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Coluna Vitor Vogas

Rigoni quer decretar fim do ciclo de Hartung e Casagrande: “Acabou”

Aos 30 anos de idade e quatro de vida pública, o linharense pretende, de fato, chegar ao Palácio Anchieta

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Se alguém achava que a pré-candidatura de Felipe Rigoni ao governo do Estado não ava de blefe ou balão de ensaio, a coletiva de imprensa dada nesta segunda-feira (14) pelo deputado federal, em Vitória, tratou de derrubar essa percepção. As declarações de Rigoni, o contexto e o cenário da entrevista não deixam espaço para a menor dúvida: a candidatura do linharense é para valer. Aos 30 anos de idade e quatro de vida pública, ele pretende, de fato, chegar ao Palácio Anchieta. E está se preparando muito seriamente para isso, o que significa reunir as condições técnicas e políticas para dar sustentação a uma campanha que, na prática, já começou. O seu ato inaugural foi a coletiva desta segunda-feira.

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Em primeiro lugar, temos a motivação da entrevista: a três dias do evento de “lançamento oficial” da sua pré-candidatura, Rigoni confirmou publicamente que será, até o fim do ano, o presidente da comissão executiva provisória estadual do seu novo partido, o União Brasil, resultante da fusão entre DEM e PSL.

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Ex-PSB, o deputado chega ao cobiçado posto a partir de uma costura feita pessoalmente por ele com o presidente nacional do União, Luciano Bivar, em detrimento do ex-senador Ricardo Ferraço – o martelo foi batido em reunião de Rigoni com Bivar, em Brasília, na última quinta-feira (10). Isso equivale a dizer que, agora, Rigoni tem “um partido para chamar de seu”, democraticamente, no Espírito Santo.

Como número 1 na cadeia de comando da sigla no Estado, o deputado terá plena autonomia e carta branca da direção nacional para montar as chapas proporcionais do partido (candidatos a deputado federal e estadual) e, o que é mais importante, a chapa majoritária (governador, vice e senador). Tem, assim, caminho livre para levar adiante o seu “projeto” – palavra incansavelmente repetida por ele –, ou seja, construir nos próximos meses a sua candidatura ao governo do Estado, contra Renato Casagrande e quem for preciso enfrentar, à frente da chapa do União Brasil.

Em segundo lugar, Rigoni entra nessa campanha (ou, vá lá, “pré-campanha”) com o discurso de candidato ao governo na ponta da língua. E, vejam bem, não é qualquer discurso. Pode soar, talvez, pretensioso; pode soar, talvez, ambicioso; mas a palavra certa, creio, é audacioso. Ao apresentar o seu projeto de candidatura, com direito a um manifesto por escrito, Rigoni literalmente decretou o fim do ciclo político que marcou a política capixaba nas últimas duas décadas: o ciclo de alternância no poder entre Paulo Hartung (sem partido) e Renato Casagrande (PSB). Só isso.

Segundo ele, isso acaba neste ano. Ou seja, nada de mais quatro anos para Casagrande no poder.

“Eu não estou na oposição ao atual governo. O que acredito é que este ciclo, por melhor que tenha sido, acabou. Precisamos montar um projeto para o próximo ciclo e, naturalmente, ter as lideranças que vão tocar esse próximo ciclo e executar esse projeto. Não temos oposição a Paulo Hartung nem a Casagrande. Eles são figuras muito importantes nesse ciclo que, na minha opinião, acaba neste ano.”

Mas não parou aí.

O deputado também se apresentou, basicamente, como o potencial líder, ou condutor, desse novo ciclo postulado por ele para o Estado, a ser iniciado justamente sob a sua istração em 2023 (em caso de vitória nas urnas). “Sou pré-candidato para montar esse projeto e iniciar esse novo ciclo, com um novo grupo e novas ideias para o nosso Estado.” Você não leu errado. Como eu disse: para quem achava que era blefe…

O deputado chega, enfim, para esse páreo com um discurso de renovação política de derrubar da cadeira, ao mesmo tempo, Hartung e Casagrande; discurso de quem almeja justamente sentar-se, já no próximo mês de janeiro, na cadeira em que ambos se revezaram nos últimos 20 anos.

O deputado, é bom que se diga, não deixa de reconhecer os méritos da dupla de arqui-inimigos políticos ao longo deste quinto de século, mas entende que o “ciclo” se esgotou e que é preciso ir além. “Em resumo, nesse ciclo, Paulo e Renato colocaram o Estado nos trilhos. Agora precisamos colocá-lo na pista de decolagem. Em resumo, é isso o que a gente quer fazer”, metaforizou Rigoni, que também está se mostrando um bom frasista.

Em terceiro lugar, um detalhe que, embora menor, não pode ser desprezado. Ao contrário, chamou atenção de toda a imprensa presente: o entorno de Rigoni na coletiva, ou melhor, os assessores e estrategistas posicionados em torno dele já nesta fase preliminar da campanha. Seu staff inclui o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas e o experiente cientista político João Gualberto Vasconcellos, secretário estadual de Cultura no último governo de Hartung.

Luiz Paulo está coordenando – segundo ele mesmo, “coletivamente” – a formulação do plano de governo de Rigoni, enquanto o renomado cientista político está ajudando o pré-candidato a definir suas estratégias e seu conteúdo de campanha, a partir da realização de pesquisas qualitativas, mar em que Gualberto já nadou bastante. A participação de ambos na preparação da campanha já era comentada nos bastidores, mas agora foi externalizada.

A experiência e as credenciais dos consultores de quem Rigoni se cercou são as provas definitivas de que o muito jovem deputado não está para brincadeira. Mais ainda porque unidas a uma comunicação de campanha “jovem”, muito focada em ferramentas digitais e no largo uso das redes sociais – por sinal, um dos segredos do surpreendente sucesso eleitoral de um até então bem pouco conhecido Rigoni em sua eleição à Câmara em 2018.

A política, a economia, a história humana, as eras climáticas… Tudo neste mundo, de fato, é cíclico. A trajetória de Rigoni não foge à regra. Perdendo ou ganhando a eleição ao Palácio Anchieta, ele parece ter inaugurado um novo ciclo pessoal, como homem público, nesta segunda-feira. Suas falas não dão ensejo a resquício de sombra de dúvida de que ele estará nesse páreo.

Resta saber se o deputado terá alguma chance de vencer pesos pesados da política local. E, é claro, se eventual vitória sua representará, de fato, esse tão ousado anúncio de inauguração de um novo ciclo na história política do Estado.

Não é uma promessa pequena.


Alfinetada de Casagrande

Nesta segunda (14), a coluna publicou uma alfinetada de Casagrande. Indagado sobre possível deslealdade do deputado por estar se lançando agora ao governo (contra ele) após ter sido ajudado por ele a se tornar deputado em 2018, o governador afirmou que Rigoni precisa dar essa resposta e que “o conceito de lealdade tem diversas amplitudes para algumas pessoas”.

Resposta de Rigoni

O deputado foi questionado sobre a fala do governador. “Não acho que ele [Casagrande] esteja sendo extremo ou nada disso. O que acho é que nosso projeto não tem a ver com lealdade. Tem a ver com a construção de um novo projeto para o Espírito Santo, que pode inclusive ser discutido com figuras que estão no ciclo anterior.”

Irreversível

Segundo Rigoni, sua candidatura ao governo é irreversível. “Só trabalho com plano A. A minha candidatura vai montar esse projeto e discutir esse projeto na campanha a governador.”

Condição para se filiar

Rigoni disse que aceitou o convite para se filiar ao União Brasil sob a condição de receber o sinal verde para construir seu projeto de candidatura ao governo. Mas sua entrada, afirma, não foi de modo algum condicionada a ocupar a presidência do partido no Espírito Santo. “O Ricardo [Ferraço], naturalmente, seria o presidente estadual.” Algo deu errado então…

O atrito com Ricardo

Rigoni dá sua versão. Segundo ele, Ricardo ficou insatisfeito, em fevereiro, com o caminho que estava tomando a montagem das chapas de deputados. Nada a ver, segundo o deputado, com possível preferência de Ricardo por compor com o grupo de Casagrande, em vez de lançar a candidatura própria de Rigoni ao Palácio Anchieta (contra o atual governador). “Ricardo colocou que, se eu continuasse com o projeto de candidatura ao governo, nós teríamos dificuldade de montar a chapa de deputados. E eu não acredito nisso. Tanto é que estou montando a chapa.”

O atrito com Ferraço 2

Seja qual for o pomo da discórdia, tanto Ricardo como seu pai, o deputado estadual Theodorico Ferraço, podem deixar o União Brasil nos próximos dias, afastados de Rigoni. Este contou que vai conversar pessoalmente com os dois ainda nesta semana e que vai trabalhar para que os Ferraço permaneçam com ele no partido. “Teve diálogo, não teve briga… Ricardo teve alguns descontentamentos com o projeto. E a gente mostrou para a direção nacional que havia duas visões diferentes sobre o projeto. E a nacional decidiu que eu continuaria tocando esse projeto.”

Relação com PH e Casagrande

O deputado negou ter sido incentivado por Hartung para lançar essa candidatura e definiu assim sua atual relação com Casagrande: “Não sou adversário nem aliado político do Renato neste momento. Quanto ao ex-governador Paulo Hartung, tem uns seis meses que não converso com ele, então não: ele não teve parte nesta minha decisão, muito pelo contrário. Se ele teve parte foi em outras candidaturas, não na minha”.

“Não é sobre figuras”

O pré-candidato remontou a 20 anos atrás, início do atual ciclo político que para ele estaria agonizante, com a chegada de Hartung ao poder: “Lá em 2002, quando a gente saiu daquele ciclo terrível em que a gente vivia, a gente sabia exatamente o que precisava fazer. Agora a gente não sabe. É preciso construir esse projeto e discuti-lo nas eleições. Não é sobre figuras. É sobre projetos.”

O desafio prioritário

Segundo Rigoni, embora também concentrado na construção da própria candidatura ao governo, sua prioridade no momento é a montagem das chapas de candidatos a deputado estadual e federal pela União Brasil, até em razão do ponto do calendário eleitoral em que estamos: quem quer ser candidato a qualquer cargo em outubro tem que estar filiado, até 2 de abril, ao partido pelo qual vai disputar. Além disso, com a janela partidária, encerrada na mesma data, deputados que estão encerrando o mandato poderão trocar de sigla sem perder o mandato. Depois disso, já era… Com o fim das coligações nas eleições para deputados, esse prazo define quase toda a montagem das chapas proporcionais de cada partido.

Prova de fogo

A amarração dessas chapas será a prova de fogo para Rigoni com relação à sua habilidade política. Ou a falta dela.

Chama Chitão e Xororó

Na coletiva desta segunda, Rigoni enfatizou uma frase repetida por ele praticamente como um mantra desde que se elegeu deputado federal há quase quatro anos: “Fazer políticas públicas baseadas em evidências”.

Luiz Paulo: de Serra a Rigoni

No background da coletiva de Rigoni, Luiz Paulo lembrou que volta a exercer o papel de coordenador do plano de governo de um candidato ao Executivo depois de 20 anos. A última tinha sido na campanha do ex-senador José Serra (PSDB) à Presidência da República, em 2002, quando ele, também tucano e então prefeito de Vitória, tirou uma licença de três meses do cargo para se dedicar à campanha de Serra.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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