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Coluna Vitor Vogas

Autocrítica: o erro fatal cometido e reconhecido por Audifax

Ex-prefeito da Serra analisa onde errou na campanha a governador e acrescento minhas considerações, em diálogo com o candidato derrotado no 1º turno

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Prefeito da Serra, Audifax Barcelos. Foto: Divulgação

Audifax Barcelos é ex-prefeito da Serra. Foto: Divulgação

Audifax Barcelos considera ter perdido a eleição ao governo estadual, particularmente na Serra, por dois grandes motivos. O primeiro, que fugiu à sua alçada, foi ele ter lutado, ao mesmo tempo, contra duas máquinas: a do Governo Estadual e a da Prefeitura da Serra, comandada por Sérgio Vidigal (PDT), aliado de Casagrande (PSB) e seu arquirrival político. “Na última semana do 1º turno, eles focaram a campanha na Serra.”

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O segundo foi o de não ter tomado partido na eleição presidencial.

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“Reconheço meus erros. Tentei levar a campanha na linha da gestão. Tentei levar na linha do Espírito Santo, na linha do que eu fiz na Serra… e não deu certo. Então, para mim, ficou claro que a minha não definição fez com que as duas turmas ficassem contra mim, a turma do Lula e a turma do Bolsonaro, além das duas máquinas. É uma autocrítica minha: nesta eleição, não adiantava muito ficar falando de gestão, infelizmente. Estou reconhecendo que um dos meus erros foi não ter seguido uma linha nessa polarização que eu tentei o tempo inteiro combater.”

Mas isso significa, então, que ele agora está apoiando Bolsonaro para presidente? Afinal, ele selou apoio a Manato (PL) no 2º turno da eleição a governador. Não necessariamente, indica Audifax: “Preciso manter a minha coerência do 1º turno: não declarar apoio nem a Lula nem a Bolsonaro. No 2º turno, também não farei isso. Estou declarando apoio apenas a Manato”.

Mas ao se aliar, na disputa local, ao candidato que representa Bolsonaro no Estado, ele indiretamente também não está se colocando nesse campo do bolsonarismo? Ele sinaliza, de novo, que não necessariamente: “Só vou defender o Manato, na Serra e em outras cidades da Grande Vitória, onde está concentrado o meu eleitorado. A única coisa que farei é levantar o nome de Manato”.

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Minha opinião sobre isso

Talvez se ele tivesse apoiado Lula, preenchendo o vácuo deixado por Contarato (PT) à esquerda de Casagrande – em vez de chamar uma militar bolsonarista para ser sua vice –, Audifax pudesse ter capturado votos da esquerda e crescido mais na corrida eleitoral para governador. Teria sido, inclusive, coerente com a sua federação e com a coligação em que ele estava (Federação Rede/Psol, Solidariedade e Avante).

Se ele tivesse apoiado Bolsonaro, em primeiro lugar, teria tido problemas seríssimos com a direção nacional da Rede – creio que nem sequer teria conseguido legenda para disputar o governo. Em segundo lugar, ainda que tivesse conseguido, isso possivelmente teria lhe rendido muito poucos votos: o resultado do 1º turno no Espírito Santo provou que os bolsonaristas marcharam, em sua grande maioria, com Manato (PL).

Estrategicamente, a melhor opção para Audifax, na minha visão, seria ter se apresentado aos capixabas como o “verdadeiro candidato do Lula” – até diante da hesitação de Casagrande em abraçar por inteiro o petista, a qual por sinal perdura até agora (e talvez até se aprofunde neste 2º turno).

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O incômodo de Audifax

De certo modo, ao se desfiliar da Rede, Audifax se livra agora de um fardo para ele. Na decisiva coletiva de imprensa do ex-prefeito após o 1º turno, ficou patente, mais uma vez, o incômodo sentido por ele durante toda a sua participação neste processo eleitoral por estar na Rede, pelo fato de o partido ter formado uma federação com o Psol e se posicionado, nacionalmente, de maneira tão peremptória a favor de Lula na disputa presidencial.

Audifax gastou um bom tempo da entrevista tentando convencer os jornalistas de um argumento que, com todo o respeito, briga com os fatos:

“A Rede não declarou apoio a Lula no 1º turno”, insistiu o prefeito. “Me mostre onde está essa resolução.”

É só dar uma simples conferida no sistema público de divulgação de candidaturas, no site do TSE: desde o início oficial da campanha, no dia 16 de agosto, a federação Rede/Psol faz parte da coligação nacional de Lula. Para dizer que não houve apoio da Rede a Lula, Audifax cita os casos da porta-voz nacional do partido, Heloísa Helena, que apoiou Ciro, e de Marina Silva, que só entrou na campanha de Lula na reta final do 1º turno.

Uma coisa é a discordância ou a relutância pessoal de alguns membros da Rede. Outra coisa é a decisão oficial do partido, aprovada em convenção nacional. Desde a largada da campanha, a Rede apoia Lula, oficialmente, e está na coligação do petista. Este último fato fala por si.

Também por isso, creio que teria sido mais lógico e mais coerente Audifax ter se perfilado com Lula no Espírito Santo, mesmo não tendo o PT oficialmente em sua coligação estadual (o que até poderia ser-lhe vantajoso). Como se negou a fazê-lo, ou a sua campanha inteira em uma  posição desconfortável, ainda mais em uma disputa tão polarizada, sendo chamado continuamente a explicar a contradição intrínseca da sua composição partidária: por que ele não tinha lado assumido se todas as siglas de sua coligação aqui estavam com Lula na disputa presidencial?

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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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