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Coluna Vitor Vogas

Da Vitória e Casagrande concordam: PP fica no governo, por inércia

Presidente do PP-ES negou rompimento com Casagrande e sinalizou interesse na sucessão em 26. Ontem provou com Marcelo o poder de articulação da dupla

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Primeira Lei de Newton: se não houver nenhuma força aplicada sobre um corpo em repouso (ou se a soma das forças agindo sobre ele for nula), esse corpo seguirá estático. Da Vitória não quer fazer nenhuma força para puxar o PP para fora da coalizão de Casagrande. Este não fará a menor força para empurrar para fora de seu governo um partido de tamanha importância. Assim sendo, por absoluta inércia, o PP não sairá do lugar: continua no governo e na base parlamentar de Casagrande.

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O próprio Da Vitória afirma à coluna que, no que depender dele, o partido continua onde está, aliás, onde “sempre esteve”, no dizer do deputado:

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“Não tem nenhuma tratativa a respeito disso, nem pelo governo nem por mim. Sempre estivemos na mesma instância lá, e também não fui provocado por ninguém em relação a nada diferente disso. Só a imprensa, que muitas vezes especula.”

Em face da mesma pergunta, o governador ratifica: no que depender dele, o PP não vai a lugar algum.

“Não tivemos nenhuma conversa, ainda vamos conversar, mas segue sim [o PP no governo]. O nosso desejo é ajustar as coisas.”

Presidente estadual do PP desde abril, Da Vitória corrobora:

“Nós estamos na mesma condição. Sempre tivemos uma relação muito boa com o governo e isso se mantém. O mais importante de tudo, que muitas vezes não se promove, é a unidade do grupo [no PP]. O grupo tem conversado muito, todos os membros, não só os parlamentares com mandato estadual e federal, mas todas as lideranças que contribuíram para o tamanho do partido. E as decisões não são tomadas somente pelo presidente. Com diálogo coletivo, a gente tem construído uma proposta para que a gente possa ampliar a representatividade do partido nas próximas eleições.”

Marcus Vicente, Da Vitória Evair de Melo e Marcos Delmaestro ao redor da mesma mesa na semana ada

O deputado também negou que ele e Casagrande tenham se afastado politicamente nos últimos meses:

“Não tem nada disso. Somente que nós temos algumas prioridades, na coordenação da bancada, e acabo de ser reconduzido à presidência do Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara. Às vezes, na ausência, as pessoas pensam diferente.”

Quando o deputado fala em “especulações da imprensa”, esta coluna certamente é uma das destinatárias da indireta. Em mais de uma ocasião, relatamos aqui o profundo afastamento político ocorrido entre ele e o governador após o processo eleitoral do ano ado. Se não chegaram ao rompimento completo, é certo que houve distanciamento. Isso é mais que especulação, é fato. Fato confirmado, inclusive, por fontes de alta graduação tanto no Palácio Anchieta como no PP.

Ampliando o recente afastamento e a tensão entre os antigos aliados, Da Vitória assumiu a presidência estadual do PP no dia 1º de abril, por determinação da direção nacional da sigla, numa articulação conduzida diretamente por ele com os caciques progressistas em Brasília. Desbancou, assim, um fidelíssimo aliado de Casagrande, o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano Marcus Vicente, que presidia o partido no Estado havia uma década.

Tão logo tomou a frente do PP, Da Vitória não perdeu um segundo. ou a protagonizar uma série de articulações buscando aproximar o partido de outras forças políticas de direita, as quais não pertencem à coalização político-eleitoral liderada por Casagrande, como o Partido Liberal (PL) e o Republicanos.

O objetivo é começar a preparar o terreno para a construção de alianças próprias nas eleições municipais do ano que vem, extrapolando bastante os limites do “território aliado” de Casagrande. É o que o deputado sugere ao falar em ampliar “a representatividade do partido nas próximas eleições”.

Alguns desses movimentos de Da Vitória têm sido mais discretos, outros têm sido mais explícitos.

Na última categoria, entra a aproximação com o prefeito de Vitória, Lorenzo Paozilini (Republicanos), adversário de Casagrande, com quem Da Vitória tem aparecido frequentemente em fotos publicadas em redes sociais.

O ápice foi o convite feito pelo prefeito ao vereador Anderson Goggi, do PP, para se tornar secretário municipal de Cultura, oferta que acabou declinada pelo parlamentar. Mas o nó da costura entre PP e Republicanos ficou visível ali, e o secretário de Governo de Vitória, Aridelmo Teixeira (Novo), afirmou à coluna que eles querem mesmo atrair o PP para o governo Pazolini.

Sem esconder sua contrariedade ao ver o PP à beira do ingresso na gestão do adversário em Vitória, Casagrande chegou a declarar a este espaço: “Isso influencia na relação. O PP escolheu seu caminho. E nós vamos escolher o nosso”.

Ontem, perguntamos a Da Vitória se o PP indicará outro nome para o secretariado de Pazolini. Ele tergiversou: “Eu não discuti esse tema. Foi a Executiva Municipal do partido.”

Possível candidato em 2026: “Estamos a postos”

Da Vitória já figurou aqui em nossa lista de dez possíveis candidatos à sucessão de Casagrande em 2026. Eu diria, inclusive, que hoje o deputado é um dos mais fortemente cotados para a empreitada. Quando lhe perguntamos se cogita se lançar, ele não refutou essa ideia, muito pelo contrário:

“Tem muito tempo pela frente, uma eternidade ainda. Nós temos que estar à disposição da sociedade. Naquilo que for importante, nós estamos a postos.”

Ontem, o esperado reencontro

Depois de um longo tempo sem se encontrarem nem se falarem, Casagrande e Da Vitória estiveram juntos durante o seminário sobre a reforma tributária promovido na manhã de ontem, no plenário da Assembleia, com a presença de várias autoridades políticas estaduais e nacionais.

Antes do evento, iniciado às 9h30, os dois participaram de um café da manhã oferecido pelo presidente da Assembleia, Marcelo Santos (Podemos), em seu gabinete. Interagiram normalmente, tratando-se com respeito e cortesia e até trocando algumas risadas.

Durante o seminário, sentaram-se bem próximos à mesa de autoridades, separados apenas por Marcelo Santos.

Segundo Casagrande, ele e Da Vitória não chegaram a falar sobre o PP nem sobre o relacionamento político abalado entre eles. Não foi o momento de ter a aguardada DR. “Sobre isso, não falamos”, disse o governador. “Ainda vamos conversar.”

Depois do seminário, todos almoçaram juntos.

Marcelo, o mediador

Muito bem relacionado com ambos, Marcelo Santos tem buscado atuar como um mediador, não só porque ficou literalmente no meio de Casagrande e da Vitória, mas porque tem efetivamente buscado promover a reconciliação entre os dois velhos aliados.

“Se estou trabalhando para reconstruir a ponte entre eles? Com certeza! Já tenho feito isso!”, exclamou o presidente da Assembleia. “Pode ter certeza que não há nenhum problema entre os dois e que vamos caminhar juntos em prol do Espírito Santo.”

Marcelo e Da Vitória: olho com lupa nessa dupla!

O seminário realizado ontem na Assembleia não foi um evento qualquer. É preciso reconhecer sua importância e, antes de tudo, os méritos de Marcelo e Da Vitória, principais organizadores e patrocinadores políticos do seminário.

No telão, entre os realizadores, constava “Bancada Federal do ES”, Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara (presidido por Da Vitória) e Assembleia Legislativa. Mas a iniciativa de fato foi da dupla, que prometeu e entregou um feito raro.

A poucos dias da apresentação do relatório final da reforma tributária que irá a votação diretamente no plenário da Câmara no início de julho, Da Vitória e Marcelo conseguiram reunir, na Assembleia, ninguém menos que as três autoridades mais importantes no debate sobre reforma tributária na Câmara neste momento: o relator do projeto, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o coordenador do Grupo de Trabalho na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), e o secretário extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernad Appy.

Só faltou mesmo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) – mas aí também seria pedir demais.

Appy e a dupla Aguinaldo e Reginaldo vieram, discursaram, explanaram e deram entrevistas. O último ainda respondeu a dúvidas da plateia, formada por empresários e agentes políticos. Todos receberam das mãos de Casagrande um documento com sete propostas defendidas pelo Governo do Espírito Santo para serem incorporadas à redação final do projeto da reforma.

Diversos oradores destacaram o caráter único do evento: segundo eles, nenhum outro estado conseguiu reunir, em um evento no próprio estado, Appy, o relator e o coordenador do Grupo de Trabalho na Câmara, para discutirem a reforma tributária desde uma perspectiva geral, mas também desde o ponto de vista específico do estado.

O secretário de Estado da Fazenda, Marcelo Altoé, chegou a brincar que os outros secretários estaduais estavam morrendo de ciúmes no grupo formado por eles e reunido no Comsefaz.

Ponto para Da Vitória e Marcelo, que deram prova pública de prestígio e de poder de articulação tanto aqui como em Brasília.

“A relação que temos no Congresso Nacional e a unidade que temos para esses temas importantes para o Espírito Santo fizeram com que eles pudessem honrar o Espírito Santo com as três figuras mais importantes do grupo de trabalho”, afirmou Da Vitória.

Marcelo explicou a “construção a várias mãos”:

“A Assembleia não pode ficar inerte [opa! olha aí: ‘inércia!’]. Ela não pode ficar aqui apenas dentro da caixinha do Poder Legislativo Estadual. Nós construímos isso a várias mãos. O deputado federal Da Vitória é um líder inconteste, lidera a bancada, mas também coordena o Centro de Estudos [e Debates Estratégicos da Câmara]. Imediatamente, quando nós acertamos fazer esse seminário, comunicamos ao governador, que imediatamente preparou o secretário Marcelo [Altoé], para que nós pudéssemos construir uma proposta em conjunto, ou seja, Assembleia e Governo do Estado, e ao mesmo tempo mostrando que esse não é só um debate político e da classe política, mas tem que envolver todo mundo.”