou no caminho do “distanciamento controlado” foi o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). A partir desta quinta-feira (16), as regras mais duras de isolamento social serão mantidas em apenas 48 dos 497 municípios gaúchos. Na prática, ela vai se restringir  à região metropolitana de Porto Alegre e às cidades da Serra Gaúcha. Nos outros municípios, os prefeitos estão autorizados a liberar o funcionamento de setores do comércio, “com a necessária obediência de protocolos de higiene e proteção”. lembrou o governador.

A decisão de Eduardo Leite foi embasada principalmente no resultado de um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) sobre o avanço da doença em solo gaúcho. Esse estudo levou a duas conclusões importantes por parte do governo: a) surgiu uma estimativa mais aproximada da realidade sobre o número de pessoas infectadas pelo vírus, mas ainda não incluídas em estatísticas oficiais; b) deixou clara a concentração dos casos de covid-19 no estado.

Os dados sobre os números reais de infecções são alarmantes. Oficialmente, o Rio Grande do Sul tem 762 casos. A pesquisa aponta para 5.650 infectados. Mas mais de 70% dos casos estão concentrados nas duas regiões onde as medidas restritivas serão mantidas. Eduardo Leite trilhou o caminho aberto por Wilson Witzel, quando este flexibilizou as regras de isolamento em três dezenas de municípios do Rio nos casos não houve registro da doença.

E nessa trilha pode entrar o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. Assim como ocorre com todos os governadores, Casagrande vem sendo pressionado a reduzir as regras de isolamento no estado. Ao olhar o mapa de ocorrências no estado, a concentração dos casos fica evidente. Se levarmos em consideração apenas as quatro cidades da Grande Vitória, eles somam 4.016 das 5.226 notificações registradas oficialmente até o momento. Se acrescentarmos Viana, Aracruz e Guarapari, chegamos a 4.266. Linhares, com 163, e Colatina, com 97, completam a lista das cidades onde existe uma concentração maior de notificações. Quando falamos em casos confirmados, 92,31% dos 754 existentes no Espírito Santo estão concentrados em 10 municípios: Vila Velha, Serra, Vitória, Cariacica, Linhares, Colatina, Cachoeiro de Itapemirim, Aracruz, Viana e Guarapari. Juntas, essas cidades somam 696 casos da doença.

Há, lógico, quem se posicione contra esse tipo de isolamento. Especialistas lembram, por exemplo, do risco existente com a chegada de uma pessoa ou uma família infectada para uma cidade ainda não tocada pelo covid-19. Em outros países, como a Coreia do Sul, por exemplo, a concentração de pessoas em cultos religiosos foram o foco básico de disseminação do coronavírus.

Casagrande tem se reunido com representantes de vários setores para buscar saídas para o relaxamento do isolamento no estado. O governador está prensado entre a necessidade de preservar o sistema de saúde e o anseio de vários setores econômicos de normalizar suas atividades. Para muitos integrantes desses setores, há exagero na manutenção do isolamento adotado até aqui. Para muitos integrantes do governo, é exagero pensar na liberação dessas regras, por conta do risco ao qual seria submetida a população. A solução pode estar no caminho do meio. Witzel entrou nele, Eduardo Leite foi mais fundo. Casagrande dará a resposta sobre o que fará neste final de semana, quando ele terá de renovar (ou não) as regras de isolamento por ele estabelecidas semanas atrás.