Política
Celso de Mello abre inquérito contra Weintraub por racismo contra chineses
A decisão atende a um pedido feito pelo vice-procurador-geral da República. Segundo a denúncia, o ministro teria veiculado manifestação depreciativa ao povo chinês
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, determinou na noite desta terça-feira, 28, a abertura de inquérito contra o ministro da educação Abraham Weintraub para apurar suposta prática de racismo envolvendo publicação em que insinuou que a China vai sair “fortalecida da crise causada pelo coronavírus, apoiada por seus ‘aliados no Brasil'”. A decisão atende a um pedido feito pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros.
“Quem são os aliados no Brasil do plano infalível do Cebolinha (personagem criado por Maurício de Sousa) para dominar o mundo?”, escreveu Weintraub na postagem que em seguida apagou. Na publicação, o ministro usa uma imagem dos personagens da Turma da Mônica ambientada na Muralha da China e, substituindo a letra “r” pela letra “l”, faz referência ao modo de falar de Cebolinha, para insinuar que se trata dos chineses.
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No pedido enviado ao Supremo, Medeiros afirmou que as peças de informação revelam que o “Ministro de Estado da Educação, Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, teria veiculado e posteriormente apagado manifestação depreciativa, com a utilização de elementos alusivos à procedência do povo chinês, no perfil que mantém na rede social Twitter”.
A PGR pediu diligências como a preservação e a posterior obtenção dos dados referentes ao o que possibilitaram a prática supostamente delituosa, abrangendo, entre outros itens, os registros (‘logs’) relacionados ao o do responsável pela postagem, bem como o e-mail usado por ocasião da criação do perfil @AbrahamWeint.
Na decisão desta terça, Celso de Mello determinou à PF que conclua as diligências em até 90 dias, em razão da pandemia do novo coronavírus. O ministro determinou ainda que Weintraub seja inquirido “independentemente de prévio ajuste quanto ao dia, hora e local para a realização de referido ato”, prerrogativa conferida à vítimas e testemunhas.
O decano ainda afastou o sigilo dos autos. “Os estatutos do Poder, numa República fundada em bases democráticas, não podem privilegiar o mistério. A prática estatal, inclusive quando efetivada pelo Poder Judiciário, há de expressar-se em regime de plena visibilidade. Consequente afastamento, no caso, do segredo de justiça”.
Repúdio
Após a manifestação de Weintraub, a Embaixada da China no Brasil repudiou sua publicação. “Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”, diz a nota divulgada no Twitter da Embaixada. O comunicado afirma ainda que “o lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude”.
Estadão Conteúdo
