Dia a dia
Especialista em transtornos infantis fala sobre a depressão em crianças e adolescentes
“O bullying é capaz de provocar depressão severa”, afirma o psiquiatra Antônio Nunes Faria

Presidente da Apes (Associação Psiquiátrica do Espírito Santo), Antônio Nunes Faria. Foto: Unimed/Divulgação
Apesar da pouca idade, crianças e adolescentes vivem um turbilhão de emoções. No entanto, calam-se e aceitam os sentimentos de tristeza, medo e solidão com naturalidade, não sabendo que esses sintomas podem ser resultado de uma doença: a depressão. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), elas fazem parte dos 11 milhões de brasileiros que convivem com a doença. O presidente da Apes (Associação Psiquiátrica do Espírito Santo), Antônio Nunes Faria, esclarece ao Metro Jornal alguns pontos sobre o tema, com o objetivo de promover a campanha de valorização da vida, o ‘Setembro Amarelo’.
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Quais sintomas uma criança em quadro depressivo apresenta?
Choro fácil e sem motivo aparente, isolamento, dores no corpo, falta ou excesso de apetite, alterações no sono, agitação, além de dificuldade de concentração, inexpressividade e irritabilidade.
A depressão infantil é diferente da depressão na adolescência?
Primeiro, é preciso diferenciar o que é interferência hormonal e o que é depressão. Por causa dos hormônios, o adolescente possui variações de pensamentos e humor, que a criança ainda não tem. Mas a sintomatologia é bem semelhante: apatia, aumento ou diminuição do sono, perda de interesse em atividades que antes praticava. Muitas vezes é bom pedir ajuda a um endocrinologista.
Quais fatores aumentam o risco desse quadro?
Basicamente são problemas familiares ou escolares. Por exemplo: os adolescentes sentem os problemas conjugais e financeiros dos pais ou responsáveis, só que não podem fazer nada. Isso acarreta um sentimento de impotência e isolamento.
Filhos de pais depressivos são mais propensos a apresentar o problema?
Se ambos os pais têm histórico, a criança corre maior risco. Nas terapias, investigamos se há casos na família, detectamos quem é o parente, qual a intensidade. Mas é bom frisar que, se a criança tem propensão, vai desenvolver a doença com ou sem histórico na família.
As redes sociais são uma porta de entrada para o transtorno?
O o exagerado à internet prejudica, sem dúvida. Depois de um tempo, a criança não consegue criar vínculos presenciais, pois só se comunica em rede. Se a criança ou o adolescente já tiver predisposição à ansiedade e outras doenças, as redes sociais atuam como fator estressante.
E o bullying?
Pode ser ainda pior. O bullying é capaz de provocar, inclusive, depressão severa. As crianças e os adolescentes não comunicam que estão sofrendo. Durante o período que ficam sem comunicar o que há de errado, o quadro é agravado.
Como os pais podem ajudar?
O primeiro procedimento é a avaliação clínica de um pediatra. Caso a criança já esteja com prejuízo funcional, é preciso procurar o psiquiatra. Antes dessas consultas, porém, é muito importante comunicar-se com elas, fazer com que se abram e falem mais sobre o que estão vivendo emocionalmente. Também deve haver uma observação intensa do pai, da mãe ou do responsável.
Antes da medicação, é possível o uso de métodos naturais no tratamento?
Costumo recomendar que elas façam atividade física. Aliás, dois esportes muito aconselhados são o judô e a natação. Só que muitos pais não conseguem colocar a criança nos esportes e algumas não gostam. Se não houver esse tratamento e se o prejuízo funcional já for existente, esse é momento em que precisamos entrar com medicação.
Quais os serviços gratuitos que os pais podem procurar?
Em nível ambulatorial, na Grande Vitória, existe o Capsi (Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil). Em Vila Velha, abriram internações para adolescentes no Himaba (Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves). Outro importante apoio é o serviço do CVV (Centro de Valorização da Vida), no telefone 188.
