fbpx

Coluna Vitor Vogas

PT tem dois pré-candidatos a prefeito de Vila Velha

Por correntes rivais, ex-vereador e economista apresentam-se para a luta. Mas direção do PT pode ter outros planos, inclusive apoiar outro candidato

Publicado

em

No sentido da leitura: Babá e Edinho

Nos últimos 12 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) tem vivido, em Vila Velha, dias de “terra arrasada”. Em 2008, último suspiro político do partido no município, o deputado estadual Cláudio Vereza concorreu à prefeitura, mas, sem o apoio do então prefeito Max Filho, não ou para o 2º turno. Em 2012, o PT elegeu só um vereador na cidade: Zé Nilton, que saiu da sigla antes do fim do mandato. Em 2016 e 2020, não teve candidato a prefeito e não fez nem sequer um vereador. São anos de seca e jejum.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Para pôr fim à estiagem, dois petistas se apresentam como pré-candidatos ao cargo exercido desde 2021 pelo prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos). Representando correntes diferentes, o ex-vereador João Batista Gagno Intra, mais conhecido como Babá, e o economista Edinho Wilson disputam internamente a condição de pré-candidato do PT – e, posteriormente da Federação Brasil da Esperança, também formada por PV e PCdoB. Mas tanto a direção municipal como a estadual podem fazer valer outros planos, preferindo apoiar um candidato de fora da federação em vez de lançar candidatura própria à Prefeitura de Vila Velha.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

No dia 2 de março, o Diretório Municipal do PT terá uma reunião crucial para definir os planos e as estratégias eleitorais do partido na cidade. Será o Dia D para Babá e Edinho (ou quase isso). Ali deverá ser tomada (ou, pelo menos, encaminhada) a decisão dos dirigentes locais sobre lançarem ou não candidatura majoritária. Se resolverem lançar, terão de se decidir entre os dois postulantes.

Mas o próprio presidente municipal do PT, Fabrício de Santana, opina que o partido precisa considerar seriamente a possibilidade de apoiar outro candidato, se predominar o entendimento de que essa é a melhor estratégia visando ao fortalecimento da chapa de vereadores. Segundo o presidente, investido do cargo em novembro, voltar a ter representação na Câmara Municipal é a prioridade absoluta do PT em Vila Velha. Haverá 21 vagas em disputa.

“Nessa reunião de 2 de março, faremos um debate para que se possa construir internamente uma só candidatura. Mas vale lembrar que somos uma federação, e é a federação quem vai decidir. Como presidente do PT em Vila Velha, afirmo que a nossa intenção é fortalecer a chapa de vereadores e eleger vereadores da federação, inclusive do PT. Então a nossa primeira discussão é a construção da chapa de vereadores. E a candidatura majoritária [a prefeito] a a ser o nosso segundo plano”, afirma Santana. “É lógico que os nossos dois companheiros [Babá e Edinho] são valorosos, mas, se o partido e a federação entenderem que o fortalecimento da chapa de vereadores signifique apoiar outra candidatura fora da federação, logicamente ará a ser essa a nossa prioridade.”

Enquanto isso, nem Babá nem Edinho podem ser considerados pré-candidatos avalizados pelo Diretório Municipal. Mas, nas discussões internas, ambos têm trabalhado para isso, buscando convencer os colegas e produzir um consenso em torno do próprio nome.

Um detalhe importante: em caso de disputa pelo voto, Edinho sairia em vantagem em relação ao concorrente. É que ele pertence à corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), da deputada federal Jack Rocha (presidente estadual do PT) e do secretário estadual de Esportes, José Carlos Nunes. É a mesma que, aliada à Alternativa Socialista (AS), corrente do deputado João Coser, detém a hegemonia do PT no Espírito Santo, comandando o Diretório Estadual desde 2019.

Em Vila Velha, espelhando a composição da cúpula estadual, o Diretório Municipal também é “controlado” pela CNB e pela AS, cujos membros, somados, detêm a maioria dos votos. Juntas, essas duas correntes, em tese, podem levar o partido para o lado que acharem melhor. O presidente municipal, Fabrício de Santana, pertence à CNB, como Edinho, e diz apoiar a pré-candidatura do aliado.

Em desvantagem nessa correlação de forças, Babá aposta em apoiadores de renome e respeito no PT. O ex-vereador pertence ao campo Para Voltar a Sonhar, formado por tendências internas minoritárias como a Resistência Socialista (do deputado federal Helder Salomão) e a Articulação de Esquerda (de Cláudio Vereza e da deputada estadual Iriny Lopes).

Vereza e Helder declararam apoio a Babá, o que, segundo o ex-vereador, serviu-lhe de grande motivação para intensificar o debate interno sobre sua pré-candidatura. Outro apoiador, segundo ele, é o ex-secretário estadual de Justiça e Cidadania Perly Cipriano, da corrente CNB Depar.

Babá e Edinho têm perfis muito distintos, não só por pertencerem a correntes que por vezes não falam a mesma língua. Babá é dentista, enquanto Edinho é economista. O primeiro já foi vereador em Vila Velha; o segundo, em São José do Calçado (na mesma legislatura, de 2009 a 2012).

Mas a principal diferença está no posicionamento em relação à istração de Arnaldinho, da qual o PT, diga-se, não faz parte: Babá destina críticas veementes ao prefeito, a quem considera “midiático”, ao o que Edinho se reserva o direito de só se manifestar sobre ele “no momento adequado”.

De igual modo, Babá nem sequer cogita uma aliança eleitoral com Arnaldinho, tachado por ele de bolsonarista (logo, em campo oposto ao do PT), enquanto Edinho pondera que o Podemos, sigla de Arnaldinho, está na base do governo Lula, e que as definições sobre Vila Velha arão diretamente pelas direções estadual e nacional do PT, as quais já deixaram muito claro: a prioridade no Espírito Santo é a eleição de João Coser em Vitória.

Os dois pré-candidatos convergem num ponto, porém: na avaliação de ambos, voltar a ter candidato próprio a prefeito de Vila Velha é importante para o PT no plano geral, para defender e representar o partido, o governo Lula e seus programas federais, visando inclusive à manutenção do poder central em 2026. Uma candidatura petista na cidade serviria a esse objetivo.

Já o presidente municipal do PT, Fabrício de Santana, afirma que eventual apoio à reeleição de Arnaldinho ainda não foi colocado em discussão, mas não o descarta, e lhe dedica considerações muito mais amenas que as feitas por Babá.

“A atual istração tem feito algumas coisas, mas não tem alinhamento de um partido de esquerda como o nosso. Temos algumas exigências, como moradia popular e a situação dos catadores de papel. Mas não levantamos nenhuma discussão de sermos situação ou oposição ao atual prefeito. Sobre eventual apoio a ele, isso ainda é uma longa discussão.”

Confira abaixo as principais considerações de Babá e Edinho, começando pelo primeiro.

BABÁ: “Serei candidato de oposição a Arnaldinho”

Babá diz querer ser candidato, antes de tudo, para ajudar o PT a recuperar o protagonismo político na cidade.

“Quando fui candidato a prefeito em 2012, o PT elegeu só um vereador. Na eleição seguinte, em 2016, tivemos o candidato a vice-prefeito de Vasco Alves, José Marcio Martins [Vasquinho foi candidato pelo nanico PPL e teve apenas 3,5% dos votos válidos]. Na seguinte, em 2020, o PT apoiou a candidatura de Rafael Primo [pela Rede, tendo Nunes como vice], mas foi algo bem incipiente. O PT não estava organizado e participou mal da campanha. Então faz dois mandatos que o PT não tem nenhum representante com mandato em Vila Velha, com toda a sua história junto aos movimentos populares da cidade. Nos anos 1980, o PT contribuiu muitíssimo para a implantação do orçamento participativo no governo de Vasco Alves, em uma aliança de esquerda. Elegemos Magno Pires. Mas, desde 2012, perdemos protagonismo na cidade.”

Babá acredita que, apesar da vitória de Bolsonaro na cidade nas últimas duas eleições presidenciais, estas também mostraram que há espaço para o PT se reconectar com uma massa de eleitores que ainda simpatiza com o partido, inclusive em Vila Velha:

“Temos que religar esse eleitorado muito grande que votou em Lula, principalmente nas populações de baixa renda, de Terra Vermelha, da periferia, principalmente os que ganham de um a três salários-mínimos. Esse eleitor votou em Lula e ainda acredita no PT. É necessário trazê-lo para que ele se ligue organicamente ao próprio governo Lula, para que estejamos dialogando com essa população na campanha à reeleição de Lula. É possível fazer com que o PT volte a fazer essa conversa com a população de Vila Velha. Temos propostas para os setores populacionais mais carentes. E é possível apontar caminhos para um desenvolvimento mais sustentável e de cidades inteligentes, em diálogo com a classe empresarial.”

Babá afirma que, se for candidato a prefeito, fará oposição a Arnaldinho. “Sem dúvida. Serei candidato de oposição a ele e farei campanha para o Lula.” Ao prefeito, destina críticas:

“É uma istração midiática. É um camarada que a vida inteira foi político. Foi candidato a vereador muito novo. Não construiu um partido, uma luta. Não é um técnico nem especialista em nenhuma área. É um cara que faz política. Como vereador, cresceu batendo em Max Filho. De fato acuou o Max, explorando as fragilidades do prefeito à época, e nisso cresceu politicamente numa aliança à direita, apoiando o Bolsonaro. Isso o distanciou de uma aliança possível com o PT. É um governo mais de fachada do que progressista como ele se mostra.”

Quanto ao mencionado Max Filho, o ex-prefeito informou à coluna que, em março, se filiará ao PDT. Babá também tem suas críticas a ele – principalmente por ter votado a favor do impeachment de Dilma em 2016, como deputado federal pelo PSDB. O ex-vereador rechaça uma composição em que o PT seria vice de Max, mas torce para que o ex-prefeito seja mesmo candidato de novo:

“Fiquei feliz quando o vi se recolocando na política. Acho que ele tem um legado. Mas também acho que ele se equivocou demais e se distanciou demais do campo de esquerda. De 2017 a 2020, fez uma gestão apagada, mas razoável. Acho que os Max deram sua contribuição a Vila Velha, mas isso ou. Não penso que o PT deva apoiá-lo. Queremos fazer a disputa. Se ele quiser vir nos apoiar, ótimo. Mas também acho importante que ele lance a candidatura dele. Todas as forças precisam estar colocadas. Vila Velha precisa saber quem é direita, quem é esquerda e quem está enrolando nesse meio de campo.”

EDINHO WILSON: “Vamos conversar, sim, sobre eventual apoio a Arnaldinho”

Pré-candidato da CNB, Edinho afirma que seu empenho é no sentido de buscar um consenso com o grupo de apoiadores de Babá:

“Confirmo minha pré-candidatura. Há uma orientação da direção nacional para que o PT tenha candidato próprio em cidades com mais de 100 mil eleitores. Mas nós fazemos parte da federação com o PCdoB e o PV. Em Vila Velha, temos defendido a tese de candidatura da federação, mas precisamos respeitar o conjunto dos demais partidos. Pessoalmente, no debate interno, defendo a tese de que o partido lance candidato próprio. Quando há duas candidaturas, você leva até uma prévia. No dia 2 de março, o Diretório Municipal não vai decidir candidatura A, B ou C. Vai definir o debate sobre candidatura própria ou não. No nosso caso, naturalmente, estaremos construindo com as demais forças do partido para unificar em torno de um nome, e o nosso nome está à disposição para esse projeto.”

Questionado sobre uma possível aliança do PT com Arnaldinho em Vila Velha, o aliado de Jack Rocha e Coser dá uma resposta bem diferente daquela do concorrente interno:

“Minha corrente, a CNB, se diferencia um pouco das demais porque sempre se orienta pelas decisões nacionais. Há, na direção nacional e estadual do PT, prioridade para a candidatura a prefeito de Vitória. Naturalmente, estaremos ouvindo essas instâncias e, dentro dessa análise política, há os partidos da federação e os que fazem parte da base eleitoral do governo Lula. O Podemos é um deles. Então vamos conversar, sim, sobre isso.”

O discurso de Edinho só coincide com o de Babá quanto à importância de uma candidatura majoritária do PT em Vila Velha para a defesa do governo Lula:

“Temos uma proposta diferente das demais candidaturas no município. Temos o objetivo de defender o nosso projeto nacional e as políticas do Governo Federal. Queremos dialogar com os movimentos sociais, a periferia, o conjunto de trabalhadores, e apresentar um projeto que contemple todo o município e traga mais desenvolvimento e inclusão a Vila Velha. A nossa proposta será apresentada e, no nosso entendimento, é a melhor para o município.”

OS PERFIS DOS DOIS PRÉ-CANDIDATOS

João Batista Gagno Intra, ou Babá, como é mais conhecido, tem 61 anos. Exerceu apenas um mandato eletivo, como vereador de Vila Velha, de 2009 a 2012. Nesse ano, como diz, “foi para o sacrifício”, trocando a tentativa de reeleição por uma candidatura a prefeito sem chances, para representar o partido na eleição vencida por Rodney Miranda (então no DEM).

Depois disso, nunca mais disputou eleições. Inclinou-se para a área acadêmica. Dentista com consultório próprio, ele hoje é professor e coordenador da Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAP) da Associação Brasileira de Odontologia. Sediada em Bairro de Fátima, na Serra, a escola oferece cursos de pós-graduação e especialização em diversas áreas da odontologia.

Edson Wilson Bernardes Franca, o Edinho, é graduado e mestre em Economia. Tem pós-graduação em Gestão de Empresas e em Gestão Pública. Eletricitário, é funcionário da EDP há 35 anos (desde os tempos em que a Escelsa era uma empresa pública do Estado). Milita no movimento sindical e já presidiu o Sindicato dos Eletricitários. Tem 53 anos.

Sempre pelo PT, já foi candidato a deputado estadual duas vezes e a deputado federal uma vez. Também já concorreu a prefeito da pequena São José do Calçado, no sul do Espírito Santo. De 2009 a 2012, foi vereador do mesmo município. No ano ado, transferiu seu domicílio eleitoral para Vila Velha. No Diretório Estadual do PT, presidido por Jack Rocha, ocupa uma das vice-presidências.