Diversão
Estreia websérie capixaba que mistura riso com os traumas da pandemia
A websérie Xexa & Loloca em: O Pã da Pandemia, da Árvore Casa das Artes, faz rir, mas aprofunda as discussões sobre a pandemia e suas consequências

Frame O Pã da Pandemia. Foto: Fabio Martins
É possível rir diante de uma pandemia tão grave como a da covid-19? Esse é o maior desafio do coletivo cultural Árvore Casa das Artes com a web série “Xexa & Loloca em: O Pã da Pandemia”. Utilizando da linguagem da palhaçaria clássica, Vanessa Darmani e Wyller Villaças, o casal criador do coletivo, externou suas angústias, tristezas e, claro, momentos engraçados sob a pele dos personagens Xexa & Loloca na websérie que estreia no próximo domingo, às 20h, como os episódios seguintes – cinco, no total – estreando nas terças e quintas das semanas seguintes, sempre no canal do YouTube da Árvore Casa das Artes.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Da descoberta da pandemia por meio das notícias, à luta para ir comprar papel higiênico no auge das restrições da pandemia, a websérie aborda também as consequências do isolamento, a luta pelas vacinas (as filmagens foram encerradas no auge das suspeitas de propina que atrasaram a vacinação no país, em meados de julho e agosto), fundamentalmente, o amor, a empatia e a solidariedade nesses momentos difíceis. Mas sempre em tom de comédia.
“O momento de pandemia nos paralisou por um período, o vírus nos impediu a convivência social. Nossa produção artística, vida, tudo ficou suspenso. Nosso meio de sustento e geração de renda ficou inviabilizado diante desse problema de saúde mundial. Foi duro. Medo de não saber o que esperar, medo da morte, medo de perder parentes. Uma explosão de sentimentos, não bons, e que só pioraram com a atual conjuntura política que estamos vivenciando”, explica Vanessa Darmani.
O coletivo foi bastante ativo na campanha pela aprovação da Lei Emergencial Aldir Blanc, que permitiu que milhares de artistas do país pudessem inscrever seus projetos no momento de paralisação total de atividades em 2020. “Nesse contexto veio a luta pela aprovação da Lei Aldir Blanc e sua aprovação depois de muito esforço conjunto e uma mobilização nacional de artistas trabalhadores da arte. E da Lei Aldir Blanc surgiram os editais, entre eles o de Cultura Digital, da Secretaria de Cultura do Estado do ES”, explica Wyller, cujo projeto foi aprovado na categoria “Cultura Digital”.
O segmento audiovisual, aliás, foi a saída para a cultura em geral, gerando um boom de transmissões ao vivo – as ‘lives”- e fazendo com que os grupos de teatro em particular buscassem sua reinvenção na ferramenta do vídeo num momento de total paralisação de atividades presenciais. “A pandemia e o isolamento social não nos deram outra opção que não a de se lançar no audiovisual, por uma necessidade e urgência. Foi por essa via que conseguimos manter minimamente a nossa renda, participando de festivais do ES e de outros estados brasileiros. Mesmo sem o domínio e sem as ferramentas necessárias para produção em audiovisual, nós nos lançamos com celular, nossa única ferramenta disponível”, explica Vanessa Darmani.
“Foi aí que quebramos uma resistência quanto a fazer um trabalho que é presencial e que depende do público ao vivo, para se permitir experimentar uma outra linguagem que é a do vídeo. Dentro desse contexto descobrimos o edital de Cultura Digital (Lei Aldir Blanc) e resolvemos apostar nessa linguagem”, destaca Vanessa. “A Vanessa teve uma ideia de uma história que retratava a pandemia a partir da ótica dos palhaços, começou a estudar como produzir roteiro, e outros elementos necessários para elaboração de um projeto de audiovisual. Assim surgiu a proposta do projeto da Websérie de palhaços, que para nossa surpresa e alegria foi aprovada e agora vai se tornar nossa primeira produção de audiovisual”, completa Wyller Villaças.
Auxílio de um profissional de Psicologia no roteiro
Mas como fazer rir diante da pior pandemia da história? “Que desafio este tema!”, exclama Vanessa. “Quando buscamos uma assessoria com um profissional da psicologia – o Dr. Rogério Camargo – , estávamos sim muito preocupados em não realizar um trabalho que ofendesse a dignidade dos mais de 600 mil brasileiros que perderam suas vidas na pandemia, nem o sofrimento de suas famílias. Mas nós também, dentro de nossa humanidade, estávamos ando pelas mesmas emoções que a maioria das pessoas do mundo inteiro aram e que muitos ainda estão ando. Nós ficamos em pânico!”, detalha Vanessa, que incorpora a personagem Xexa “E foi na primeira conversa com o psicólogo que este nos contou sobre o mito do Deus Pã, que carregava em si todas as doenças e feiuras do mundo, e mesmo assim conseguiu fazer uma flauta e tocar mundo a fora, acho que queremos um pouco isto, apesar de carregar todas as dores, tocar a flauta com esta Websérie”, completa.
Tal pesquisa resultou até no psicólogo Rogério Camargo entrando na websérie, literalmente! “Por isto que fizemos essa brincadeira usando o título do nosso trabalho. O Rogério (psicólogo) nos acompanhou em todo o trabalho dando assessoria e até se tornou ator da websérie, fazendo um personagem dele mesmo,o psicólogo. Ele continua com a gente, porque afinal quem não está precisando de terapia nestes tempos… “, diz Vanessa.
A linguagem
Atuar sob a pele de um palhaço vai muito além do que o senso comum determina, pois se trata de uma arte milenar e com forte embasamento teórico, algo que o coletivo Árvore Casa das Artes preza por completo em seu trabalho, não sendo diferente em “O Pã da Pandemia”. “Nossa trajetória como artistas cênicos sempre esteve marcada pela comicidade. Já montamos espetáculos de palhaço, trabalhamos com teatro de rua faz muitos anos, mas foi a partir de muitos encontros com mestres da palhaçaria de todo o Brasil que fomos aprofundando a linguagem da palhaçaria e, hoje discutir questões tão sérias como as que estamos vivendo nestes últimos tempos a partir de nossos palhaços tem nos dado uma leveza”, explica Wyller Villaças, que incorpora o personagem Loloca na web série.
“E essa leveza tem nos salvado…”, afirma Wyller. “O palhaço é um ser em plenitude, nos ensina com as derrotas, e nos mostrar que não somos perfeitos, nos lembra que também somos frágeis, e ao fazer isso diz de nossa incompletude, de nossa humanidade. É esse paradoxo, que nos humaniza. É a incompletude que nos completa como seres humanos, que somos fortes e frágeis, bonitos e feitos, perfeitos e imperfeitos, corajosos e medrosos. O palhaço é isso! Ele é o ser humano colocado na sua condição mais humana! E isso faz dele um ser que se conecta com muita potência por meio do riso com o público de qualquer idade e em qualquer lugar, inclusive no circo”, explica Wyller. “E essa é nossa aposta, trabalhar a linguagem da palhaçada com tudo que ela representa nessa janela de comunicação que é tela do audiovisual”, completa.
A mensagem por meio do riso
De acordo com os criadores de “O Pã da Pandemia”, são várias as mensagens que a websérie busca ar às pessoas. “Acreditamos que não exista só uma mensagem. São várias, e em camadas, que estão escancaradas ou não. O riso por si só já é uma consequência de uma mensagem, as pessoas riem porque se identificam com uma realidade ou identificam alguém, o riso sempre leva e traz alguma mensagem”, afirma Vanessa Darmani. “Mas, com certeza, desejamos fazer as pessoas rirem, estamos precisando rir! Porque o riso cura! O riso salva! E sobretudo o riso é um direito da humanidade! Nosso foco principal é o riso e a reflexão que ele pro, mas a série de certa forma traz no seu cerne uma relato documental desse momento atual que todos nós estamos inseridos e vivendo como artistas e seres humanos”, completa.
Novas temporadas?
A linguagem abordada pela websérie permite que qualque tema do momento seja encenado. Podemos, portanto, contar com novas temporadas de “Xexa & Loloca”? Com a palavra, Wyller Villaças: “Temos muito desejo de continuar desenvolvendo outras temporadas, discutindo outras questões a partir de outros episódios. Com o edital, compramos alguns equipamentos que darão um certo apoio para o trabalho. Além da websérie temos uma outra ação chamada “jornalhaço” que já está no ar e também foi criada na pandemia, acreditamos que assuntos não irão faltar!”, finaliza Loloca, ops, Wyller Villaças.
Estreia e demais datas:
Onde: YouTube Árvore Casa das Artes
Quando:
Estreia – 17/10 – 20h
Episódio 2 – 19/10 – 19h
Episódio 3 – 21/10 – 19h
Episódio 4 – 26/10 – 19h
Episódio 5 – 28/10 – 19h
