Dia a dia
Por que os ciclistas sofrem tantos riscos nas ruas
Cicloativistas e especialistas em mobilidade urbana explicam as razões de tantos acidentes

Ciclista dive a pista com carros na avenida Carlos Lindernberg, em Vila Velha. Fotos: Chico Guedes
De janeiro a maio deste ano, 273 acidentes com ciclistas foram registrados no estado, segundo dados do Detran-ES (Departamento Estadual de Trânsito), com base nas ocorrências do Corpo de Bombeiros. Além da imprudência de motoristas, o que mais explica tantos casos? Para cicloativistas e pesquisadores em mobilidade urbana, o fato de as cidades não estarem preparadas para as bicicletas e priorizarem os automóveis, a alta velocidade das vias dentro das cidades, as falhas na sinalização e a pouca fiscalização são alguns fatores.
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Na manhã do último sábado, cinco ciclistas foram atropelados por um veículo na Rodovia do Sol, na altura do bairro Interlagos, em Vila Velha. O cozinheiro Rawlinson Carlos Soares, 21 anos, que dirigia o Renault Logan apresentava sinais de embriaguez. Ele foi autuado em flagrante, mas pagou fiança de R$ 10 mil e foi liberado.
Segundo o advogado Tiago Figueira Ramos, Rawlinson perdeu o controle do carro porque a amiga teria se assustado e puxado o volante. Sobre o fato do motorista não ter realizado o teste do bafômetro, Ramos informou que o cliente exerceu um direito constitucional
Entre as vítimas está a empresária Marília Barbosa, 50, que sofreu ferimentos graves. Ela teve fraturas no corpo, ou por uma cirurgia na face e ontem recebeu alta da UTI, mas segue internada em um hospital de Vila Velha.
Entre 2015 e 2017, 48 pessoas morreram em acidentes envolvendo ciclistas, segundo o Detran, e 2.579 ficaram feridas. Ao todo, ocorreram 3.166 acidentes no período.

Na rodovia Norte-Sul, ciclistas e carros dividem o mesmo espaço. Convivência, nem sempre harmônica, pode ser um risco para quem pedala. Foto: Chico Guedes
Deslocamento
O coordenador da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) Flávio Soares explica que as cidades deveriam ser pensadas para o deslocamento de todas as pessoas e priorizar, nessa ordem, pedestres, ciclistas e usuários de transporte público. “O que temos hoje é a prioridade para os automóveis. Em um sistema seguro, a cidade deve ser planejada para que as consequências de eventuais erros no trânsito sejam cada vez menores, principalmente para os mais expostos, que são pedestres e ciclistas”, diz.
Ele defende, por exemplo, a redução da velocidade máxima nas vias dentro dos municípios e a ampliação de ciclovias e ciclofaixas onde o compartilhamento da pista não é possível ou é arriscado.
Vias compartilhadas
O cicloativista Fernando Braga também aponta que o risco de acidentes normalmente é maior quando há a “mistura” de via compartilhada com alta velocidade. “É o caso da Rodovia do Sol. O ciclista pedala em um local onde os veículos transitam em alta velocidade, sem segregação do espaço”, explica.
Para ele, também faltam campanhas educativas que promovam o respeito aos ciclistas e melhorias na sinalização. “É comum a sinalização alertar o ciclista para os cuidados nas ruas, mas não alertar os outros usuários sobre a presença do ciclista. Há placas, por exemplo, orientando o ciclista a respeitar ponto de ônibus, sendo que o ônibus é que deve preservar a vida do ciclista. O que um ciclista pode fazer contra um ônibus?”, questiona.
O coordenador de projetos da Aliança Bike e pesquisador em mobilidade urbana, Daniel Guth, alerta para a necessidade de mais fiscalização.
“A redução da fiscalização dá a sensação, ao longo do tempo, de que o motorista pode fazer o que quiser. Ainda que se tenha uma infraestrutura impecável, tem que haver fiscalização”, diz.
Protesto
Ciclistas da Grande Vitória planejam realizar um protesto neste sábado, a partir das 6h, com saída da praça do Ciclista, em Vila Velha. O grupo quer chamar a atenção das autoridades a respeito do atropelamento do último sábado e deve pedalar até o local do acidente.
- Ciclovia na Jerônimo Monteiro, em Vila Velha. Foto: Chico Guedes
- Placa adverte o ciclista, não o motorista, alertam especialistas. Foto: Divulgação
O que diz a legislação
Vias compartilhadas
– Onde não há espaço específico, como ciclovias ou ciclofaixas, o ciclista deve andar pela rua, e não na calçada, a menos que a calçada permita o compartilhamento com o pedestre.
– Onde há ciclovia, o ciclista deve utilizá-la.
– O ciclista deve andar no mesmo sentido dos demais veículos e nunca na contramão.
– Deve também ocupar um lugar na via que garanta maior visibilidade para o motorista.
– Ao cruzar a faixa de pedestre, deve descer da bicicleta e empurrá-la.
– Se vai virar à esquerda ou à direita, deve sinalizar usando gestos.
Distância
– Ao ultraar ou ar por bicicletas, os veículos devem manter uma distância de pelo menos 1,5 metro da bicicleta.
– Se não houver essa possibilidade, deve seguir atrás do ciclista, garantindo a sua segurança.
– Ultraar o ciclista sem reduzir a velocidade também é proibido.
Equipamentos
– Alguns itens de segurança ao ciclista são obrigatórios. Entre eles, estão: sinalizações noturnas refletivas (nas partes dianteira, traseira e lateral da bicicleta e nos pedais), campainha ou buzina e espelho retrovisor (pelo menos do lado esquerdo).
– Outros itens opcionais que aumentam a segurança são: capacete, colete refletivo, para-lama e luzes refletivos adicionais, que podem ser instalados na bicicleta, na mochila e no capacete.
