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Aprovação recorde. E Bolsonaro terá de fazer escolhas…
O destino tem sido generoso com Jair Messias Bolsonaro. Uma conjuntura de fatos aleatórios o colocou no caminho do mais alto índice de aprovação desde o início de seu governo, conforme pesquisa divulgada nesta sexta-feira, dia 14. Segundo o Datafolha, 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom. Na pesquisa anterior, feita em 23 e 24 de junho, esse índice era de 32%.
Mais acentuada ainda foi a queda na curva da rejeição: na pesquisa anterior, 44% consideravam seu governo ruim ou péssimo e agora esse índice está em 34%. E 27% consideram o governo regular – o índice era de 23% em junho.
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Os dados são reflexo de pelos menos duas ações involuntárias do presidente. E justamente por terem sido involuntárias, elas o colocarão diante de escolhas num futuro muito próximo…
A ajuda
Como já foi abordado nesse espaço, Bolsonaro está sendo beneficiado pelo auxílio emergencial distribuído para a população mais vulnerável. A análise dos responsáveis pela pesquisa não deixa dúvidas quanto a isso: “A solicitação do auxílio chega a 40% na população como um todo, taxa que alcança 75% entre desempregados que procuram emprego, 71% entre assalariados sem registro e 61% entre autônomos e profissionais liberais, grupos em que são identificadas as maiores variações pró-governo. Entre os que hoje estão sem ocupação, por exemplo, a reprovação caiu 9 pontos e o apoio subiu 12.”, diz o texto de Mauro Paulino e Alessandro Janoni.
Entre o voto e a economia
Pois é… tanto o presidente quanto o ministro da Economia resistiram a conceder o benefício, enviaram para o Congresso um projeto tímido, de auxílio de R$ 200, por tempo limitado, receberam de volta um valor reajustado e o benefício foi fechado em R$ 600. O auxílio fez Bolsonaro repetir o sucesso de Lula com o Bolsa-família. E vem daí a primeira escolha a ser feita pelo presidente: ele manterá e estenderá o auxílio, aprofundando e consolidando a sua popularidade no Nordeste, por exemplo, e sacrificará as contas públicas, correndo o risco de perder o ‘Posto Ipiranga’, ou será rígido com o controle do caixa para tentar manter saudável a economia do país? Na quarta-feira ele jurou respeitar os limites fiscais. Ontem, flertou com o rompimento do teto…
O silêncio
A recuperação da popularidade do presidente não se limitou às camadas mais populares. Houve elevação da aprovação também no Sudeste, e entre os mais escolarizados e com maior renda. Essa faixa da sociedade estava especialmente descontente com o comportamento do presidente diante da pandemia e também com sua postura autoritária, de ameaça à democracia. Mas veio a prisão de Fabrício Queiroz e, depois, o teste positivo para covid-19. Bolsonaro se calou tanto para fugir da cobrança sobre Queiroz quanto para obedecer às recomendações médicas. E isso levou à diminuição consistente das crises diárias provocadas por suas frases, principalmente diante da claque colocada no cercadinho do Alvorada. De certa forma, esse silêncio foi acompanhado por alguns de seus ministros mais estridentes: Weintraub fugiu, Damares se calou, Salles se recolheu. A discrição diminuiu o clima de tensão diária existente na política e em setores próximos a ela. E isso fez bem à imagem do governo.
Entre a imagem e a realidade
Bolsonaro não é discreto, todos sabem disso. O presidente terá, então, de escolher entre continuar seguindo os conselhos dados por Michel Temer, seu novo melhor amigo, e o ministro Fábio Faria, ou ser o Mito original, com sinais de arminha, ameaças aos comunistas, gritos contra o Supremo. O primeiro garante popularidade para o presidente, o segundo, garantiu votos para o candidato…
E daí?
O Datafolha não baixa a detalhes a respeito da opinião dos pesquisados sobre a atuação do presidente diante da pandemia. Isso provavelmente será tratado pela Folha nas próximas horas. O resultado, no entanto, já permite concluir: os 100 mil mortos não estão sendo colocados na conta do presidente. Sua narrativa sobre sua impossibilidade de agir, por conta de decisão do Supremo Tribunal Federal, não é verdadeira, mas, no mínimo, criou dúvidas entre as pessoas. Parece ir tudo muito bem para o presidente, mas resta um fator…
O fator Queiroz
Bolsonaro se reergueu depois do maior tombo de sua popularidade. E ela ocorreu justamente depois da prisão de Fabrício Queiroz. Há uma certa resistência entre seus eleitores em itir os casos suspeitos envolvendo toda a família. A prisão de Queiroz, no entanto, abalou até mesmo essa resistência. Queiroz estava no conforto de seu lar até ontem. Vai ter de voltar para a cadeia, conforme decisão do STJ. Não irá só: sua mulher também terá de ir para a prisão. É conhecida a ameaça do ex-assessor de Flávio Bolsonaro: ele toleraria tudo, menos a prisão de sua mulher ou de sua filha. Dona Márcia estará numa cela dentro de algumas horas. Resta saber qual será a reação de Queiroz. Ela é imprevisível, como aparentemente tudo aquilo que ocorre no entorno do presidente…
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