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Coluna Vitor Vogas

Do Val está desperdiçando o privilégio dado a ele por capixabas

Prioridades do senador estão invertidas: muito empenho em polêmicas estéreis, conspirações e implosão da própria credibilidade; pouquíssimo empenho nas pautas que realmente importam ao povo do estado que o levou para o Senado

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Em discurso, à tribuna, senador Marcos do Val (Podemos-ES). Crédito: Roque de Sá/Agência Senado

Exercer um mandato de senador é um privilégio para poucos.

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Desde o início deste século, em seis eleições para o Senado, somente seis homens e uma mulher conseguiram chegar lá pelo Espírito Santo. Na Câmara Alta, com representação paritária, as unidades federativas se igualam: independentemente do tamanho da população e da força econômica, cada um dos 27 entes possui ali três representantes.

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Três representantes… é bem pouco, claro. E é precisamente por isso que cada um desses três senadores é absolutamente indispensável para o estado pelo qual foi eleito. Cada um deles faz enorme diferença para a unidade que representa, principalmente para estados como o Espírito Santo, cheio de pleitos históricos acumulados junto a Brasília, mas com população bem menor, importância política idem e economia bem menos pujante que a de muitos outros estados.

Para um ente como o Espírito Santo, a bancada paritária no Senado é uma forma de compensar a sua bancada numericamente modesta na Câmara dos Deputados, muito inferior, por exemplo, às dos estados vizinhos no Sudeste. É um modo de buscar equilibrar a correlação de forças políticas. Para isso, um estado como o Espírito Santo não pode se dar ao luxo de ter um senador somando zero.

Exercer um mandato de senador é um privilégio para muito poucos.

Por uma combinação cósmica de fatores que se conjugaram em 2018 e que dificilmente se repetirão ao mesmo tempo em uma mesma eleição em décadas, o instrutor de segurança Marcos do Val alcançou esse privilégio contra todos os prognósticos naquele ano, eleito de arrasto pela “onda Contarato” (eram duas vagas); pela fortíssima ascensão do bolsonarismo; pelo auge do antipetismo; pelo desencantamento geral do eleitor brasileiro após anos de crise econômica, impeachment de Dilma, derrocada do governo Temer e corrupção desvelada pela Lava Jato; por certa criminalização da política e dos políticos tradicionais e a consequente procura sem precedentes por candidatos outsiders; e, de modo muito específico, por um atípico favorecimento do eleitor a representantes de forças de segurança pública ou a elas vinculados de algum modo.

Do Val preenchia todas as casas e, de absoluto azarão sobre quem muito pouco se sabia, tornou-se de repente senador da República pelo Espírito Santo. O destino lhe sorriu.

Foi uma oportunidade única e inédita, uma dádiva caída em seu colo, para ele provar que um outsider pode mesmo “mudar as coisas” no Senado… O até então instrutor de segurança tinha tudo para exercer um magnífico mandato, principalmente em benefício do Espírito Santo e dos capixabas…

Mas o senador, infelizmente, tem se esforçado imensamente para desperdiçar esse privilégio que a vida e os eleitores capixabas lhe deram. Falando apenas em hipótese, se Do Val realmente deixasse de ser senador amanhã, subitamente, faria tanta diferença assim para o Espírito Santo, levando-se em conta as pautas que realmente importam para o povo capixaba?

As prioridades do senador estão completamente invertidas.

Assim como faz um esforço sobre-humano para minar a própria credibilidade, ele gasta energia demais com pautas completamente estéreis, irrelevantes para o desenvolvimento econômico, social e humano do Brasil e do estado que foi eleito para representar. Dispende um tempo precioso perseguindo as próprias obsessões e moinhos de vento quixotescamente projetados por sua mente…

Todas aquelas madrugadas viradas fazendo lives só para retroalimentar uma bolha virtual que parece ter virado um fim em si mesma e a real razão de ser do seu mandato… Todas aquelas polêmicas inúteis com Lula, Dino, Moraes… Todas as fustigações, provocações e complicações com a Justiça que ele tão laboriosamente tem se empenhado em cultivar…

Enquanto se concentra nessa “agenda”, o senador mantém-se inteiramente alheio às pautas de interesse estratégico para os brasileiros e, sobretudo, para os capixabas. Desde o 8 de janeiro, Do Val só quer saber do… 8 de janeiro.

Qual o posicionamento do senador em relação ao novo arcabouço fiscal? Como ele se posiciona acerca da reforma tributária, que está aí batendo à porta e que pode trazer perdas bilionárias para o Espírito Santo? E o imbróglio da concessão da BR-101? O que Do Val tem feito para ajudar a encontrar uma solução? E quanto à duplicação da BR-262? E para ajudar a promover o desenvolvimento regional? Para melhorar a saúde pública, a rede de atendimento no SUS? Para combater a fome e a miséria, a má distribuição de renda? Para elevar a qualidade da educação oferecida no país em todos os níveis de ensino? Por moradia popular, saneamento, reforma agrária, por melhorias na vida e no trabalho do homem do campo?

Alguém aí viu, desde o início do ano, o senador liderar alguma iniciativa, ou fazer uma live que fosse, sobre alguma dessas pautas? Como está o envolvimento dele nas ações prioritárias coordenadas pela bancada capixaba no Congresso? Tem ele desenvolvido alguma ação integrada com outros congressistas do Espírito Santo ou, mesmo entre os colegas de bancada, atua cada vez mais como um lobo solitário entocado em suas redes sociais ora suspensas?

Nos últimos meses, suas postagens eram, basicamente, MI dos Atos Golpistas, Flávio Dino, MI, “URGENTE: vou renunciar, não vou mais”, MI, “Bolsonaro me coagiu para dar um golpe, só que não”, MI, Flávio Dino, MI, “olha eu pisando no Lula”, MI, “tenho documentos bombásticos”, MI, Eliziane Gama, MI, “o meu é maior que o seu”, MI, “Moraes traidor da pátria”…

A esta altura é legítimo perguntar: será só isso mesmo, até o fim? Tendo sido eleito para defender os interesses do Espírito Santo?

E não estou falando de emendas parlamentares destinadas para essa entidade ou aquele município, como aquelas do orçamento secreto que em 2022 ele itiu ter recebido por ter votado em Rodrigo Pacheco para presidente do Senado um ano antes, ou as que ele gostaria de ter mandado para aquisição de cloroquina em 2020, no ápice da pandemia. Emendas são o de menos. Estou falando de trabalho, bandeiras, engajamento real pelas causas que realmente importam.

Falando em bandeiras, a inscrição na faixa central da flâmula do Espírito Santo resume esta nossa análise. A primeira parte, o senador está praticando pouco pelo próprio estado que o elegeu; a segunda, já não inspira em ninguém.