Cult
MC capixaba faz sucesso no YouTube com versos de hip-hop
Em menos de uma semana, Cesar Resende Lemos já alcançou mais de 4 milhões de visualizações na plataforma

Em menos de uma semana, clipe do rapper capixaba Cesar MC já alcançou 4 milhões de visualizações no YouTube. Foto: Chico Guedes
Os versos de Cesar Resende Lemos, 22, ou Cesar MC, emplacaram o hip-hop no país inteiro. Em meio a mensagens de afeto e denúncia, o capixaba lançou o clipe “Canção Infantil”, na última quinta-feira (27). Já com 4 milhões de visualizações no Youtube, ele apresenta histórias baseadas em contos de fadas, mas que denunciam a crueldade do mundo real.
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Sob a direção de Guilherme Brehm e do próprio MC, o clipe foi gravado no Palácio Sônia Cabral, em Vitória, com as crianças da Serenata Canto Coral e com a participação da cantora Cristal. O rapper conversou com o Metro Jornal sobre a composição da música, um pouco das bandeiras que levanta no seu trabalho e os próximos planos para a carreira. Confira!
Quando você começou a escrever poesia?
Escrevo desde pequeno, mas sempre foi um momento íntimo – construía poesia e rimas improvisadas o dia inteiro, usando como desabafo. Não mostrava a ninguém. Anos depois, no final de 2014, eu vi pela primeira vez uma batalha de MC’s, na praça Costa Pereira, em Vitória. Quando vi aquela galera batalhando, foi o ponto de partida. Desde então, nunca mais parei de me envolver e mergulhar no mundo das batalhas… Até que fui para o Duelo Nacional de MC’s, em 2017. Depois que ganhei a competição, comecei a me envolver com a sonoridade das letras.
A letra é forte e bem construída… como foi a composição de “Canção Infantil”?
Compus ela há bastante tempo, quando estava no meu terraço com uma caneta e Deus. Foi no momento em que refletia sobre o contraste entre a infância e o amadurecimento neste mundo de crueldades. Por exemplo, ao mesmo tempo em que a criança vê Rapunzel e Pinóquio, assiste ao jornal e vê notícias chocantes. Essa música é sobre sofrimento, porém de uma forma mais profunda, com causa, consequência e perspectivas do que acredito ser a solução. Os contos infantis foram uma forma de ilustrar essas três ideias sob os olhos das crianças.
Nas primeiras vezes em que você a apresentou, como foi a recepção?
Eram muitas vozes representadas na letra. Todas elas sentiram muito forte, então entendi que precisava gritar mais alto. Daí surgiu a ideia de fazer uma música. Quis que a melodia não tirasse o sentimento do que a poesia crua já fazia, portanto ei por um processo muito trabalhoso, para conseguir fazer com que a letra gritasse tanto na música quanto à capela. Por isso que fiz alterações, acrescentei dados, harmonizei, mas tudo focado no equilíbrio com uma musicalidade que conseguisse potencializar a mensagem.
Falando em alterações, na primeira versão de “Canção Infantil”, a letra não citava o músico Evaldo Rosa, morto com 80 tiros neste ano, no Rio De Janeiro. Agora, além dele, há várias outras referências. Qual a importância de incorporar esses fatos à letra?
Quando eu estava finalizando a composição em 2015, havia acontecido o episódio dos cinco meninos em Costa Barra (RJ). Todos foram mortos. Coincidentemente, anos depois, enquanto finalizava a música, aconteceu o episódio do pai de família que levou os 80 tiros. Aconteceu de uma forma muito triste, como se aquele quadro antigo continuasse aumentando e se repetindo. Foi mais um motivo para que insistisse na crueza da letra, pois eu tinha algo a gritar para todo mundo.
Um assunto pontuado frequentemente nas suas músicas é o racismo. Além dele, quais bandeiras podemos encontrar no seu trabalho?
Se fosse para resumir em uma palavra, a bandeira de “Canção Infantil” seria “vida”. Mas, só isso não basta. Quis uma música que batesse na tecla de todos os preconceitos, para conseguir transcender e solucionar a origem de tudo. Não é para resumir somente a uma causa. É um protesto sobre a relevância da vida, algo que tem início, meio e fim, falando sobre uma perspectiva positiva. Mesmo que seja uma letra triste, quer pregar esperança. Por cima de todas as dificuldades, ainda existe o plano de Deus, que, na minha visão, caminha para a paz e para a mudança.
Apesar do sucesso, você não abandona suas raízes. O Espírito Santo é muito presente nas letras.
Não existia a possibilidade de fazer todo meu trabalho sem um vínculo real e sentimental. Essa comunidade é a minha casa, independentemente de qualquer coisa. Quem se envolveu no clipe compartilha desse sentimento e da minha vivência… Não tinha como dar voz ao lugar de onde vim sem os incluir no meu trabalho. As pessoas do clipe são da minha comunidade, o Morro do Quadro. Não são atores. Todas aquelas crianças, de alguma forma, podem ser influenciadas pelo que produzo, então quero muito mostrar que sou exatamente igual a elas.
Como tem sido a recepção do público com o single?
Quando eu entendi que essa música era sentida pelas pessoas na mesma aflição e perspectiva de quando a fiz, fiquei em choque. Ainda estou em choque, na verdade. Agora, esse mesmo grito, escrito aqui na minha comunidade, está ecoando para o Brasil todo… Não só em números, mas as pessoas estão a absorvendo de um jeito singular.
Quais são seus próximos planos?
Durante minha trajetória, fiz alguns trabalhos colaborativos. Com “Canção Infantil”, percebi que a carreira solo dá o máximo de liberdade possível. Portanto, acredito que vou seguir esse caminho.
