Dia a dia
Covid-19: novas práticas médicas reduzem risco de morte no ES
Avanço no tratamento dos pacientes tem contribuído para a queda da taxa de mortalidade de pacientes graves de covid-19 internados em UTIs

Respiradores. Foto: Shutterstock
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Embora ainda existam muitas dúvidas sobre o coronavírus, um conjunto de aprendizados de várias áreas da saúde, desenvolvido ao longo dos últimos meses, conforme os pacientes iam sendo atendidos, conseguiu reduzir o número de mortes causadas pela covid-19. Essa evolução aconteceu com o aprimoramento de práticas médicas adotadas dentro dos hospitais, como a mudança de posição dos pacientes para melhorar oxigenação, o uso de novos remédios para combater efeitos da doença, como a dexametasona, e novas maneiras de garantir a ventilação para o paciente.
Médicos que trabalham no enfrentamento da covid-19 dizem que o avanço em relação ao tratamento tem contribuído para a queda da taxa de mortalidade de pacientes graves de covid-19 internados em UTIs. Entender a complexidade da covid-19, em vez de pensar no vírus como sendo exclusivamente um causador de pneumonia, foi um o importante para compreender outras áreas que devem ser foco de atenção e de tratamento, se necessário, como possíveis problemas cardíacos e renais causados pela doença.
Ventilação não invasiva
Médico intensivista e também professor universitário, Adenilton Rampinelli relata que muitas práticas médicas foram revistas, como a entubação precoce. No início da pandemia, os primeiros protocolos orientavam entubar precocemente os doentes graves que apresentassem queda da taxa de oxigenação. Mas os médicos foram ganhando segurança para adotar a ventilação não invasiva, que se mostrou mais eficaz para muitos casos.
“Nos primeiros meses seguimos protocolos de outros países. Então, pacientes que chegavam com quadro de dispnéia [dificuldade para respirara], mais cansados e com saturação de oxigêniomais baixa, eram ligados ao respirador. Vimos que muitos pacientes evoluíram mal. Hoje já usamos outras estratégias, como fisioterapia, ventilação não invasiva e oxigenoterapia. Com isso conseguimos postergar essa entubação, tendo um desfecho melhor dos casos”, detalhou o Rampinelli.
A posição em que o paciente é virado com o abdôme para baixo, para melhorar a oxigenação pulmonar (chamada de prona), teve o uso ampliado. Antes realizada apenas com o paciente sedado sob ventilação mecânica, hoje também é feita com ele consciente, evitando a entubação em muitos casos.
Medicamentos
Evidências clínicas da covid-19 revelaram a formação de trombos (coágulos capazes de obstruir a circulação do sangue) em pacientes com ou sem histórico de doenças vasculares. Não somente os pulmões são acometidos pela trombose, mas médicos têm identificado a presença de coágulos em várias partes do corpo com o novo coronavírus. Com isso, eles aram a adotar no protocolo de tratamento o uso da heparina (anticoagulante) e a procurar precocemente os sinais da trombose.
O médico intensivista ressalta também o uso do corticoide dexametasona, que reduz a mortalidade de pacientes de covid-19 com necessidade de uso da ventilação mecânica.
Em junho, pesquisadores da Universidade Oxford, no Reino Unido, anunciaram o resultado de um estudo que mostrou que foram reduzidas em um terço as taxas de mortalidade dos pacientes graves, submetidos à ventilação mecânica, que tomaram o medicamento. A mortalidade dos que não estavam em respiradores, mas recebiam oxigênio suplementar, foi reduzida em um quinto. E não houve benefícios para pacientes que não precisavam de ajuda para respirar.
Experiência da equipe
Novas pesquisas sobre o tratamento do coronavírus continuam sendo divulgadas todos os dias, com novas possibilidades. E, embora haja diretrizes para o tratamento da doença, os médicos têm autonomia para indicar o procedimento adequado ao paciente. O que o médico não pode é, segundo o Código de Ética Médica, “deixar de usar todos os meios disponíveis de promoção de saúde e de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente”.
A quantidade e da qualidade dos profissionais de saúde são fatores essencial no combate à covid-19. “O que aconteceu de março pra cá é que houve uma melhoria da qualidade. É a famosa curva de aprendizado. Após ter tratado muito mais de 400 pacientes com o novo coronavírus, isso me deu experiência para saber como cuidar de cada caso. Consequentemente, a equipe está mais treinada, então a chance de ter uma intercorrência é muito menor”, explicou Rampinelli.
Segundo o médico intensivista, no início do surto as UTIs estavam lotadas, o que dificultava o atendimento médico. “Quem pega o covid-19 hoje, mesmo que de forma grave, tem muito mais chance de se recuperar do que há cinco meses atrás. Faltava medicamento, os médicos não tinham experiência, a equipe estava assustada por ser uma doença nova, não parava de chegar pacientes nas UTIs e não tínhamos a experiência para lidar com aquele paciente”.
Para o médico intensivista, o doente de hoje, mesmo que com 75% de acometimento do pulmão, tem muito mais chance de ter a vida salva, se comparado com o paciente que chegava com o mesmo quadro há quatro meses atrás.
