Coluna Vitor Vogas
Ramalho pode disputar a Prefeitura de Vila Velha ou a de Vitória
Nesta primeira parte da nossa análise, entenda por que o secretário de Segurança está sendo incentivado por aliados de Casagrande a desafiar Pazolini

Coronel Alexandre Ramalho. Crédito: Reprodução Facebook
Alexandre Ramalho (Podemos) não o ite. Nem poderia fazê-lo. Confessar tão prematuramente interesse em disputar as próximas eleições municipais seria queimar a largada e só prejudicaria o seu trabalho à frente da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). A negativa, neste caso, faz parte. Mas aliados e assessores de Ramalho o confirmam por ele: o secretário tem forte interesse em ser candidato a prefeito no ano que vem. Onde? Vitória ou Vila Velha.
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Estrategicamente, é importante para Ramalho participar das próximas eleições municipais. Ganhando ou perdendo nas urnas, ele não tem nada a perder. Assessores e aliados do secretário estão convencidos de que ele tem, sim, viabilidade eleitoral e que, se entrar no páreo, não será para fazer figuração; pode mesmo ir para o segundo turno e surpreender os favoritos.
Na pior hipótese, disputar as eleições municipais, com toda a visibilidade proporcionada por uma campanha majoritária em uma grande cidade da Grande Vitória, é a melhor maneira de Ramalho se manter politicamente em evidência; preservar, se não ampliar, o seu recall político; renovar o capital eleitoral adquirido por ele nas urnas na disputa a deputado federal em 2022.
Com 33.874 votos, o secretário ficou como 1º suplente da chapa do Podemos, atrás dos eleitos Gilson Daniel e Victor Linhalis. Mas não fez feio, alcançando votação respeitável em seu primeiro disparo eleitoral.
Ora, como todos sabem nesse meio, capital político, uma vez adquirido, precisa ser muito bem cultivado. É certo que, como chefe da Sesp, Ramalho está diuturnamente na vitrine. Mas, em 2022, ele já dava mostras de fadiga com as exigências da pasta, sempre sob fogo cruzado, cobrada a solucionar crise em cima de crise. Terá ele condições de resistir mais quatro anos no cargo, sem intervalo nem “respiro eleitoral”?
Por esse ângulo, concorrer nas eleições municipais também é uma forma de preservar seu capital político-eleitoral. Em caso de derrota nas urnas (a menos que vá muito mal), ele pode “perder ganhando”, credenciando-se para aquele que segue sendo o centro do seu alvo: chegar ao Senado nas eleições de 2026, nas quais haverá duas cadeiras em jogo.
Para estar nesse páreo municipal, duas opções se abrem hoje para Ramalho: ser candidato a prefeito de Vitória ou concorrer em Vila Velha, onde ele mora e onde está o seu domicílio eleitoral.
Não é só uma questão de geografia. Disputar em uma cidade ou em outra implica a tomada de posições radicalmente diferentes no tabuleiro político estadual, determinando em qual partido ele estará e o quão perto ou distante ficará do governador Renato Casagrande (PSB). Eis os porquês.
Ser candidato em Vitória: fechar ainda mais com Casagrande
Para ser candidato a prefeito da Capital, Ramalho vem sendo estimulado principalmente por emissários do Palácio Anchieta, a quem essa alternativa interessa muito mais. Um dos incentivadores, mas não o único, é o deputado estadual Tyago Hoffmann (PSB), vice-líder de Casagrande na Assembleia e “articulador político informal” do governo.
Alguns casagrandistas realmente encaram o secretário como um possível candidato muito competitivo em Vitória. Sim, é verdade que o PT de João Coser lançará o ex-prefeito em uma nova disputa com Lorenzo Pazolini (Republicanos), reeditando 2020. Além de aliado nacional do PSB de Casagrande no campo da centro-esquerda, o PT apoiou sua reeleição e faz parte do seu atual governo.
Mas, no Palácio Anchieta, isso não é visto necessariamente como atrelamento automático do PSB com o PT em Vitória. Muito menos como evidência de que Coser será “o candidato do Palácio Anchieta”. Na verdade, como estratégia para impedir a reeleição de Pazolini, o grupo liderado por Casagrande pode (e deve) apoiar mais de um candidato à Prefeitura de Vitória – Coser à esquerda, alguém no centro e um terceiro candidato à direita.
É aí, nesta última coluna, que entraria Ramalho: ele poderia vir como representante da direita com uma marca, ainda que indireta, de candidato do Palácio Anchieta. Em sua campanha no ano ado, desde a fase em que ainda tentava viabilizar candidatura ao Senado, o secretário definia a si mesmo como representante da “direita equilibrada” e “conservadora”. “Não sou um radical”, repetia – muito embora tenha apoiado Bolsonaro, até porque a alternativa ao então presidente era Lula (PT).
Ora, esse é mais ou menos o perfil de Pazolini, outro agente de forças de segurança – por sinal, os dois são católicos.
Tudo somado, a aposta de aliados de Casagrande é que, se vier candidato em Vitória, Ramalho pode dar trabalho acima de tudo a Pazolini, tirando votos do atual prefeito, a quem o Palácio quer derrotar, nesse filão de eleitores do centro para a direita, e quem sabe até “roubando” do deputado Capitão Assumção (PL) alguns votos valiosos na extrema direita, de eleitores que se identificam com seu estilo “coronel e secretário linha dura, que vai para a linha de frente nas operações etc.”.
Para Ramalho, concorrer em Vitória significa permanecer no Podemos. Não teria por que sair. Alinhado à centro-direita (logo, compatível com o perfil do secretário), o partido faz parte da coalizão de Casagrande e não está no governo Pazolini.
Além disso, não saindo do Podemos, Ramalho permanece como 1º suplente da sigla na Câmara Federal. Após as eleições municipais, no intervalo para o segundo tempo do mandato, Casagrande deve reformular sua equipe de governo. Vai que o governador puxa um dos dois federais do Podemos para o secretariado e Ramalho, não tendo virado prefeito, se torna deputado federal… É uma possibilidade real que, ficando no partido, ele não fecha.
No entorno do governador, os partidários dessa tese também apostam que o eleitor de Vitória não quer ser governado por um radical – vide como Pazolini, acertadamente, fugiu da pecha de “bolsonarista” e de associações com Magno Malta e Damares Alves na campanha de 2020; ao mesmo tempo, esse eleitor teria resistência ao lulopetismo; buscaria, preferencialmente, um candidato mais ao centro e mais centrado, com perfil comprovado de gestor.
Na próxima coluna, descubra por que, contrariando tudo isso, Ramalho pode ser candidato, sim, mas do outro lado da Terceira Ponte.
