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Coluna Vitor Vogas

Agora é oficial: Contarato não é mais candidato ao governo

Em votação do Diretório Estadual do PT na noite desta quarta-feira (13), partido homologará decisão de se coligar com o PSB e apoiar a reeleição de Casagrande

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Casagrande e Contarato.

Em reunião virtual iniciada às 20h30 desta quarta-feira (13), os membros do Diretório Estadual do PT cumprirão uma formalidade: aprovarão uma resolução que homologa a retirada da pré-candidatura do senador Fabiano Contarato ao governo e que formaliza a decisão do PT de se coligar com o PSB e apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande na corrida ao Palácio Anchieta.

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Quando a reunião se iniciou, o acordo nesse sentido já havia sido fechado entre as várias tendências e campos que compõem o partido.

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A única dissidência partiu da Democracia Socialista (DS), corrente do ex-vereador de Vitória Marcelão e do secretário estadual de Formação Política, Alexandre Mamute. Com poucos assentos no diretório, a DS apresentaria um voto em separado, contrário ao da grande maioria.

Contarato participou da reunião e, segundo relatos, fez uma fala animada. Disse que quer contribuir muito para eleger Lula presidente, para ajudar o PT do Espírito Santo e para fazer com que os pobres “tenham vez e voz”.

O acordo entre as correntes a favor da aliança com Casagrande foi selado a partir de um indicativo da comissão eleitoral de líderes do PT que tiveram quatro reuniões de negociações com Casagrande e outros dirigentes do PSB, entre abril e julho. Essa comissão é formada, entre outros, pela presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, o ex-prefeito de Vitória João Coser, o deputado federal Helder Salomão, a deputada estadual Iriny Lopes e o ex-deputado estadual José Carlos Nunes.

A última reunião da comissão eleitoral do PT com Casagrande ocorreu na manhã desta terça-feira (12), na Residência Oficial do governador, na Praia da Costa. À noite, houve nova reunião, restrita aos membros da comissão, na qual Jackeline Rocha e companhia decidiram topar o acordo com o PSB de Casagrande. Foi a proposta levada por eles aos demais membros do Diretório Estadual, na votação da noite desta quarta (13).

A direção nacional do PT vinha pressionando os dirigentes estaduais pela conclusão do acordo com o PSB, também no Espírito Santo. No último dia 5, em reunião virtual, a própria presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, exortou os dirigentes capixabas a chegarem a um entendimento na eleição para o Palácio Anchieta, a fim de reproduzirem a aliança fechada com o PSB na eleição presidencial (chapa Lula-Alckmin) e em muitos outros estados.

Operação França

O fechamento da aliança com o PSB em São Paulo, no último fim de semana, foi o último ingrediente desse caldo que já era muito favorável a Casagrande. No maior estado do país, o ex-governador Márcio França aceitou desistir de concorrer de novo ao Palácio dos Bandeirantes para se candidatar ao Senado por São Paulo e apoiar o petista Fernando Haddad na disputa pelo governo estadual.

O próprio França já havia declarado que as tratativas com o PT envolvendo sua decisão em São Paulo seriam feitas “em bloco”, isto é, levando em conta os interesses do PSB na relação com o PT em outros estados. Uma das compensações pedidas ao PT pela cúpula nacional do PSB (da qual faz parte Casagrande) era, justamente, o recuo de Contarato e o apoio à reeleição do atual governador do Espírito Santo. Foi uma parte do combo.

Em coletiva de imprensa concedida na última segunda-feira (11), para anunciar publicamente sua pré-candidatura à reeleição, Casagrande fez o aceno final aos petistas aqui, em São Paulo e em Brasília: disse que fará campanha eleitoral para Lula e para nenhum outro candidato à Presidência. Nem Ciro Gomes (PDT) nem Simone Tebet (MDB)… “Ato de campanha, só com Lula”, sacramentou.

Não faltava mais nada.

Segundo uma fonte do PT, o próprio Lula gostaria de fazer, nesta quinta-feira (14), o anúncio da aliança com o PSB no Espírito Santo.

Análise: as verdadeiras prioridades do PT e do PSB

Afirma um parlamentar petista: “Hoje, no país, o PT é o único partido nacional e com projeto nacional. Nem o PSDB e o MDB podem dizer isso atualmente”. Nesse “projeto nacional”, o regresso de Lula ao Planalto tem centralidade. Talvez dessa vez eles não façam “o diabo” para ganhar a eleição, mas com certeza farão “tudo para isso”, afirma a mesma fonte… mesmo que isso inclua as concessões feitas em alguns estados, entre os quais o Espírito Santo, para agradar ao PSB, parceiro mais que estratégico. Se eleger Lula presidente é a prioridade nº 1 para o PT nacional, a nº 2 é fazer de Fernando Haddad o governador de São Paulo.

Para isso, o partido investiu tudo no convencimento do ex-governador Márcio França (PSB): com sua desistência em disputar a corrida ao Palácio dos Bandeirantes para se lançar ao Senado, selando a aliança PT-PSB também em São Paulo, Haddad terá uma Avenida Paulista desobstruída para vencer a eleição no maior estado do país, como prova pesquisa Datafolha publicada no dia 30 de junho: sem o socialista na cédula, Haddad sobra na estimulada com 34% das intenções de voto, ante 13% do 2º colocado.

Sabendo o quanto sua retirada estratégica beneficia Haddad e o PT, França esticou a corda para vender esse movimento o mais caro possível – ou seja, com o maior lucro eleitoral para o seu PSB. Falando à Folha de S. Paulo no fim de junho, ele mesmo afirmou que a definição sobre São Paulo só seria feita “em bloco”, envolvendo outros estados. Noutras palavras, o PSB teria que ser pago (e bem pago) pelo PT em outros colégios eleitorais, o que inclui o Espírito Santo.

Convenhamos: retirar a candidatura Contarato (o “bode na sala”) para favorecer Casagrande, como agora se confirma, não é lá um sacrifício muito grande para dirigentes nacionais do PT, dada a pequenez do nosso estado.

Hoje, para o cacique do PT em Brasília, o Espírito Santo não tem o mesmo peso político que tem para o cacique do PSB. E Casagrande, é bom lembrar, É um dos caciques do PSB: ele é “só” o secretário-geral do partido no país, número 2 na hierarquia de comando. “O Espírito Santo é pequeno, mas Renato é grande no PSB”, resume um petista.

Assim, ainda que empurrado goela abaixo para alguns petistas capixabas, o recuo de Contarato foi efeito colateral de uma articulação maior, pactuada há muito tempo na conexão São Paulo-Brasília, muito longe dos desejos e esperanças de boa parte dos militantes petistas no Espírito Santo.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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