Dia a dia
Fim de ano pode ter escassez de algumas carnes, diz empresário
Afirmação é do empresário do setor Octaciano Neto, ex-secretário de Agricultura do estado. Em entrevista, ele explica sobre a alta do preço da carne e detalha quais fatores contribuíram para este cenário

Segundo Octaciano Neto, a variação do preço da carne pode se estabilizar, mas não deve cair. Foto: Chico Guedes
O aumento do preço da carne bovina chegou a 60% nos últimos meses, mas, para os consumidores, essa variação vai começar a ser sentida mais fortemente nas próximas semanas, quando o ree deve chegar às prateleiras dos supermercados. Entre os motivos para essa alta estão a peste suína ocorrida na China, a alta do dólar e o aumento da demanda por parte dos consumidores no Brasil, principalmente devido às festas de final de ano. É o que explica o empresário do setor de carne bovina Octaciano Neto, que também é ex-secretário de Agricultura do estado. Para Octaciano, a variação deve se estabilizar, mas o preço da carne não deve cair.
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O que tem provocado o aumento do preço da carne?
Temos um conjunto de fatores que explica essa subida de 60% no quilo da carne nos últimos 40, 60 dias. Primeiro, temos o fator China. Houve um problema com a proteína animal na China. A peste suína fez com que se dizimasse metade do plantel suíno de lá. E a população chinesa tem consumido mais proteína, o que fez com que se buscasse no mundo inteiro proteína animal de bovino. O segundo fator é a questão da alta do dólar, que incentiva o exportador a colocar o produto fora do Brasil. E nós estamos no final do ano, que é quando o consumo de carne aumenta, não só aqui, mas no mundo todo. Para completar esse cenário, estamos também no final da entressafra do bovino. Na maior parte do Centro-Sul brasileiro estamos no final do período da seca, quando se produz menos capim e o produtor tira o gado do campo e leva para o confinamento. Então, isso diminuiu a oferta. Resumindo, temos diminuição da oferta, dólar alto e ampliação do consumo tanto no Brasil quanto no exterior, destacadamente na China.
Esse percentual de 60% se reflete em todas as carnes?
É na carne bovina, mas ela é sempre um balizador de preço. Quando ela puxa o preço, as outras proteínas também começam a subir, porque aumenta a demanda por elas. Em geral, subiu também o valor de todos os cortes bovinos. No início do ano, tínhamos a arroba do boi a R$ 145, mas já existem negócios no estado sendo fechados com mais de R$ 200 a arroba. Isso faz com que o frigorífico ree o valor para o consumidor final em todos os cortes, porque ele não consegue ficar com esses cortes muito tempo estocados e tem que fazer o giro rápido.
Para os empresários, está havendo dificuldade para comprar a carne nos frigoríficos?
Há uma escassez, sim. A oferta de boi tanto no Espírito Santo como no Brasil diminuiu, tanto por estarmos no período de entressafra quanto porque o produtor “segura” um pouco mais para ver para onde vai o valor da arroba. Já tivemos dia em que o valor subiu R$ 5, R$ 10 em um só dia, como na época da hiperinflação, duas décadas atrás. Acredito que nessas festas de final de ano vamos ter escassez de alguns produtos. Com o preço subindo desse jeito, muita gente vai substituir a carne do churrasco de fim de semana por carne de suíno e de frango.
Depois dessa fase, o preço vai voltar ao normal?
Acho muito difícil. Estamos próximos de estancar essa oscilação, na minha opinião. Mas acho muito difícil voltar a patamares anteriores. A China paga no lagarto US$ 7 enquanto, no Brasil, o frigorífico vendia para o supermercado a R$ 14,50. Hoje, o supermercado já compra o quilo do lagarto por mais de R$ 20. Ou seja, está se aproximando do preço que se paga na China. Além disso, é mais barato levar a carne por transporte marítimo para a China do que levar de Vitória para Colatina, por exemplo.
E como está a disputa com as carnes que vem da Argentina, Estados Unidos e Japão?
O único país onde a carne ainda não subiu foi a Argentina. Em curto prazo, por isso, ela vai ter mais entrada, porque está mais competitiva.
O reajuste para o consumidor já chega a 60%?
Ainda não. O supermercado compra carne programada. Então, a carne que chegou na semana ada foi comprada há duas, três semanas atrás. Por isso, o consumidor ainda não percebeu o aumento. Existe o reajuste que o produtor já sentiu, mas que o consumidor final ainda vai perceber.
