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Entenda porque quem usa kit covid “se cura”

Chefe da UTI dos hospitais Sírio Libanês e Hospital das Clínicas (HC) da USP, Luciano Azevedo, esclarece polêmica

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Kit Covid-19. Foto: Divulgação/ Prefeitura Municipal de São José dos Quatro Marcos

Não falta quem ainda acredita que a hidroxicloroquina é cura para a covid-19 e repete que foi curado da doença por causa do medicamento. Essa afirmação é perigosa e sem embasamento científico. Como saber que essa pessoa não sobreviveria de qualquer forma sem a hidroxicloroquina? Além disso, ele foi tratado só com a hidroxicloroquina? E se não tivessem tomado nada? Como estabelecer uma correlação direta sem um estudo clínico sério?

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Na coluna Visita Médica desta quinta-feira (21), na BandNews FM Espírito Santo, o chefe da UTI dos hospitais Sírio Libanês e Hospital das Clínicas (HC) da USP, Luciano Azevedo, que é um dos responsáveis pela coalizão que comprovou a ineficácia da cloroquina, esclarece que a covid-19 é uma doença com 90% de taxa de cura espontânea. Ou seja, a doença pode se resolver sozinha, mas o mérito vai para o remédio. Apesar de não terem comprovação científica em relação ao combate ao coronavírus, o “Kit covid-19” ainda é indicado por alguns médicos.

O médico detalha que a doença pode variar bastante de paciente para paciente. A maioria dos infectados começa a produzir anticorpos contra o novo coronavírus e se cura sozinho. Em alguns casos, o processo pode levar meses. Os números da doença no mundo mostram, apesar de variações de país a país, que em média 90% dos infectados pelo coronavírus apresentam sintomas leves ou são assintomáticos. Outros 10% desenvolvem quadros mais severos da doença.

“A pessoa não foi curada pelo kit covid-19 – que inclui a hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes -, mas sim apesar dele. Ela foi curada porque 90% dos pacientes se curam sozinhos. Essa é uma doença autolimitada. Tomando ou não esses medicamentos, você sairia curado da mesma forma. Do mesmo jeito que essa pessoa se curou com o kit covid-19, eu também conheço inúmeros casos de pacientes que ficaram internados na UTI e morreram apesar disso. A intervenção médica tem que ser baseada na ciência, nos estudos que mostram se funciona ou não. Do mesmo jeito que o paciente melhora tomando o medicamento, tem outros que tomaram e tiveram arritmia cardíaca e vieram a óbito”, relata Azevedo.

No início da pandemia no país, grandes instituições como Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet) se uniram para encontrar medicamentos efetivos para tratar pacientes com a covid-19 ou refutar outros que não seriam eficazes. A maior dificuldade do estudo no início, é que a maioria dos pacientes estavam se automedicando com corticóides, o que os impediam de entrar na pesquisa, uma vez que não queriam parar com a medicação.

“Quando os estudos começaram a sair e demonstrar a ineficácia da hidroxicloroquina e azitromicina para o tratamento da covid-19, não faz mais sentido, do ponto de vista prático, você continuar prescrevendo essas medicações. A autonomia médica é um termo válido, mas até um certo ponto. A autonomia médica não pressupõe que o médico possa prescrever o que a na cabeça dele para tratar um paciente. Tem que ser respaldado por alguma evidência ou por alguma literatura ou ciência. Se não eu vou começar a tratar o paciente com urinoterapia porque eu acho que funciona. A autonomia médica no sentido mais amplo da palavra, mas na prática não funciona assim. Tem que ter algum embasamento científico para essa autonomia médica. Algum embasamento científico tem que haver, se não você começa a ter mais prejuízos dessas medicações ineficazes do que benefícios”, garante.