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Coluna Vitor Vogas

Candidatura de Contarato ao governo subiu no meio-fio. Entenda

Tudo indica que em breve, por resolução da cúpula nacional do partido, o PT do Espírito Santo desistirá de lançar o senador ao Palácio Anchieta para apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande

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Fabiano Contarato na tribuna do Senado. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A candidatura do senador Fabiano Contarato (PT) a governador do Estado ficou sem gasolina, parou no acostamento e ligou o pisca-alerta. Só falta agora a direção nacional do PT mandar o guincho para recolher a candidatura de volta para a garagem do partido no Espírito Santo. Cumprindo o seu papel, em entrevista publicada aqui no dia 22 de maio, o ex-delegado de Trânsito e ex-diretor-geral do Detran-ES afirmou que sua candidatura ao governo “não tinha mais volta” e que um recuo estava “fora de cogitação”. A esta altura, irreversível parece ser a desistência.

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Tudo indica que em breve, por resolução da cúpula nacional do partido – e o próprio Contarato sempre jurou obediência a qualquer ordem que viesse de cima –, o PT do Espírito Santo desista de lançar o senador ao Palácio Anchieta para apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), reeditando, em solo capixaba, a parceria eleitoral entre os dois partidos de esquerda na disputa presidencial.

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o decisivo nessa direção foi dado por Casagrande na última segunda-feira (6): em seu segundo encontro com uma comitiva de dirigentes e deputados do PT do Espírito Santo na Residência Oficial da Praia da Costa, o governador foi bem mais assertivo em afirmar que quer o PT na sua frente ampla e que, em contrapartida, ajudará (à sua maneira) a fortalecer o palanque do ex-presidente Lula no Espírito Santo.

Para todos os efeitos, os comissários do PT do Espírito Santo saíram da reunião com Casagrande dizendo que a pré-candidatura de Contarato está mantida até segunda ordem. Mas uma série de indícios dão conta de que ela está politicamente condenada: é, insisto, questão de dias para subir de vez no telhado (se é que já não subiu).

O maior sinal é a absoluta ausência de qualquer movimento concreto de pré-campanha por parte de Contarato e dos dirigentes petistas. Anunciada em fevereiro para pressionar Casagrande a apoiar Lula, a pré-candidatura continua até agora em stand-by. Nunca chegou efetivamente a sair do ponto-morto.

Em abril, a presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, confirmou que estavam marcadas, de maio ao início de junho (agora), cinco plenárias para mobilizar a pré-campanha do senador, sendo uma em Vitória e outras quatro pelo interior do Estado.

Isso nunca aconteceu.

Segundo o próprio Contarato, foram canceladas a pedido dele mesmo, que preferia, como o inaugural, um grande ato de lançamento de sua pré-candidatura, em Vitória, o qual, segundo ele, estava marcado para 11 de junho (agora, no próximo sábado).

Mas esse ato tampouco ocorrerá.

Enquanto o PT-ES segue nessa inércia, Carlos Manato (PL) está em pré-campanha praticamente desde que perdeu a eleição de 2018 para Casagrande; Audifax Barcelos (Rede) está percorrendo o Estado inteiro e já fez até um grande ato de lançamento da pré-campanha, na Serra, assim como Erick Musso (Republicanos), em Vitória. E até Guerino Zanon (PSD), recluso até semana ada, andou dando entrevistas bombásticas em um tour pelos principais veículos da imprensa capixaba, na semana ada.

É preciso acrescentar que, na medida do possível – se bem que pouco à vontade no papel que lhe foi reservado –, o próprio Contarato está fazendo a sua parte. Repito: na última entrevista que me deu, ele foi bem mais veemente do que vinha sendo até então, reafirmando a manutenção de sua pré-candidatura e dizendo que não estava no horizonte uma intervenção em contrário por parte do comando nacional.

Por mais enfáticas que tenham soado, é preciso colocar as declarações de Contarato na devida moldura. Em primeiro lugar, na posição em que se encontra, poderia o senador dizer algo diferente disso? É óbvio que não. Além disso, mesmo nessa entrevista, como em todas as anteriores que ele deu desde seu pré-lançamento em fevereiro, o senador ressalvou que a palavra final caberia à direção nacional e que acataria qualquer ordem emanada de lá em favor do objetivo central do PT, que é o retorno de Lula ao Planalto.

De resto, há alguns detalhes que, por mínimos que pareçam, não podem ar despercebidos: seja por inexperiência eleitoral, seja por excesso de transparência, Contarato deu algumas bandeiras. Mais de uma vez, sinalizou que seu foco definitivamente não estava em uma iminente campanha a governador e que, no fundo, já entrou nesse processo sabendo desde o início que eram enormes as chances de recuar.

Na entrevista do dia 22 de maio, Contarato respondeu, com a máxima naturalidade, que nem sequer cogitava pedir licença do mandato de senador durante o período eleitoral, para se dedicar integralmente à campanha. Segundo ele, seria possível conciliar as atividades de campanha com as sessões do Senado e outras atividades do mandato. Ora, isso não é bem assim… Quando você é candidato a governador, você é candidato a governador: por alguns meses, não faz outra coisa da vida senão mergulhar na campanha.

Finalmente, há o cenário em que a dita entrevista me foi dada: o campus da Ufes em Goiabeiras, onde Contarato, desde abril, está matriculado no curso (pesadíssimo) de Filosofia. Este signatário será a última pessoa a julgar alguém por buscar conciliar trabalho e outras atividades com estudos acadêmicos (eu mesmo procuro fazer isso, e por acaso minhas aulas ocorrem no mesmo prédio das do senador: o IC-III do Centro de Ciências Humanas e Naturais, onde nos encontramos).

Mas o fato é o fato: alguém que verdadeiramente esteja se preparando para enfrentar uma campanha – ainda mais uma campanha duríssima, exigente e extenuante como para o governo – não faz o Enem e se matricula, meses antes, em um novo e dificílimo curso de graduação. Muito menos se essa pessoa já tem nada menos que um mandato no Senado para dar conta.

Estudar Filosofia na Ufes e cumprir mandato de senador em Brasília: ok; difícil, mas possível.

Cumprir mandato de senador (sem licença) e fazer campanha para governador: praticamente impossível.

Fazer campanha para governador, cumprir mandato de senador e ainda cursar Filosofia: absolutamente impossível.

Conexão São Paulo

Reforçando a tendência de aborto da candidatura de Contarato, há outro fator que tem a ver com o tabuleiro eleitoral nacional. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, quer ter tudo resolvido e azeitado com o PSB, em todas as unidades federativas, até a próxima quarta-feira (15), mas restam imes em alguns estados: São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Espírito Santo.

Ora, todo mundo sabe que a joia da coroa é São Paulo, onde o PT vai concorrer com Fernando Haddad e trabalha para convencer o PSB a retirar Márcio França. Para tanto, resta pouca margem de barganha para o PT: basicamente, pela desistência de França, o partido de Lula pode fazer novas concessões nos três estados remanescentes: RS, SC e ES. Por essa ótica, o apoio do PT a Casagrande pode entrar no pacote da oferenda que o partido de Lula fará ao PSB, em troca de uma aliança do PSB com Haddad no estado mais importante do país.

Militância ficará enfurecida

Em tempo, se a pré-candidatura de Contarato for mesmo oficialmente removida, a militância capixaba do PT ficará enfurecida. Nas bases do partido, nem sempre seguidas pela cúpula, o desejo da candidatura própria é muito forte. Há poucos dias, no Centro de Vitória, militantes organizaram espontaneamente um ato em defesa da candidatura do senador. Em grupos de petistas no Whatsapp, o pau já está quebrando em face do recuo iminente.

Candidatura ao Senado ganha força

Além do apoio de Casagrande a Lula, o PT do Espírito Santo tem outras duas condições para topar recolher o bonde de Contarato: participação na montagem do plano de governo e na montagem da chapa majoritária de Casagrande (ou seja, lugar na coalizão do governador com o candidato a vice-governador ou a senador). Porém, se a reciprocidade no apoio a Lula é exigência intransigível e incontornável, as duas outras podem ser tratadas mais como desejos que como condicionantes.

No caso da eleição majoritária, Casagrande muito dificilmente vai aceitar alojar um quadro indicado pelo PT. Não dá. Já tem aliados demais, de outros partidos, pleiteando as mesmas vagas há mais tempo. Contemplar o PT em detrimento de parceiros mais antigos vai gerar insatisfação geral – além de dar à coligação de Casagrande uma “cara de PT” que, no plano da disputa local, pode não lhe convir tanto assim.

Por outro lado, é preciso lembrar que, tecnicamente, quando falamos de eleições majoritárias, as chapas da disputa pelo Senado são independentes daquelas da disputa pelo governo estadual. Isso significa que, mesmo que o PT esteja coligado com o PSB de Casagrande na eleição para governador, nada impede que o partido lance uma chapa própria, puro sangue, na eleição para o Senado.

Na verdade, pode se dar o contrário: se o PT retirar mesmo a candidatura de Contarato ao Palácio Anchieta, ganha ainda mais força internamente a tese de que é preciso lançar um candidato próprio ao Senado (Reinaldo Centoducatte ou Célia Tavares). Assim o partido participa de pelo menos uma disputa majoritária local e garante mais um palanque, este sim 100% com cara de PT, para Lula no Espírito Santo.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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