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Coluna Vitor Vogas

Direção nacional do Podemos quer Ramalho na disputa em Vitória

Foi o que o próprio secretário ouviu, na manhã desta quarta-feira, da presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu. Coluna analisa

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Alexandre Ramalho se encontrou com Renata Abreu em Brasília (27/09/2023)

A direção nacional do Podemos quer que o secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Ramalho, seja candidato a prefeito de Vitória e o ajudará no que for necessário para viabilizar essa candidatura. Foi o que o próprio Ramalho ouviu, na manhã desta quarta-feira (27), da presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu. A informação é confirmada pela assessoria de imprensa da deputada e da Executiva Nacional da legenda.

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Filiado ao Podemos desde março de 2022, o secretário estadual de Segurança foi à capital federal nesta quarta-feira para dar uma palestra sobre as ações da pasta comandada por ele no Espírito Santo, a convite do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Aproveitou a oportunidade para se encontrar pessoalmente com a presidente nacional de seu partido, no gabinete da deputada na Câmara.

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Os dois conversaram sobre as próximas eleições municipais e sobre os planos da cúpula nacional do Podemos para Ramalho. Abreu manifestou ao secretário qual é a vontade da direção nacional: que ele concorra à prefeitura da capital espírito-santense. Se ele topar a missão, terá plenas garantias por parte da direção partidária, tanto em nível nacional como no Espírito Santo, onde o Podemos é presidido pelo deputado federal Gilson Daniel.

A primeira garantia já foi dada: em breve, Ramalho ará a dirigir o Podemos em Vitória. Em acordo já firmado com Gilson Daniel, o controle do partido na Capital será entregue ao secretário.

No momento, o Podemos não tem órgão de direção em Vitória, nem mesmo provisório – o que havia foi dissolvido por Gilson. No começo do ano que vem, deve ser constituída uma Comissão Municipal Provisória. Ramalho não deve presidi-la pessoalmente – não só por inexperiência em montagem de partidos, mas porque provavelmente ainda será o secretário estadual de Segurança, cargo que lhe demanda total atenção e concentração.

No entanto, ele terá a prerrogativa de indicar o próximo presidente municipal, que deverá ser alguém de sua inteira confiança. Na prática, com o auxílio desse dirigente escolhido a dedo pelo secretário, ele terá autonomia para conduzir os assuntos eleitorais do Podemos em Vitória e tomar as decisões em nome da sigla na Capital, incluindo a montagem da chapa do partido à Câmara Municipal e a construção de sua própria candidatura majoritária.

Isso, insisto, se ele realmente aceitar ser candidato a prefeito de Vitória. A decisão ainda não foi tomada pelo secretário. Na conversa com Renata Abreu, eles não fecharam questão.

Que Ramalho quer se candidatar nas eleições municipais do ano que vem, não cabe a menor dúvida. Suas aspirações eleitorais despontam da sua própria atuação como secretário. O coronel da reserva da PMES tem aprofundado um perfil notadamente midiático tanto nos meios de comunicação de massa como nas próprias redes sociais, diariamente alimentadas por sua assessoria.

Só tem um porém…

Como a coluna já informou aqui, o que Ramalho queria mesmo, no fundo, era ser candidato a prefeito de Vila Velha. Mas concretizar tal preferência requer uma engenharia política complexa. Para começo de conversa, o secretário precisaria sair do Podemos e se filiar a outra sigla mais à direita – justamente o contrário de ascender no comando interno, como agora se oferece a ele.

Em Vila Velha, a chapa majoritária do Podemos já tem um dono incontestável: o atual prefeito, Arnaldinho Borgo, será candidato à reeleição pelo partido.

Assim, incentivar Ramalho a concorrer em Vitória e prometer-lhe totais garantias de viabilização da candidatura não deixa de ser também, por parte dos dirigentes do Podemos, uma forma de assegurar a permanência do secretário no partido e de acomodar os interesses de alguns dos seus principais líderes no Espírito Santo. De quebra, ajuda a dirimir eventuais atritos e a concorrência interna entre eles. Fica cada um no seu quadrado.

As pretensões eleitorais de Ramalho

As pretensões eleitorais de Ramalho ficam evidentes, por exemplo, em sua presença constante na mídia, e ainda mais evidentes em sua presença cada vez mais ostensiva nas redes sociais.

A assiduidade no noticiário local é até certo ponto natural, devido à natureza de sua pasta: o secretário estadual de Segurança Pública é sempre muito demandado pela imprensa a responder sobre operações policiais e casos de grande repercussão, daí as constantes entrevistas sobre crimes, ocorrências etc.

No caso das redes sociais, o “midiatismo” é espontâneo e tem sido intensificado, com direito à publicação de algumas “superproduções” (por exemplo, o vídeo de uma prisão efetuada pela PMES, na presença do secretário, com edição cinematográfica). O seu feed não deixa dúvida de que o secretário pretende mesmo expandir o número de seguidores e se tornar mais popular junto ao eleitorado.

Tanto nas entrevistas como nos posts, o coronel da reserva da PMES mantém a coerência discursiva, na pregação infatigável do endurecimento da legislação penal contra criminosos. É o mesmo discurso com que tentou lançar-se à vaga do Espírito Santo ao Senado, também pelo Podemos, no ano ado (acabou concorrendo a deputado federal, ficando como 1º suplente do Podemos-ES na Câmara).

É um discurso que exerce forte apelo junto aos cidadãos em geral, mas, em particular, àqueles mais propensos a votar em candidatos de direita – ainda mais em Vitória, afligida nos últimos tempos com cenas de confronto a céu aberto entre criminosos e agentes de segurança ou entre facções inimigas de criminosos.

A perspectiva do Palácio Anchieta

Se efetivamente entrar na disputa à Prefeitura de Vitória, Ramalho tende a fracionar ainda mais uma eleição que, todo mundo aposta, será bastante pulverizada no 1º turno e certamente decidida no 2º. Em primeira análise, o secretário tende a tirar votos principalmente dos candidatos posicionados no canto direito do espectro ideológico, como o deputado estadual Capitão Assumção (PL) e o atual prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Os dois são adversários do governo Casagrande, diferentemente de Ramalho. Por esse ponto de vista, eventual ingresso do atual secretário na corrida pode favorecer os planos do Palácio Anchieta de derrotar Pazolini na Capital.

No primeiro semestre, Ramalho chegou a ser incentivado por interlocutores de Casagrande a se lançar em Vitória, justamente a fim de cumprir tal objetivo. Um dos que o incentivaram foi o deputado estadual Tyago Hoffmann (PSB).

Ocorre que isso foi no primeiro semestre, antes de o próprio Tyago ser lançado pelo PSB, partido de Casagrande, como pré-candidato à mesma vaga. Para fazer vingar a candidatura do deputado, o PSB tentará reunir partidos aliados em sua coligação, incluindo agremiações de centro-direita, como o próprio Podemos.

Incluir o partido de Ramalho em uma coligação liderada pelo PSB de Tyago Hoffmann seria um modo de expandir o seu alcance ideológico, abrangendo da centro-esquerda à centro-direita e exercendo assim, em tese, apelo sobre uma gama mais diversificada de eleitores: aqueles tanto à esquerda como à direita, que preferem fugir da polarização ideológica e não querem nem dar nova chance a João Coser (PT) nem renovar o mandato de Pazolini, muito menos votar em Assumção.