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Presidente da Comissão Europeia vira alvo após polêmica para entrega de vacinas

Para impedir que vacinas produzidas na União Europeia fossem enviadas para o Reino Unido, Ursula acionou protocolo irlandês que fecharia a fronteira entre os países

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No papel, Ursula von der Leyen é a única qualificada para liderar a União Europeia durante a crise do novo coronavírus. Médica com mestrado em saúde pública, a presidente da Comissão Europeia tem o apoio da Alemanha, seu país de origem, bem como da França, uma combinação poderosa que a colocou na alardeada função há menos de dois anos.

Mas a maneira como ela lidou com uma crise crescente de escassez no fornecimento de vacinas para a União Europeia, que culminou em uma grande gafe que ameaçou as relações delicadas com o Reino Unido, abalou sua imagem entre burocratas – pessoas de quem ela depende.

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Após um início turbulento na resposta à pandemia do novo coronavírus, von der Leyen garantiu uma grande vitória em junho, colocando a Comissão Europeia no centro das decisões da União Europeia sobre a pandemia. Ela foi incumbida de fechar acordos com empresas farmacêuticas para fornecer vacinas para 450 milhões de pessoas que vivem no bloco.

Apesar do atraso em relação aos EUA e à Grã-Bretanha e o processo de autorização demorado, a União Europeia lançou a campanha de vacinação logo após o Natal.

Uma sensação de alívio tomou conta de Bruxelas: o trabalho da comissão, o braço executivo da União Europeia, estava concluído. Agora, os Estados-membro estavam encarregados de realmente colocar as vacinas nos braços de seus próprios cidadãos.

Mas, apenas um mês depois do lançamento da vacina, a Pfizer e a AstraZeneca informaram à comissão que não entregariam as doses prometidas principalmente por causa de problemas de produção.

Embora o problema com a Pfizer parecesse limitado e istrável, a situação com a AstraZeneca rapidamente se transformou em uma guerra total de vacinas entre a União Europeia e a Grã-Bretanha. Descobriu-se que a empresa vinha entregando vacinas sem problemas à Grã-Bretanha, ao mesmo tempo em que informou ao bloco que reduziria 75% dos volumes de entrega prometidos para o primeiro trimestre, atrasando o planejamento de imunização nos 27 estados membros.

No final da semana, a comissão lançou uma política exigindo autorização prévia para exportação de vacinas fabricadas na União Europeia, de forma que pudesse verificar se empresas como Pfizer e AstraZeneca não estavam enviando as vacinas prometidas ao exterior.

A mudança foi recebida com pânico e incredulidade. Os críticos acusaram a União Europeia, que ou anos criticando o governo Trump por erguer barreiras comerciais, de fazer o mesmo. E os apoiadores do Brexit encontraram munição nova contra o bloco, acusando-o de tentar tirar vacinas dos britânicos, cujo país está ando por uma segunda onda catastrófica e finalmente estava fazendo um bom trabalho de imunização.

A ideia protecionista foi de von der Leyen e seu círculo íntimo, vários funcionários disseram. Seis dessas autoridades, que falaram sob condição de anonimato porque não queriam criticar publicamente a presidente da comissão, disseram que ela confiou exclusivamente, por seu hábito, em um subgrupo extremamente pequeno de conselheiros, excluindo das deliberações não apenas especialistas, mas até mesmo alguns de seus membros seniores de gabinete.

E quando se tratou de apresentar a política ao público, von der Leyen enviou Stella Kyriakides, comissária de saúde, e Valdis Dombrovskis, vice-presidente da comissão que lida com várias questões econômicas, incluindo comércio.

Na sexta-feira à noite, quando o texto legal da política montada às pressas foi publicado, repórteres notaram que ela fez provisões para a União Europeia ativar uma cláusula com a Grã-Bretanha, conhecida como Artigo 16 do Protocolo da Irlanda do Norte, que praticamente reinstitui uma fronteira dura na ilha da Irlanda, um dos pontos mais difíceis que o bloco teve de superar com o Reino Unido para aprovação do Brexit.

A ideia era que a cláusula fecharia uma brecha para o Reino Unido retirar as vacinas compradas pela UE do bloco usando a falta de fronteiras entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte. A reação à medida, no entanto, foi rápida e furiosa. Na madrugada de sábado, 30, após várias ligações tensas, incluindo do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, Von der Leyen fez um recuo embaraçoso, revertendo a invocação do Artigo 16.

Mas na segunda-feira, conforme o episódio fechava o círculo, um porta-voz de von der Leyen apontou o dedo para Dombrovskis, o vice-presidente da comissão de comércio, pela gafe. “O que posso dizer é que há um gabinete que liderou sobre isso, que é o vice-presidente executivo Valdis Dombrovskis porque ele é responsável pelo comércio”, disse o porta-voz da comissão, Eric Mamer, quando questionado sobre como von der Leyen lidou com a questão.

von der Leyen concordou em comparecer apenas perante grupos de membros do Parlamento em sessões a portas fechadas, uma decisão que foi criticada por parlamentares.

Estadão Conteúdo