Dia a dia
Medo da covid-19 afasta pacientes de consultas, exames e cirurgias eletivas no ES
Nos três últimos meses a Rede Meridional no Espírito Santo apresentou uma queda de 65% em consultas médicas

Medir pressão. Foto: Pixabay
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Enquanto os casos confirmados e mortes causas pela covid-19 não param de crescer, clínicas e hospitais particulares enfrentam um paradoxo no Espírito Santo: o medo das pessoas de buscar assistência tem provocado redução no atendimento médico. Nos três últimos meses, a Rede Meridional apresentou uma queda de 65% em consultas médicas que poderiam proporcionar o diagnóstico precoce de doenças crônicas.
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Segundo o diretor de operações da Rede Meridional, Márcio Augusto Pitta Machado, historicamente o grupo realiza 40 mil consultas por mês. Durante a pandemia, esse número caiu para 15 mil. As cirurgias eletivas também foram impactadas. A redução foi de 40%, caindo de 3,2 mil para 2 mil por mês. Atendimentos em pronto-socorro apresentaram uma queda de 20%.
“As pessoas não deixaram de ficar doentes. Elas deixaram de buscar atendimento. Isso faz com que a pessoa não seja diagnosticada na fase precoce da doença e isso pode impactar no desfecho. Ela pode sentir uma dor torácica. Não procura ajuda por receio de contrair a covid-19. E a dor pode ser sinal de um infarto no miocárdio”, alertou Márcio Augusto.
Para o presidente da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), Leonardo Lessa, esse cenário tende a fazer com que as filas para tratamentos de doenças crônicas e cirurgias consideradas eletivas, que atualmente já são grandes, poderão ser ainda maior após a pandemia.
“A telemedicina tem sido uma ferramenta importante, mas tem as suas limitações, uma vez que não está totalmente implantada. Pacientes que serão consultados pela primeira vez com o médico podem encontrar uma dificuldade, uma vez que falta o contato e a relação de médico e paciente ainda não foi formada. Está mais indicada para casos de pacientes já conhecidos, que já fazem um acompanhamento”, ressalta Lessa.
Na visão do presidente da Ames, os pacientes devem buscar atendimento e dar continuidade aos tratamentos. É importante ter precaução, como usar máscara, ter todos os cuidados com as mãos, olhos e bocas. Caso contrário, a mortalidade por outras doenças pode aumentar muito.
Consulta médica em clínica particular
Com as consultas eletivas suspensas desde o dia 16 de março, o Centro Oftalmológico Avançado, na Enseada do Suá, em Vitória, encontrou na telemedicina uma forma de acompanhar os pacientes durante o período da pandemia do novo coronavírus. Por meio de um aplicativo, o paciente fazia uma chamada de vídeo com o oftalmologista e recebia, via whatsapp ou e-mail, a receita com o QRCode, aceito pelas farmácias.
O oftalmologista Marcelo Dall Col comenta que mesmo após a adesão à telemedicina, em 22 de abril, notou uma redução de 60% no número de pacientes atendidos. Os atendimentos online continuam, principalmente, para pacientes do interior. O médico explica que a telemedicina funciona como um canal de triagem e de orientação. Na consulta online ele pode identificar, por exemplo, um possível quadro de glaucoma agudo, caso que exige cirurgia ou pode levar até à cegueira.
“Estamos funcionando com um protocolo rigoroso. Os pacientes são orientados a não irem com acompanhantes, em caso de necessidade, há um espaço reservado. O horário entre as consultas estão mais espaçosos. Só pode entrar na clínica com máscara. Na porta tem um pano embebido com hipoclorito para limpar os pés. Álcool em gel disponível em diversos pontos da clínica. Também há uma barreira de acrílico para evitar o contato dos funcionários com os pacientes”, detalhou Dall Col.
Oncologia
Desde o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. Outros milhares de pacientes, já com o tumor detectado, tiveram os tratamentos suspensos. Só em abril, cerca de 70% das cirurgias de câncer foram adiadas.
As estimativas são das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica e refletem dois fenômenos: os cancelamentos de procedimentos não urgentes, como exames, consultas e cirurgias; e a recusa de pacientes com outras doenças ou sintomas em procurar um hospital ou clínica por medo de pegarem o coronavírus.
Números levantados pela Sociedade Brasileira de Patologia com alguns serviços de referência do país mostram a queda expressiva no número de biópsias realizadas. Desde meados de março até maio, foram 5.940 exames do tipo realizados na rede pública de São Paulo, ante 22.680 biópsias no mesmo período do ano ado.
