Coluna Vitor Vogas
Mesa Diretora: por que Coser na vice-presidência da chapa do Palácio Anchieta?
Coluna lista os quatro fatores que levaram Marcelo Santos (leia-se o governo Casagrande) a reservar para o deputado petista esse espaço privilegiado na chapa palaciana

João Coser tem grandes chances de virar o 1º vice-presidente da Assembleia. Foto: Reprodução Facebook
Como informamos aqui nesta sexta-feira (27), a chapa liderada pelo deputado Marcelo Santos (Podemos) na eleição da Mesa Diretora da Assembleia já está pré-montada, com expressiva influência do governo de Renato Casagrande (PSB). Na disputa com Vandinho Leite (PSDB), é a chapa do Palácio Anchieta.
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Chama a atenção em especial a escalação de João Coser (PT) na 1ª vice-presidência, reservada a ele por Marcelo (leia-se pelo governo). Trata-se do substituto imediato do presidente na condução dos trabalhos em plenário. O próprio Marcelo, aliás, é o 1º vice-presidente da Mesa há seis anos – e veja-se a projeção adquirida por ele na Assembleia.
Na atual eleição da Mesa, o cargo adquiriu particular relevância. Por isso, há que se questionar: por que João Coser na 1ª vice-presidência?
1. Cargo estratégico e consolo para o PT
Para o PT e para o próprio Coser, é lógico que interessa ocupar a posição estratégica na Mesa. O partido assim fica a um o de assumir a presidência dos trabalhos (temporariamente) e da Casa (em definitivo, se Marcelo deixar a presidência e Coser vencer a eleição seguinte).
O sonho de consumo do PT era emplacar Coser na presidência, e ele mesmo se movimentou para isso. O objetivo foi verbalizado para a militância do partido pela Executiva Estadual do PT, em nota expedida no fim de dezembro.
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Entretanto, o nome de Coser jamais chegou perto de vingar nas conversas entre os deputados, devido, basicamente, à forte resistência a um possível presidente de esquerda em um plenário com perfil predominante de centro-direita. O próprio Coser reconhece essa barreira.
A vice-presidência, assim, serve ao PT como um prêmio de consolação. E, também para o governo Casagrande, é importante conceder esse consolo ao PT.
O partido não ficou plenamente saciado na escalação do secretariado do novo governo (só levou a Secretaria de Esportes, agora sob o comando do ex-deputado estadual Nunes). Tampouco ficará com a presidência da Assembleia.
Emplacar Coser na vice-presidência é, também para Casagrande, uma forma de prestigiar e satisfazer minimamente uma sigla de elevada importância em sua coalizão estadual. É nada menos que o partido que voltou a governar este país, tendo o PSB na Vice-Presidência.
Também para ficar bem com o governo Lula, Casagrande precisa manter o PT contente por aqui.
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2. Homem de confiança
Afastados nos últimos anos no Brasil e no Espírito Santo, PSB e PT reataram politicamente nas eleições do ano ado. No Estado, porém, devido às muitas rusgas recentes, “confiam um no outro desconfiando”.
Nessa complicada relação, dentro do multifacetado PT, João Coser pode ser considerado um dos mais antigos e mais sólidos aliados de Casagrande. A parceria entre eles remonta aos anos 1990 e se reafirmou no ano ado.
Quando boa parte da militância e dos dirigentes petistas no Estado defendiam o lançamento de Contarato ao Palácio Anchieta, Coser e seu grupo interno sempre puxaram a corda para a tese (vitoriosa) de apoio à reeleição de Casagrande.
Enfim, Coser na vice-presidência transmite ao governador o que ele mais procura neste processo: segurança e estabilidade na Assembleia.
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3. Trava para Marcelo
Em janeiro do ano que vem, o conselheiro Sérgio Borges fará 75 anos e se aposentará compulsoriamente por idade no Tribunal de Contas do Estado (TCES). Sua vaga na Corte ficará aberta.
Por diversas vezes no ado, Marcelo Santos articulou-se, sem sucesso, a fim de preencher outras vagas surgidas no TCES. Em tese, pode tentar o mesmo daqui a um ano. E, se de fato chegar à presidência da Assembleia, pode usá-la como trampolim para isso.
O Palácio, porém, tem outros planos para ele. E para a cadeira de Borges.
Do ponto de vista do governo, Marcelo já estará mais que contemplado com a presidência da Assembleia e não deve pleitear os dois espaços (“quem tudo quer, nada tem”). O governo prefere abrir espaço para encaixar outro aliado de Casagrande no TCES (por evidente, alguém que seja ainda mais próximo do governador).
O acordo de Casagrande com Marcelo para o apoiar agora teria ado exatamente por isso: em troca da ajuda na eleição da Assembleia, o governo lhe pediu para não melar seus planos para a sucessão de Borges no TCES, isto é, para deixar o caminho livre (“muito ajuda quem não atrapalha”).
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Mas vai que, no fim deste ano, mais empoderado que nunca, Marcelo tenha uma ideia diferente…
Nesse caso, a presença de Coser na 1ª vice-presidência pode servir ao Palácio Anchieta como uma trava às pretensões de Marcelo. Se este virar conselheiro, deixará o mandato e a presidência da Casa, enquanto o petista se tornará presidente interino, devendo convocar eleição extraordinária para a presidência dentro das cinco sessões subsequentes à vacância (artigo 20 do Regimento Interno).
Pela lógica, por ser o presidente interino, Coser poderá lançar candidatura visando permanecer no cargo em definitivo. Foi assim, por exemplo, que Theodorico Ferraço chegou à presidência da Mesa em março de 2012, após o então presidente, Rodrigo Chamoun, tornar-se conselheiro do TCES.
Mas essa ideia não há de agradar nada a boa parte dos deputados.
Assim, para não correrem o risco de ver Coser alçado à presidência da Mesa, muitos colegas de Marcelo em plenário, seus potenciais eleitores, podem se recusar a votar nele para a vaga de Borges. E o voto será secreto, por determinação do STF.
Nessa hipótese, ironicamente, a rejeição de deputados de direita a Coser no plenário pode ser usada pelo Palácio Anchieta a favor de suas próprias pretensões.
4. Isolar e derrotar Pazolini
Gandini (Cidadania) como 1º secretário da Mesa e Coser como 1º vice-presidente. Se a chapa de Marcelo vencer, dos quatro membros mais importantes, a próxima Mesa terá, com essa formatação, nada menos que dois adversários políticos do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos).
Na eleição municipal de 2020, Gandini e Coser concorreram com Pazolini… e perderam. Na do ano que vem, o governo Casagrande não poupará esforços para derrotar o prefeito adversário. Para isso, está empoderando concorrentes locais de Pazolini.
A eleição da Mesa também a por isso.
Errata
Na primeira versão desta coluna, publiquei a informação equivocada de que, se o presidente da Assembleia se tornar conselheiro do TCES, o vice-presidente da Casa se torna presidente em definitivo. Na verdade, conforme corrigido no texto, o vice assume a presidência interinamente e deve convocar novas eleições.
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