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Coluna Vitor Vogas

MDB: Marcelino escala a própria mãe para “presidir eleição da Executiva”

As expectativas, a realidade e os paradoxos de um partido com dois presidentes no ES no momento e, ao mesmo tempo, nenhum

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Ao centro o rapaz (mais alto) que exibia os votos não esconde a perplexidade ao se dar conta do empate entre Rose e Lelo. Crédito: Vitor Vogas

A ex-senadora Rose de Freitas encerrou a convenção estadual do MDB na última quinta-feira (21) falando em tirar os cinco dias seguintes (vencidos hoje) e mais tempo, se necessário, para construir um entendimento político com o ex-deputado federal Lelo Coimbra, seu adversário na disputa interna pelo comando da legenda no Espírito Santo. Ela também frisou que queria trégua. Lelo, por sua vez, declarou aos militantes presentes que ele e Rose se engajariam na “busca dos melhores caminhos”, em diálogo com a participação da Executiva Nacional do partido.

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Cinco dias se aram desde então, ao fim dos quais é possível afirmar: a “trégua” na verdade acabou nos minutos seguintes, o “entendimento” entre os dois ou longe e “os melhores caminhos” nem sequer chegaram a ser esboçados. Os dois na verdade nem chegaram a dialogar após a fatídica convenção, cujo resultado ficou em aberto após o empate entre as chapas de Rose e de Lelo nos votos dos delegados municipais (27 a 27).

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No lugar dessa busca de entendimento e pacificação, os últimos dias acrescentaram uma sucessão de episódios incríveis a um enredo novelesco que parece não ter fim, com direito à aparição na trama de uma personagem totalmente inusitada: ninguém menos que a mãe do ex-deputado federal Marcelino Fraga, uma senhora de 89 anos chamada Salém Ayub Fraga, escalada pelo próprio filho para compor a chapa de Rose.

Ao que tudo indica, ela também foi escalada pelo filho para presidir a eleição da nova Executiva Estadual do MDB no Espírito Santo, marcada para a tarde desta terça-feira (26), das 14h às 19h, na sede do partido. Detalhe: Marcelino não está filiado ao MDB.

Protocolizada ontem (25) na sede estadual do partido, a convocação da eleição da Executiva é assinada pela senhora Salém Fraga. Foi o próprio Marcelino quem fez chegar à coluna a cópia do documento. Nele, são convocados todos os 71 membros do Diretório Estadual “proclamados eleitos e empossados na convenção” da última quinta-feira para eleger, dentre eles, os 13 membros que formarão a próxima Executiva Estadual, órgão máximo decisório da legenda no Espírito Santo. Segundo Marcelino, sua genitora teria a legitimidade para convocar e conduzir a eleição da Executiva por ser a integrante mais velha dentro os membros do “novo Diretório”.

Ontem, Marcelino afirmou a este espaço que sua mãe está saudável e perfeitamente lúcida, que adora política e que realmente é ela quem presidirá a eleição da Executiva na tarde desta terça-feira. O ex-deputado se disse seguro de que a eleição de fato ocorreria, a menos que a direção nacional do partido tomasse alguma medida drástica em contrário.

Marcelino, como a coluna já registrou, é aliado declarado de Rose nessa disputa interna e deu à ex-senadora uma ajuda crucial para ela conseguir montar sua chapa contra a de Lelo no limite do prazo: segundo o próprio Marcelino, dos 70 membros da chapa da ex-senadora, cerca de 40 foram escalados por ele no último dia para registro das chapas (incluindo a sua quase nonagenária mãe).

Mas a própria convocação dessa eleição, feita dessa maneira, já nasceu eivada de controvérsias quanto à sua legitimidade e à sua validade tanto política como jurídica.

Lelo não reconhece a convocação

Em primeiro lugar, a chapa de Lelo, dona da metade dos votos na convenção para escolha do Diretório na última quinta, não reconhece de modo algum a convocação assinada pela mãe de Marcelino e não participará do ato. Para Lelo, Marcelino “está usando a própria mãe de maneira vil”.

Na verdade, o que Lelo propugna é a anulação total da convenção da última quinta. Ou seja, o que ele quer é zerar o jogo, em vez de permitir que se avance para a etapa seguinte do processo sobre bases questionáveis. Para isso, espera a intercessão da direção nacional do MDB a partir de amanhã (27).

Movimento isolado

Em segundo lugar, há dúvidas de que a própria Rose compactue com esse movimento envolvendo a mãe de Marcelino. Ontem, a coluna fez diversas tentativas de contato com a ex-senadora para saber se ela mesma reconhece a legalidade e a legitimidade dessa convocação, mas não obteve retorno. Também não conseguimos respostas do advogado do MDB-ES, Rodrigo Barcellos.

Segundo Lelo, ele próprio chegou a falar com Barcellos ontem, e o advogado lhe teria dito que Rose não tem nenhuma participação nem responsabilidade em tal movimento. Teria sido uma iniciativa do próprio Marcelino. “Não somos só nós que não reconhecemos”, disse Lelo.

Salém x Pimenta: quem preside, afinal???

Em terceiro lugar, é duvidoso que se possa apontar a mãe de Marcelino como a “presidente em exercício do MDB”, por ser “a integrante mais velha do Diretório eleito”.

O Estatuto do MDB informa que, logo após a eleição e a constituição do novo Diretório, os membros deste devem se reunir, nos cinco dias subsequentes (até esta terça-feira), para eleger a nova Executiva, sob a presidência do mais velho dentre os 71 integrantes eleitos.

É nessa condição, como a mais velha dentre os membros do “novo Diretório”, que a senhora Salém Ayub Fraga supostamente seria a presidente em exercício do partido, com legitimidade para convocar e presidir a eleição da Executiva. Marcelino não tem nenhuma dúvida: é ela a atual presidente.

Lelo discorda. Afirma que a mãe de Marcelino nem sequer se fez presente na convenção da última quinta (de fato, ela não ou por lá). Para o ex-deputado, por esse critério de idade, o verdadeiro e legítimo presidente estadual do MDB logo após a eleição do Diretório seria José Maria Pimenta, 77 anos, servidor aposentado da Assembleia Legislativa, aliado de Lelo e integrante de sua chapa. “Ficamos no vácuo. Não temos nem ata da convenção. Nesse vazio, eu o reconheço como o atual presidente, com certeza.”

Cumpre registrar que, em discurso para a militância logo após a votação para o Diretório, a própria Rose afirmou que Pimenta a princípio seria o presidente provisório, mas que, em vez da eleição imediata da Executiva, ela propunha a utilização do prazo de cinco dias para tentar chegar a um entendimento com Lelo.

A resolução de Pimenta

Também reconhecendo a si mesmo como presidente em exercício, o próprio Pimenta assina uma resolução, datada do dia 21 (dia da convenção), na qual, pretensamente investido dos poderes da presidência, resolve “cancelar, sob todos os aspectos, a reunião de votação realizada em 21/09/2023, vez que não pode ser equiparada à convenção estadual”.

Pimenta também submete o cancelamento ao referendo da Executiva Nacional e “ratifica a necessidade de realização de convenção estadual, sob a fiscalização direta e sob a convocação do MDB nacional”.

Para justificar o suposto cancelamento, o suposto presidente menciona uma série de “vícios formais e materiais” na votação, a inobservância de regras e ritos previstos no Estatuto, delegados que teriam votado sem poder votar, outros que teriam sido impedidos de votar mesmo com direito, “além do tumulto generalizado”.

Como confirma Lelo, o documento de Pimenta foi lavrado com a sua anuência e remetido por ele mesmo à cúpula nacional emedebista.

O paradoxo do MDB

Assim, eis o paradoxo a que chegamos: de um lado, um aliado muito importante de Rose proclama a própria mãe (repita-se: de 89 anos) como atual presidente do MDB-ES e esta, como se fosse mesmo a presidente, firma uma convocatória para a eleição da Executiva Estadual; enquanto isso, do outro lado, o grupo de Lelo reconhece um aliado de 77 anos como o atual presidente e este, agindo como se o fosse, baixa uma resolução cancelando tudo até aqui.

Uma “presidente” quer ir para a frente; o outro “presidente” quer voltar atrás.

Se você achou a história toda até aqui deveras confusa, fique tranquilo/a: não está sozinho/a.

Cabe frisar ainda que, logo após a convenção, nem Rose nem Lelo souberam ou quiseram afirmar à imprensa quem seria o presidente de fato e de direito a partir daquele ponto.

Mas há que se falar num Diretório?

É discutível até mesmo que se possa falar em um Diretório eleito, empossado e instituído, pois quem testemunhou a convenção da última quinta viu muito bem: não foi isso que aconteceu. Logo após a proclamação do empate na votação (27 a 27), Rose pediu um tempo para conversar em separado com Lelo, de fato fez isso e voltou dizendo que usaria os dias seguintes para tentar chegar com ele a um acordo, com o que Lelo concordou publicamente.

“Só queríamos sair daquele ambiente. O final já estava contaminado”, justifica Lelo.

O MDB-ES nunca decepciona

O MDB nunca decepciona. Quando você acha que já viu de tudo, os “roteiristas” e os “coprotagonistas” do imbróglio que se apoderou do partido desde 2019 dão um jeito de se superar.

A temporada atual trouxe de volta um dos principais personagens das temporadas 2019 e 2020, Marcelino Fraga (que lutou pela presidência contra Lelo até ser expulso, em março de 2021, pela Executiva Nacional). E, de quebra, apresentou ao público a senhora Salém Fraga, mãe do ex-deputado.

O que diz a Executiva Nacional

A coluna pediu à direção nacional do MDB um posicionamento sobre a situação do partido no Espírito Santo. A assessoria de imprensa da Executiva Nacional respondeu que “o tema ainda não foi tratado pelo MDB Nacional”.

Expectativa

De Rose de Freitas para a militância e a imprensa, logo após a proclamação do empate, na quinta-feira:

“E eu e Lelo estaremos sentados dia e noite até a terça-feira e mais um tempo, se necessário, para conseguirmos essa convivência que deve levar ao crescimento do MDB e ao respeito de todos. […] Minha proposta é o entendimento. Não terá nova convenção. Se tiver nova convenção, essa briga não vai acabar nunca”.

Realidade

“Sentados dia e noite até terça-feira” virou “nenhum diálogo, muita briga e novos desentendimentos”. E Lelo quer nova convenção…

Segundo o ex-deputado, “não é possível acordo com Rose”.

O jogo de cena acabou.

O ime só se aprofundou.