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Coluna Vitor Vogas

Audifax Barcelos: “Estou acima de ideologias”

Candidato a governador se vê com traços de centro, direita e esquerda ao mesmo tempo. E diz que apoiará o candidato à Presidência que o apoiar para chegar ao governo do ES

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Audifax Barcelos no lançamento da sua candidatura ao governo do ES. Foto: Victor Mateus

O evento de lançamento da candidatura de Audifax Barcelos (Rede), no último sábado (30), na sede de um centro comunitário na Serra, não deixa dúvida alguma quanto à obstinação do ex-prefeito da cidade em concorrer mesmo ao cargo de governador no Estado. Aparentemente, não há força política na Terra capaz de remover a candidatura do redista. Mas outras dúvidas persistem. A maior delas: numa eleição que tende a ser, mais uma vez, “contaminada” pela disputa ideológica, quem Audifax vai apoiar para a Presidência da República e onde, afinal, ele mesmo se situa no mapa político-ideológico brasileiro?

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No plano nacional, a Rede Sustentabilidade, sigla comandada por Audifax no Espírito Santo, está dividida entre dois candidatos a presidente e ainda não se posicionou oficialmente. Parte do partido, representada pelo senador Randolfe Rodrigues – hoje a principal figura da Rede investida de mandato –, apoia a candidatura de Lula (PT).

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O senador pelo Amapá é um dos coordenadores da campanha do petista e chegou a organizar, na última quinta-feira (28), um evento num luxuoso hotel de Brasília, com Lula, para anunciar “o apoio incondicional da Rede” a Lula. Mas a líder maior do partido, a ex-ministra Marina Silva, nem sequer compareceu ao ato. Relutante em se reaproximar de Lula, teria preferência por Ciro Gomes (PDT), assim como boa parte do partido.

Enquanto isso, no último sábado (30), o Psol, federado com a Rede, oficializou o apoio nacional a Lula.

Voltando à eleição no Espírito Santo, e quanto a Audifax aqui? Vai de Ciro ou vai de Lula? A princípio, nem um nem outro. O que não quer dizer que ficará em cima do muro. Em bate-papo com a coluna nesta segunda-feira (2), Audifax respondeu que terá, sim, declaradamente, um candidato à Presidência da República, mas que este ainda não foi escolhido por ele… E, conforme explica ex-prefeito, essa escolha se dará por um critério estritamente pragmático: Audifax vai apoiar o candidato à Presidência que o apoiar ao governo do Estado.

“Hoje, isso não está definido para mim. Vamos buscar, sim, no momento certo, essa discussão. Eu preciso ter o apoio de alguém para que eu possa externar esse apoio em nível nacional. Quer dizer, é lógico que esse meu apoio depende de esse candidato à Presidência me apoiar na eleição ao governo do Espírito Santo. Necessariamente, terá de haver uma contrapartida em termos de apoio eleitoral.”

A resposta de Audifax permite a conclusão de que, a priori, nenhum candidato à Presidência é “vetado” por ele, independentemente de posicionamentos político-ideológicos e do campo em que se situa. “Direita, esquerda, centro… tanto faz o campo a que pertença o presidenciável?”, perguntamos ao ex-prefeito.

Ele responde que, a bem da verdade, não está preocupado com esse debate ideológico. “Não sou candidato ao governo para cuidar da ideologia das pessoas. Quero ser candidato para cuidar da vida delas. Mas respeito todas as ideologias.”

De acordo com Audifax, o dilema nacional da Rede e a decisão a ser tomada pela cúpula do partido no país (apoiar Ciro, apoiar Lula ou liberar a militância) não afetarão em nada sua campanha a governador, pois ele obteve da direção nacional uma autorização especial para se posicionar como julgar melhor na eleição à Presidência. Vale dizer: o ex-prefeito ganhou carta branca para apoiar, no Espírito Santo, um presidenciável diferente do que for endossado nacionalmente pelo seu próprio partido.

“É importante dizer que a minha candidatura está atrelada a quatro milhões de pessoas [a população do Espírito Santo]. Eu não estou atrelado a projeto nacional, não. Podemos discutir o projeto nacional? Sim. Mas minha candidatura não está atrelada a nenhuma decisão em nível nacional. Mesmo que o partido apoie algum candidato a presidente, eu tenho liberdade de não apoiar. Eu tenho a liberdade aqui, dada pelo meu partido, de ficar com outra candidatura que não a que o partido vai apoiar em nível nacional. O Audifax não tem nenhuma obrigação de apoiar ninguém.”

“Acima de ideologias”

E onde é que o Audifax situa a si mesmo? Como indica o calor capturado por todos os termômetros a esta altura, a eleição presidencial deste ano será, mais uma vez, fortemente invadida pelo debate ideológico e marcada pela polarização, o que pode impregnar também as disputas estaduais. “É verdade, e isso me preocupa”, concorda Audifax. Mas como ele mesmo, então, define-se e identifica-se do ponto de vista ideológico?

A resposta do ex-prefeito: nem direita nem esquerda nem centro, mas um pouco de cada lado – constituindo-se, assim, em um candidato “supra-ideológico”. “Não estou muito preocupado com isso. Do ponto de vista da política, estou acima de ideologias. E não é da boca para fora. A minha vida é testemunho disso: nos costumes, como gestor e no campo social.”

Ou seja, Audifax não vai entrar nesse debate de jeito nenhum, vai se esquivar de todas as maneiras de qualquer rótulo ideológico e, na sua própria concepção – como se fosse um mosaico ideológico –, sua história contém um pedaço de cada campo, ou pelo menos de cada característica mais comumente associada a cada campo do espectro ideológico.

“Quando fui para a Rede, se você buscar lá atrás o início de tudo, quando Marina lançou o partido e tal, a ideia era a gente estar acima dessa coisa da direita e da esquerda. Se você olhar a minha vida, também.”

Ele exemplifica, “pedaço” por “pedaço”:

Está na direita?

“O que é hoje o foco central da direita? O que percebo é o foco nos costumes, em ser conservador nos costumes. Aí vocês vão poder me tachar assim: me vejo assim em matéria de costumes. Frequento há quase 40 anos a mesma igreja: a Primeira Igreja Batista de Vitória.”

Está no centro?

“O que as pessoas chamam de centro? O cara é gestor, empreendedor. Se você for olhar a minha vida, eu sou assim. Em 2020, fui convidado para ir a Puebla, no México, para falar do que fizemos na Serra.”

Está na esquerda?

“Ser de esquerda é a pauta da questão da mulher? Na Serra, a Secretaria da Mulher foi criada por mim. É a luta pelos negros? Mesmo Audifax sendo evangélico, quem foi que restaurou a Igreja dos Reis Magos, que você não tem ideia de como é importante para os negros? E a esquerda puxa essas pautas. São as políticas sociais? Veja o que a gente fez na periferia da Serra. Olha o que o Audifax deixou no campo social. Se você pegar Central Carapina, se você for lá em Vila Nova de Colares. Olha aquele menino, o Jeremias [ganhador de uma edição do programa ‘The Voice Kids’], o projeto social de onde ele saiu…”

Conclusão

No “The Voice – Ideology”, Audifax não vai virar a sua cadeira para nenhum dos lados. Ou vai virar para todos ao mesmo tempo – o que é o mesmo que não virar para nenhum. Mas escolherá, sim, um candidato a presidente: aquele que topar fortalecer o “Time Audifax” no Espírito Santo, a despeito de qualquer preferência partidária e ideológica.

Distância do Psol

As declarações de Audifax podem ser interpretadas como lançamento de uma estratégia preventiva para desarmar uma bomba que com certeza cairá em seu colo conforme a campanha se aproximar: a da pecha de “candidato de esquerda, socialista etc.” que fatalmente pesará contra ele em algum momento, devido à federação da Rede com o Psol.

Com o PT, ele não quer…

As falas de Audifax também elucidam que, no que depender dele, não há a menor chance de concretização no Espírito Santo daquela tese sustentada pela presidente estadual do PT, Jackeline Rocha: ela advoga uma união de forças, no Espírito Santo, dos partidos que Lula busca aglutinar no seu palanque nacional, incluindo a federação Rede/Psol. Se colocada em prática, essa ideia, no limite, levaria Audifax a dividir palanque com o candidato ao governo do PT, Fabiano Contarato.

Além de Audifax deixar claro que sua candidatura não está vinculada a projetos nacionais (ponto de partida da política de alianças dos petistas), há o grande complicador de cor local e de ordem pessoal: após Audifax ter filiado Contarato à Rede para este chegar ao Senado em 2018, os dois se afastaram e o senador filiou-se ao PT – em movimento não bem assimilado até hoje pelo ex-prefeito da Serra.

Questionado sobre possível aliança com o agora petista, Audifax até alfineta: “Primeiro, a gente nem vê ele se colocando como candidato. Uma coisa é o PT se colocando, outra coisa é o Contarato…”

E com Guerino e Erick?

Quanto a uma possível composição com Guerino Zanon (PSD) e/ou com Erick Musso (Republicanos) – também especulada nos bastidores e podendo culminar com unificação de candidaturas –, Audifax sinaliza que também acha muito improvável, até porque, em seu raciocínio estratégico, quanto mais candidaturas no páreo, mais chances de a eleição ao governo ser decidida em dois turnos: alguém contra Renato Casagrande (PSB).

“Respeito as candidaturas. Acho importante para o debate a manutenção de todas as candidaturas. Temos até 5 de agosto para conversar com todas elas. Agora, de maio para agosto, é que acredito que essas coisas vão acontecer.”

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: vitor.vogas@es360.com.br

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