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Coluna Vitor Vogas

PT corre o risco de perder espaço valioso no governo Casagrande

Indicada por Helder para a Subsecretaria de Assistência Social, Nilda Sartório se demitiu. Até o momento, partido não emplacou substituta/o para ela

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Nilda Sartório (PT) pediu exoneração da Subsecretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. Crédito: Reprodução Facebook

Pelo menos temporariamente, o PT perdeu um espaço altamente valorizado pelo partido no segundo escalão do governo Casagrande: a pedido, a subsecretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, Nilda Lúcia Sartório (PT), foi exonerada do cargo pelo governador Renato Casagrande (PSB). Publicada no Diário Oficial do Estado na última segunda-feira (10), a exoneração é retroativa ao dia 3.

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A subsecretaria é subordinada à Setades – Secretaria de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social –, chefiada desde abril de 2020 por Cyntia Grillo (sem partido).

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De perfil técnico, Nilda é assistente social e servidora de carreira da Prefeitura de Vitória. Por muitos anos, foi secretária de Assistência Social de Cariacica, durante a istração do hoje deputado federal Helder Salomão (PT). No fim de dezembro, na etapa final da transição de um governo Casagrande para o outro, Nilda foi indicada pelo PT para assumir a subsecretaria. Mais especificamente, a indicação partiu do grupo do próprio Helder.

No lugar de Nilda, Casagrande designou a servidora Fernanda Mota Gonçallo para responder interinamente pela Subsecretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (Subades).

A nova subsecretária é servidora de carreira da Prefeitura de Colatina. Foi secretária de Assistência Social de Colatina durante a gestão do petista Leonardo Deptulski (2009-2016) e dirigiu a mesma pasta em Baixo Guandu, também na região Noroeste. É outra profissional da área de Serviço Social, de perfil técnico como Nilda. Mas, ao contrário da antecessora, não é filiada ao PT.

Fernanda Gonçallo foi cedida ao Governo do Estado pela Prefeitura de Colatina no fim de março, dias antes da exoneração de Nilda Sartório. Chegou à Setades para assumir a Gerência do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), uma das cinco vinculadas à subsecretaria em questão. No site da secretaria, o nome dela ainda consta nesse cargo.

O pedido de demissão de Nilda poucos dias após a chegada de Fernanda para essa gerência em sua equipe não é pura coincidência. Não foi o motivo da demissão, mas pode ter sido a gota d’água em uma bacia que já estava cheia. Pelo que apurei com fontes do PT e do governo, a subsecretária estava muito incomodada, desde que assumiu em janeiro, com a falta de autonomia para montar a própria equipe de trabalho.

Foram vários os pedidos de nomeações de gerentes e assessores, levados ao governador pela secretária Cyntia Grillo, mas não atendidos como Nilda gostaria, ou ao menos não no tempo em que a subsecretária desejava. A escolha de Fernanda Gonçallo para a Gerência do SUAS não ou por Nilda. Teria sido uma indicação da própria secretária.

Cyntia é outra técnica da assistência social e, antes de assumir a secretaria, comandou a mesma pasta no município de Venda Nova do Imigrante.

Sentindo-se de mãos atadas para formar a própria equipe de trabalho, a subsecretária petista pediu as contas no início deste mês.

A assessoria de imprensa da Setades confirma que Fernanda Gonçallo está à frente da Subades interinamente.

No momento, porém, não há certeza alguma de que a/o próxima/o subsecretária/o de Assistência Social partirá de indicação do PT.

O partido certamente vai indicar um nome para o lugar de Nilda. A assessoria de Helder Salomão afirma que o PT fará isso, mas que a indicação não compete ao deputado.

O Palácio Anchieta está incomodado não só com a maneira como Nilda se demitiu, mas também com a demora do PT em dar uma solução para a questão. A subsecretária entregou o cargo no início do mês e até agora o partido não indicou outro quadro para substituí-la.

A Subsecretaria de Assistência Social é um espaço estratégico e operacional. Cumpre “atribuições fim”, na execução de serviços e programas de inclusão social na ponta, para a população mais vulnerável. Essa prestação não pode parar, e o governo precisa seguir tocando o barco.

Por isso, não se pode descartar a possibilidade de Fernanda Gonçallo ser efetivada no cargo, se der conta do recado.

Nesta quinta-feira (13), a coluna não obteve retorno da deputada federal e presidente estadual do PT, Jack Rocha, para tratar do tema.

O contexto

Parece autoevidente, mas vale reforçar: para o PT, é importantíssimo ocupar esse lugar na Setades, devido ao escopo da subsecretaria e à identificação do partido com as causas da distribuição de renda e do combate à desigualdade social, à pobreza e à fome – carros-chefes dos governos federais petistas e da campanha de retorno de Lula à Presidência da República em 2022.

Não por outra razão, após a vitória eleitoral de Renato Casagrande em outubro com apoio maciço do PT, o partido na verdade pleiteou ao governador não a Subsecretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, mas o comando da Setades, tratado como prioridade pelos dirigentes da sigla durante a transição.

Com a volta de Lula ao poder central, o PT tinha a expectativa ainda maior de gerir no Espírito Santo as políticas públicas estaduais de inclusão social, em conexão com os programas federais do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

Na mesa de negociações com Casagrande, a Setades esteve na iminência de ir mesmo para o PT. A pasta chegou a ser reservada para o partido. Entretanto, antes que isso pudesse se consumar, prefeitos aliados do governo pam o pé na porta.

No fim de dezembro, eles pressionaram pela manutenção de Cyntia Grillo, temendo a descontinuidade de programas como o Cartão Reconstrução e o possível aparelhamento político de uma secretaria fim que, conforme citado acima, executa políticas fundamentais de assistência na ponta, especialmente em municípios mais pobres.

Com essa pequena reviravolta, Cyntia continuou no cargo e, sem o controle da Setades, o PT ganhou algumas compensações, incluindo duas das cinco subsecretarias da própria Setades: a Subades foi para Nilda Sartório, por indicação do grupo político de Helder, enquanto a de Trabalho, Emprego e Geração de Renda ficou com o ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim Carlos Casteglione, cujo nome foi chancelado pela corrente interna do deputado estadual João Coser.

Isso além do comando da Secretaria de Estado de Esportes, com o ex-deputado estadual José Carlos Nunes – indicado por Jack Rocha –, e de outras subsecretarias espalhadas pela estrutura do governo.