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Coluna Vitor Vogas

Evair & Da Vitória: deputados do PP não estão falando a mesma língua

Evair estica, Da Vitória puxa de volta; o primeiro morde, o segundo vai e assopra. Afinal, qual é o verdadeiro jogo político que ambos estão jogando?

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Evair Vieira de Melo e Josias da Vitória

Evair Vieira de Melo e Josias da Vitória

Reeleitos pelo PP em 2022, Evair de Melo e Josias da Vitória são os dois deputados federais do Progressistas (PP) e os dois maiores líderes do partido hoje em dia no Espírito Santo – sendo o segundo, desde abril, o presidente estadual da legenda. Nos movimentos e nas articulações, os dois têm estado muito entrosados, o que desponta das muitas fotos em companhia um do outro publicadas nos últimos tempos em suas redes sociais (algumas delas ao lado de Pazolini). Nos bastidores, a dupla está fechada.

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Todavia, nos respectivos estilos políticos, estratégias e declarações, os dois definitivamente não estão falando a mesma língua. Nenhum dos dois é baixinho, mas Evair e Da Vitória têm protagonizado um verdadeiro jogo do “estica e puxa”, principalmente no que tange à relação do PP com o governo Casagrande: enquanto Evair estica o partido para fora do governo, Da Vitória o puxa de volta para dentro.

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O mesmo em relação ao prefeito de Vitória: Evair faz de tudo para puxar o partido para o palanque de Pazolini o quanto antes, ao o que Da Vitória estica o prazo para a tomada de qualquer decisão eleitoral em nome do PP.

Com o governo Lula, Evair se firma a cada dia como um opositor radical, enquanto Da Vitória, mesmo não sendo da base, vota com o Planalto quando entende que a medida atende ao interesse público.

Com o governo Casagrande, Evair é um crítico mordaz, enquanto Da Vitória, malgrado recentes estremecimentos, mantém-se como um colaborador sempre a postos para auxiliar o Palácio Anchieta em Brasília.

Com o governo Pazolini, os dois deputados estão próximos, mas Evair escancara a sua tomada de posição eleitoral, enquanto Da Vitória, diplomaticamente, equilibra-se nos dois grupos políticos e procura manter equidistância entre prefeito e governador.

No fim de agosto, ambos concederam, separadamente, reveladoras entrevistas à coluna. Se comparadas, as respostas de Evair e Da Vitória expõem as divergências entre os dois deputados. Abaixo, ressaltamos as principais:

AS PRETENSÕES ELEITORAIS EM 2026

Evair e Da Vitória têm a mesma aspiração eleitoral em 2026: concorrer ao Palácio Anchieta. Contudo, enquanto Evair precipita seu lançamento e ite de maneira desbragada que se prepara para chegar ao governo, o máximo que você vai ouvir de Da Vitória sobre o tema é que ele estará a postos no momento oportuno, se for mesmo esse o desejo da sociedade capixaba.

Por sua vez, Evair considera essa antecipação da sua largada não só importante como necessária:

“É importante antecipar este debate, para que a sociedade saiba que estamos nos preparando para, ao chegarmos ao Governo do Estado, já sabermos o que vamos fazer.”

Enquanto Evair acelera, Da Vitória pisa no freio. Trata eleição como “eternidade”. É muito mais discreto que o colega, esconde muito mais o jogo.

Cada um está pisando num pedal.

A RELAÇÃO COM O GOVERNO LULA

Para viabilizar sua candidatura ao Palácio Anchieta em 2026, Evair procura se consolidar como expoente capixaba no campo da direita bolsonarista e “um dos mais ferrenhos líderes da oposição” ao governo Lula no Congresso Nacional, como ele mesmo se proclama.

Por seu turno, Da Vitória não faz parte da base do governo. Não apoiou a volta de Lula ao poder. Aliás, faz questão de salientar que jamais na vida votou em um só candidato do PT, para qualquer cargo eletivo. Na acirradíssima eleição presidencial do ano ado, assim como Evair, Da Vitória votou em Bolsonaro. Foi um dos autores do voto “Casanaro” no Espírito Santo.

No entanto, de modo até certo ponto surpreende, Da Vitória faz agora ressalvas ao modelo político de Bolsonaro e a medidas tomadas pelo governo do ex-presidente, das quais “queria distância”. E garante: como coordenador da bancada capixaba e representante dos interesses do Estado no Congresso, jamais deixará de apoiar boas medidas que venham do governo Lula só porque não apoiou a eleição do petista.

“Nunca votei no PT. Mas renuncio à coordenação da bancada se eu for ficar torcendo contra o Brasil! Sempre agi assim. Você nunca me viu em carona de Bolsonaro, em foto… Tem muitas coisas que ele fazia que eu não aprovava, que não têm nada a ver com meu modelo. Eu nunca queria estar perto de algumas ações.”

É uma postura que o difere e o distancia bastante de Evair, “voto não” para tudo que venha do governo Lula, inclusive a tão esperada reforma tributária. Evair votou contra; Da Vitória, a favor. E, se Da Vitória nunca foi visto “em carona de Bolsonaro”, Evair literalmente subiu no trio elétrico ao lado do então deputado desde a sua vinda a Vitória em 2017, em plena pré-campanha presidencial.

A RELAÇÃO COM CASAGRANDE

Ao contrário do que faz em relação ao governo Lula no país, Evair prefere não se declarar abertamente opositor ao governo de Casagrande no Espírito Santo. Mas isso não o impede, de modo algum, de manter uma posição extremamente crítica à istração do socialista – até por encará-la como uma istração de esquerda, a qual, na lógica do “nós contra eles”, está no campo oposto ao dele. Na entrevista à coluna, por exemplo, Evair disse que o tempo de aprendizado levado por Casagrande na gestão custou muito caro ao nosso estado.

A relação de Da Vitória é quase oposta. Em primeiro lugar, ninguém jamais ouviu da boca dele uma só crítica à istração de Casagrande, muito menos à condução do governador. Logo após o triunfo sobre Manato no dia 30 de outubro do ano ado – e faço aqui uma revelação –, encontrei Da Vitória na festa da vitória, no comitê de campanha de Casagrande. Perguntei-lhe de agem, em alusão à derrota de Bolsonaro para Lula, confirmada minutos antes: “Ganhou aqui, mas perdeu lá, né?” Ele me respondeu que o mais importante sempre fora aqui: a reeleição de Casagrande.

Logo após o processo eleitoral, Da Vitória e o governador se distanciaram muito. De uns dois meses para cá, porém, têm se reaproximado. Um dos pontos fundamentais para isso é a prestatividade de Da Vitória nas pautas de interesse do Espírito Santo (logo, do Governo do Estado) no Congresso. Para o governo Casagrande, o coordenador da bancada capixaba mantém-se como colaborador muito útil e operante, sempre pronto a servir.

Maior prova disso é o debate relacionado à reforma tributária. Aliás, na semana ada, durante evento do sindicato patronal das empresas de comércio exterior (Sindiex), Casagrande desmanchou-se em elogios ao deputado diante de empresários exportadores: “Temos tido apoio incondicional do Da Vitória no debate sobre a reforma”.

O PP NO GOVERNO CASAGRANDE

Apesar de todas as críticas de Evair, o PP faz parte do governo Casagrande, com lugar cativo no 1º escalão: desde 2019, o ex-deputado federal Marcus Vicente está à frente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano (Sedurb). Mas não se dependesse do próprio Evair:

“Se eu fosse o presidente estadual do partido, certamente nós não estaríamos na gestão do Casagrande, até porque eu e a parte do partido que me acompanha não compactuamos com o modelo de gestão e com a forma de atuação do governo.”

O deputado reconhece, no entanto, não ter hoje maioria no PP capixaba para fazer vingar a tese de desembarque do governo Casagrande: “A turma que defende sair do governo hoje é minoria”.

Com Da Vitória, o discurso é outro. Para ele, o PP pode e vai seguir apoiando e participando do governo Casagrande sem problema algum, ao mesmo tempo em que a a colaborar com Pazolini em Vitória, sem que A invalide B. Para lastrear essa tese, o deputado faz praticamente uma ode à “maturidade política” do governador, rendendo-lhe grandes elogios e evocando a antiga parceria política dos dois (que, se depender dele, não acaba):

“Um dos agentes políticos mais maduros que nós temos no Espírito Santo chama-se Renato Casagrande. A minha relação com ele é excepcional! Nós construímos tantas coisas juntos e conversando com todas as linhas políticas do Espírito Santo. A eleição ada é a maior prova disso. Eu fui o maior interlocutor com todas as agendas. Então o governador, que acabou de ganhar uma eleição, tem um grande papel: é juntar o Espírito Santo. Se ele tiver 100% dos capixabas apoiando o governo dele, é ótimo. Quem divide é a sociedade… e a imprensa”, esgrime.

(Em tempo, a imprensa cumpre seu papel de analisar e comparar fatos e declarações, apontando possíveis divergências, sobretudo quando são flagrantes e envolvem aliados políticos, como é o caso aqui.)

A RELAÇÃO COM PAZOLINI

Evair e Da Vitória concordam que o PP está ajudando a gestão do prefeito de Vitória. Mas divergem clamorosamente quanto à antecipação de apoio eleitoral.

“Já fiz minha manifestação de apoio a Pazolini, antes inclusive do meu partido. Já fiz a manifestação pessoal e estou trabalhando para que o partido possa estar no seu palanque em 2024”, reitera Evair.

O deputado não vê incompatibilidade entre essa tese e o fato, insisto, de o seu partido fazer parte do governo Casagrande, adversário político do prefeito de Vitória:

“Não vejo antagonismo nenhum nisso. O PP está se preparando para ser protagonista. Portanto, ele faz essa arrumação, faz essa organização. Estamos ajudando, sim, o Pazolini. Nossos deputados, incluindo eu e o Da Vitória, somos colaboradores do mandato dele. A questão é criar um ambiente político para que o Pazolini possa ser reeleito e continuar nesse trabalho que nós reconhecemos e respeitamos como um trabalho extraordinário em Vitória.”

Segundo Evair, independentemente de indicações e participação ou não no secretariado municipal, o PP já faz parte da istração de Pazolini, “há muito tempo”. “Estar num governo é apoiar as políticas realizadas, apoiar a gestão, dar a nossa contribuição. O PP tem colaborado muito.”

Por sua vez, Da Vitória confirma que o PP está a colaborar para o sucesso do governo Pazolini, em prol do desenvolvimento de Vitória, e indica que isso não mudará: “O PP apoia a gestão Pazolini, ajudando a cidade. Se alguém não aceitar que eu ajude Vitória, está errado!”

Convergindo com Evair em outro ponto, Da Vitória sublinha que a ajuda do PP à istração de Pazolini independe de o partido vir ou não a ocupar assento no secretariado. “Nós não temos esse diálogo com ele. Acho que nem cabe essa discussão, porque o nosso apoio não a por aí. Vai ar por uma construção de projetos, de gestão.”

Entretanto, quando a discussão adentra o processo eleitoral, o dirigente máximo do PP no Espírito Santo faz questão de enfatizar que o partido não tem nenhuma decisão tomada – o que, aliás, também vale para qualquer outra cidade onde o PP não tenha prefeito filiado à sigla postulando a reeleição. Está tudo em aberto. “O Pazolini já ouviu de mim e da Executiva do PP: nós vamos discutir eleições mais na frente.”

Em outras palavras, apoio à gestão é uma coisa; apoio à reeleição é outra. O primeiro não necessariamente se traduzirá, ou se desdobrará, no segundo. O PP é partícipe do governo Pazolini, mesmo sem lugar no secretariado. Daí a dizer que o partido será um aliado eleitoral e estará na coligação do prefeito, vai uma relevante diferença.

Ao contrário de Evair e de alguns aliados de Pazolini, Da Vitória não tem pressa em tomar tais decisões eleitorais. Joga com o tempo a seu favor, cuidando das articulações com o calendário eleitoral sob o braço. “Eu tenho trabalhado para que a gente possa usar a cronograma. As pessoas só falam de eleição!”, reclama. “Uma semana para uma eleição é uma eternidade. Imagine um ano!”

Assim, enquanto Evair põe lenha nessa fogueira, Da Vitória vem com o balde de água fria. Enquanto o primeiro tem aumentado a temperatura do fogo, o presidente estadual do PP gira o botão do fogão para o outro lado.

EVAIR POR DA VITÓRIA: “OUTRO MODELO”

Sobre as recentes declarações de Evair, Da Vitória o elogia bastante e ressalta os laços de proximidade existentes entre eles, mas pondera que as posições “antecipadas e às vezes distantes do partido” tomadas pelo colega de bancada não podem ser lidas como posições oficiais do PP:

“Evair tem muito mais tempo de Progressistas do que Da Vitória. Ele me apoiou para ser presidente do partido. Tenho muito respeito pelo Evair. A minha relação com ele é excepcional! Agora, o Evair tem um outro modelo. Ele tem tocado as agendas dele com apoio para 2024 de uma forma antecipada e às vezes até um pouco distante do partido, por conta da relação que ele tem no município e não tem às vezes com o partido. Então ele tem a nossa compreensão para isso.”

A MENOS QUE… TUDO SEJA COMBINADO

A menos que tudo isso, esse jogo de estica e puxa, essa dinâmica de morde e assopra, seja no fundo combinado entre os dois.

E se o que aparenta ser dualidade na verdade for complementariedade, principalmente no que concerne à relação do PP com Casagrande e com Pazolini?

Evair morde o governador, Da Vitória vai lá e assopra, como se fossem o “tira bom” e o “tira mau” (good cop, bad cop). Evair dá um puxão no PP para o palanque de Pazolini, Da Vitória dá aquela segurada…

Por estratégia e diplomacia, pela posição que ocupa como presidente estadual do PP e por sua histórica relação política e pessoal com Casagrande, Da Vitória não pode chutar o balde, simplesmente romper com o Palácio Anchieta e levar o PP para Pazolini.

Já Evair, sem nenhum compromisso com Casagrande, pode fazer isso livremente.

É possível que, no combinado, Evair esteja cumprindo esse papel por ele mesmo, mas também por Da Vitória, mantendo esse clima de permanente tensão para o Palácio Anchieta não dar de barato a permanência do PP no movimento pilotado por Casagrande.

Tem gente até dentro do PP para quem é esse o verdadeiro jogo que está sendo jogado pela dupla.