Dia a dia
Para pesquisadores, volta às aulas deveria começar pelo ensino infantil
Estudo, que teve a participação do epidemiologista Wanderson de Oliveira, que atuava no Ministério da Saúde no início da pandemia, avaliou como foi o retorno às aulas em vários países
Uma pesquisa realizada por epidemiologistas e médicos da USP avaliou o impacto da covid-19 em crianças e avaliou o risco da reabertura das escolas, analisando o que já foi feito até agora em outros países. Além de apontar que a covid-19 é menos agressiva em crianças, o estudo apresenta evidências de que elas contribuem pouco para a cadeia de transmissão. A conclusão é baseada em avaliação sobre o comportamento da pandemia nos lugares já a volta às aulas já ocorreu. Onde as crianças voltaram a estudar também não houve impacto negativo sobre a curva de óbitos, exceto pela primeira tentativa de retorno em Israel e na África do Sul.
O estudo apresenta ainda os riscos à saúde das crianças proporcionados pelo fechamento das escolas: elas ficam sujeitas ao surgimento ou agravamento de ansiedade e depressão. Outros riscos são o aumento das taxas de gravidez infantil, dos abusos e maus tratos e uso de drogas e violência. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostram que 30% das crianças em quarentena desenvolvem Transtorno de Estresse Pós-Traumático e 83% das crianças com relatam piora de sintomas psiquiátricos durante a quarentena nos EUA.
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Wanderson Oliveira é um dos coordenadores do estudo. Foto: José Dias/PR
Para os pesquisadores, casos internacionais de sucesso têm como ponto comum a reabertura precoce das escolas, com prioridade de retorno para crianças menores e adoção de medidas de controle. Em pelo menos oito países, como Dinamarca, França, Bélgica e Reino Unido, crianças entre 10-15 anos voltaram primeiro às aulas. Nesse grupo, o tempo maior de fechamento das escolas aconteceu no Reino Unido: 70 dias. “As crianças menores foram priorizadas na maior parte dos casos pelo menor risco (menor gravidade e infectividade da doença) e maior benefício (menos recursos para ensino a distância nessa faixa etária e maior demanda de cuidados pelos pais)”, diz o estudo.
As medidas adotadas nos países analisados são semelhantes ao que se planeja para o retorno às atividades escolares no Brasil, com a redução de alunos por sala, escalonamento de horários, distanciamento de mais de 1 metro na sala de aula, rotina para lavagem de mãos e triagem de sintomas, assim como isolamento dos sintomáticos.
Em defesa do retorno das aulas, a pesquisa diz que as crianças apresentam susceptibilidade significativamente menor à infecção pelo coronavírus do que os adultos, e representam uma fração mínima dos casos. A justificativa tem como base o fato de nos Estados Unidos as crianças representarem 22% da população, mas apenas 7,3% dos casos, apesar da menor adesão às medidas de proteção. Aponta ainda que a taxa de ataque da covid-19 nas crianças é até 5,5 vezes menor do que nos adultos, fenômeno que poderia ser explicado por uma menor expressão em crianças de uma enzima que facilita a infecção pelo vírus.
A respeito da transmissão da doença por parte das crianças, eles apresentam estudos que criaram preocupações sobre a transmissão por crianças, mas dizem que ambos apresentam limitações. “Outros sugerem que as crianças têm papel limitado na transmissão, o que reduz significativamente o impacto do fechamento das escolas na doença”, diz o trabalho.
Questionada sobre os impactos na saúde dos alunos, a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou que tem disponibilizado ações da Ação Psicossocial e Orientação Interativa Escolar (Apoie), por meio de acompanhamento junto às escolas de eventuais situações que precisem da orientação da equipe nesse sentido. O Apoie tem promovido ações com objetivo de promover a interação entre os alunos, como o “Card da Saudade”. A ideia foi conhecer os sentimentos e pensamentos dos alunos da Rede Estadual nesse momento da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). Eles podiam criar cards relatando os seus sentimentos e o que mais sentem falta da escola. O material foi compartilhado entre os alunos em um no padlet do Apoie. Sobre o estudo, não respondeu.
